segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A vida inteira


Vem, que eu quero te mostrar a minha janela, onde eu me deito embaixo e sinto os pingos d'água quando chove. No rosto. Arrepio. Pele com frio. Quero a tua mão e te conduzir ao meu quintal. Quero sentir o meu novo eu ao teu lado. Veja minha cortina com rosas brancas de seda. Passe o rosto nelas, é como nuvem. Por que demora? Há tempos que eu te espero mesmo sem saber. Quero apenas que você chegue. Chegue cheirando a cerveja, eu finjo não sentir. Você tem meia hora. Definitivamente, você tem meia hora. Não. Não, você tem mais sim. Tem a vida inteira. Eu fecho os olhos, levanto a cabeça e deslizo meu rosto pelas rosas-brancas-de-seda-da-minha-cortina e parece que eu estou no céu. Chegue mesmo de mau humor, eu finjo não ligar. A vida inteira. Me sento debaixo do pé de laranjeira com meu vestido florido e meu chapéu noir. Lembra? Tudo bem noir. Você gosta? Chegue. Essa noite não passa, parece que se pôs na janela e ri de mim. Me deito por entre o verde e sinto seu cheiro. Meu coração dispara, mas eu o ponho rédeas e o faço trotar normalmente. Feito um cavalo manso. São só as rosas da cortina, elas cheiram a você. Nuvens. Céu. Eu tenho o total controle sobre mim. Como se assim fosse. Quero ouvir o rangir do teu sapato estampado pisando nas pedras até chegar a porta. Cante um samba, dance uma ciranda e vista pedrarias. Eu visto saudade. Passou um vento na minha roseira da cortina. A cama se encheu de flor. Chegue. Chegue, pois tudo que eu faço agora é te chamar. Nada mais sou do que te chamar. A vida inteira.

Larissa Fontes

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sobre uma rua e uma música que não pára


Cheiro de planta, madeira e asfalto. Perdendendo a razão. Peixe no aquário. Prendendo a respiração. Morfeu. Sozinho num apartamento. Uma música vinda de um lugar que não conheço. Sair correndo pela porta que poderia ser de vidro. Pingos a bater no rosto, o vento a machucar a pele. Mas não. Ainda parado, deitado como quem não aguenta mais. Está agora andando por uma rua feita de pedras. "Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar...". A música ainda toca repetidamente e ainda não conheço de onde vem. Só existem pessoas nessa rua. Elas vêm e vão e passam por mim, todas a pé. É noite. A noite existe e acontece. Não, não existe. A rua agora me parece pequena. ".. com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar." Vou tricotanto sorrisos para dar de presente. Coração. Um amor. O apartamento de novo. Sozinho. Já não se sente nada. Morfina. Vem morar comigo? Nada mais faz sentido. E essa música que não pára! "Fechei os olhos, chamei saudade, olhei pra dentro, veio você.*"

Larissa Fontes



Ao som de 'Hercílio Luz*' e 'Pavão Macaco' do Wado.
Pra mim são extremamente inspiradoras.