tag:blogger.com,1999:blog-17280977365296292132024-02-19T08:24:45.463-08:00Do lado de dentro"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo. Repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante (...) Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder." Caio F. AbreuLarissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.comBlogger190125tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-56945308424584175762013-02-16T14:26:00.002-08:002013-03-31T20:20:07.943-07:00A noite em que Vinícius veio visitá-la<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ele começou a sussurrar em sua voz embriagada:</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">"E é doce naufragar neste mar..."</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Era somente pra ela que falava.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Era somente ela que ouvia.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A lua branca a vestia </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">e eram dele - e não dela -</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">os lentos dedos loucos que passeavam em seu corpo </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">a buscá-la a si.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A face, olhos fechados,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">não era triste</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">era contentamento </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">por estar ali.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ele a tinha em garras.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">(Ela se tinha em garras).</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">"E ouço no tato</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Acelerar-se-me o sangue</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Na arritmia que faz meu corpo vil</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Querer teu corpo moço</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E te amo, e te amo, e te amo..."</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E no toque exato</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">mulher, expandiu-se </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">e foi Atlântida! </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No silencio</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">foi oceano!</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Estremeceu sem dizer nada,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">se teve enfim</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">e deu-se, indissolúvel, aquele de voz molhada.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">"E depois de muito mar, </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E muito amor,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Emergindo de ti...</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ah, que silêncio pousa,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ah, que tristeza cai..."</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E emergindo de si, </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">um pranto profundo feito seus rios</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">a tomou feito vômito</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">E chorou choro de êxtase,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">de amor por ele,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">que veio visitá-la. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">P.s.: os trechos entre aspas são do poema "O Mergulhador", dele, Vinícius de Moraes.</span>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-76082904393154272682013-01-16T20:27:00.000-08:002013-01-16T20:28:31.914-08:00Toda: não"Você é a pessoa mais doida que eu conheço".<br />
Se faz de mergulhador<br />
e dá de ir cada vez mais fundo<br />
no rio dourado. É profundo,<br />
mas não tem medo<br />
e mesmo sem tubo de oxigênio<br />
cada vez mais nada, nada, nada.<br />
E não. Nada.<br />
"É pra se ter medo mesmo".<br />
Não conto, mas você sabe.<br />
Sente e<br />
nunca mente.<br />
Eu minto<br />
- pra mim -<br />
e você não acredita.<br />
Muita ousadia<br />
conhecer o outro mais do que ele mesmo.<br />
Um "eu quero você" e eu corro<br />
de desejo<br />
Um "eu vou gritar" e eu morro<br />
de medo.<br />
O livro da morte<br />
incita e obriga que eu viva<br />
que esteja ao seu lado e nada diga.<br />
E eu toda:<br />
não.<br />
<br />Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-12530171305168486202011-10-03T17:49:00.000-07:002011-10-03T18:12:51.029-07:00O Senhor das palavras*<div style="text-align: center;"><i><span class="Apple-style-span">Bebendo prosas, versos e rimas do anjo demoníaco que é o mutável Marcos de Farias Costa</span></i></div><div><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjF8ikuvxS6s0PIbDhb0cTPrgr8iXvSA0NSq8jtkGj5twpIXEHZY1k1Fn7wnKyy_3rvxtE2AwZ2D1AMj_JD15Mie-nomz2GmV3A9uqKo03NainUg6Fbr0Uds5vDlho7jFaOP6wnIIhYRhY/s1600/Marcos+de+Farias+Costa.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 250px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjF8ikuvxS6s0PIbDhb0cTPrgr8iXvSA0NSq8jtkGj5twpIXEHZY1k1Fn7wnKyy_3rvxtE2AwZ2D1AMj_JD15Mie-nomz2GmV3A9uqKo03NainUg6Fbr0Uds5vDlho7jFaOP6wnIIhYRhY/s400/Marcos+de+Farias+Costa.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5659434862487227090" /></a><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span class="Apple-style-span"></span></p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span class="Apple-style-span"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">“<i>O poema é a soma/ da imagem como som./ A metáfora assoma/ quando o poeta tem o dom</i>”, diz em um poema cujo nome se funde com o seu próprio: <i>Poemarcos</i>. E não poderia ser diferente, já que parece mesmo falar de si. O elegante livreiro, poeta, escritor, compositor (e boêmio de carteirinha!), Marcos de Farias Costa, está sempre disposto a bater um bom papo e não há assunto que dispense. Coisa boa é adentrar pelas portas da Livraria/Sebo Dialética, na Rua do Uruguai em Jaraguá, com bastante tempo para usufruir horas em sua companhia.<o:p></o:p></span></span></p><span class="Apple-style-span"> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">E foi assim a entrevista ao O JORNAL: uma conversa gostosa em meio ao cheiro bom dos livros.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Há seis anos surgiu a Dialética: “Eu já tinha o imóvel e pensei muito entre fazer um bar ou um cassino, mas terminei optando pela livraria”, e brinca: “O que eu considero uma traição!”. Começou com um acervo de apenas mil obras, depois adquiriu a biblioteca com oito mil livros de um advogado falecido. Hoje, também vende livros novos e compra antigos por preço justo. Tem um departamento de livros raros e primeiras edições: “Muita gente coleciona bebidas, carros, mulheres. Mas poucos colecionam livros”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Formado em Psicologia, nunca exerceu a profissão por não se sentir vocacionado e foi bancário por muito tempo. “Minha formação mental mesmo foi na Praça Deodoro. Lá conheci poetas, gente de teatro, etc. Foi onde conheci Jorge Cooper, que me abriu os olhos para a literatura, eu que já tinha uma influência de casa, um grande respeito pelos livros”, lembra.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">“Quando o conheci foi aquela epifania. Nunca vi um homem tão culto, sensível e agradável”, descrição que cai como uma luva no próprio Marcos. “Nos parecíamos naturalmente: éramos da noite, bebíamos muito, fumávamos, mas minha poesia não tem nada a ver com a dele”, fala com orgulho e saudade visível do homem que foi seu grande amigo e espécie de guru na concepção de vida.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">“Eu morava perto da rua do hospital (hoje Barão de Maceió, a rua da Santa Casa), então, sempre fui da boemia. Vivia muito nos bares e cabarés da vida. Foi uma formação boêmia, etílica e cultural, que além da Praça Deodoro, foi no Jaraguá”. Como exímio boêmio que é, confessa, divertido: “Passei 10 anos de porre. Dos 30 ao 40 anos, eu passei bêbado. Foi o auge!”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">“Minha história com a música é fácil de falar. Ia muito à rádio Difusora e também a rua do hospital era repleta de músicos. Além disso, todos lá em casa gostavam de música, mas meu irmão (o psiquiatra e também poeta e compositor Marcondes Costa) é quem mais se sobressaiu, inclusive tendo uma música gravada pelo Luiz Gonzaga. Comecei a compor nos anos 70 e continuo compondo até hoje”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Editou por cinco anos a revista Dialética, que se dedicava à tradução de poemas, ensaísmo crítico e literatura comparada. Nos anos 80 apresentou o programa de rádio “Canto da Terra” na antiga rádio Difusora, que apresentava somente artistas alagoanos. Ficou à frente do jornal Fonfon, sobre música popular, e escreveu artigos de forma independente, que publicou em diversos jornais. Artigos estes que compõem o livro À Queima Roupa, publicado em 1995.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><b><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR"><br /></span></b></p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; color: black; " >Do poema ao desaforismo</span></b><span style="font-size:10.0pt;font-family:"Verdana","sans-serif"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; color:black;mso-fareast-language:PT-BR"><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Aos 28 anos, em 1982, publicou seu primeiro livro, <i>O Amador de Sonhos</i>, no qual faz pulsar o leitor com “<i>Primeira quase uma elegia de amor metafísico</i>”. Depois anos depois, lançava sua segunda obra, Ócios do Ofício, onde o curto “<i>Jano Bifronte</i>” (<i>Quase perco a cabeça/ por aquela mulher./ As duas cabeças.</i>) rouba a atenção. Em 1988 publicou <i>Coisas & loisas</i>, que define como desaforismos. Os contos eróticos reunidos no – segundo Antônio Callado em depoimentos reunidos na orelha de <i>À Queima Roupa</i> – orgiático “<i>Per os, per anum, per vaginam</i>” foram lançados em 1991.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Depois de uma considerável pausa de sete anos na poesia, também em 1991, lançou a terceira coletânea de poemas, dessa vez, com uma maior quantidade, <i>A quadratura do círculo</i>, em que <i>“À maneira de Jorge Cooper”</i> parece confessar seu desafeto – quase medo – para com a velhice. Em 1992 e 1993 foram lançadas, respectivamente, <i>“Não tem tradução” </i>e<i> “Transmissões”</i>, antologias poéticas bilíngües.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Em 1997 publicou “<i>A comédia de Eros</i>”, em que Marcos se mostra mais afiado, erótico e ardente do que nunca. E, entre seus vinte e cinco poemas, é complicado apontar o que se destaca – “<i>Amor fati”, “Autobiografia sexual machista”, “Maceió na cama”, “Niphleseth”, “Psiu! Ela está gozando”, “No bordel da gorda Gerda”, “Meus oito ânus” e “Pirralha piranha</i>”. Em <i>Poemas Profanos</i>, o curto “<i>Aura</i>” culpa o leitor pelo encanto da poesia e ainda o presenteia com “<i>Autobiografia”, “Lilith”, “Soneto no Shopping”, “Pontos cardeais”</i> – onde se diz limitado por problemas de saúde e confidencia pensar demasiadamente na morte – e “<i>Vi Vi</i>”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">“<i>Bibliografia crítica sobre João Ribeiro</i>” foi lançado em 1998. Mais uma antologia foi lançada em 2000, intitulada <i>Doce Estilo Novo</i>, lançada em mercado nacional e onde, em nota, Gilberto Mendonça Teles frisa que o Brasil vai além do Rio e São Paulo, que “há em cada capital brasileira, hoje, alguns bons, excelentes poetas, com vários livros publicados pelas editoras locais e, por isso mesmo, desconhecidos (ou quase) da crítica, dos programas escolares e do resistente leitor de poesia” e que vem daí o sentido principal da publicação.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Atualmente, Marcos tem dois projetos prontos aguardando revisão para serem lançados no segundo semestre: um mergulho no universo lésbico, no intitulado Cantata Sáfica, somente de "poemas de mulheres para mulheres"; e uma tradução do texto “<i>A História do Soldado</i>”, do poeta suíço Ramuz. Pretende também terminar um dicionário lésbico, ainda sem data prevista.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">A riqueza de vocabulário está sempre presente em toda a sua obra. Riqueza esta que não chega nem perto do hermetismo; pelo contrário, é poesia simples, mas nunca simplória ao leitor sensível. Trechos de sua vida, memórias – sempre a boemia – e confissões podem ser achados em muitos de seus versos. Transcende o sentido de dom, ele é a poesia. Ah, quem dera essa reportagem pudesse rimar!<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">Texto e foto: Larissa Fontes<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt:auto;mso-margin-bottom-alt:auto; text-align:justify;line-height:normal"><span style="font-size:10.0pt; font-family:"Verdana","sans-serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-fareast-language:PT-BR">*Matéria publicada no impresso O Jornal, em 12 de junho de 2011, na página Universidades.<o:p></o:p></span></p></span><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-28682298211098428942011-05-09T12:34:00.000-07:002012-11-25T20:07:08.296-08:00O Poder da Cura de Nossas Rezadeiras*<span class="Apple-style-span" style="font-size: 130%;"><i>Envolto por um misticismo que atravessou os tempos, um grupo de mulheres leva consigo o poder das palavras, da fé e das ervas</i></span><br />
<div>
<span class="Apple-style-span">
</span>
<br />
<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604799091525164914" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Jou6SRi3NckMzk8-svvjp197GMrTWznA2cxoQv6Aq0h_91AJBTYmxHPApHte1KwtQb83z5_e3yBS_-VOx0AImJcbk40T55WQFxD9OZRAd_9uOXJkWd282rs6fwuw2-Uo4q14WTfaiPDt/s400/donazelina1.JPG" style="display: block; height: 267px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 400px;" /><br />
<div align="center">
<span style="font-size: 78%;">Dona Zelina com seu inseparável santinho: "a coisa mais poderosa da minha vida" (Foto por mim)</span></div>
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<span style="font-size: 78%;">
</span></div>
<div align="justify">
Muita gente tem a lembrança – distante ou não – de ter sido levado a uma curandeira um dia. A imagem é quase sempre a mesma: uma senhora simpática, misteriosa e cheia de paz. Os métodos são variados, passeiam por banhos de ervas medicinais, lambedores, garrafadas e orações com ramos de folhas. As curandeiras (ou benzedeiras ou rezadeiras, como também podem ser chamadas) surgiram nas culturas africanas e indígenas e são personagens cada vez mais raras nos dias atuais.
<br />
<br />Olhado, quebranto, espinhela caída, vento virado, fogo selvagem, ventre caído e erisipela são algumas das doenças quase folclóricas mais comuns no universo popular dessas senhoras.
<br />
<br />A antropóloga Sílvia Martins - professora PhD em antropologia e pesquisadora do laboratório de Antropologia Visual em Alagoas (Aval) do Instituto de Ciências Sociais da Ufal – realizou uma pesquisa de campo sobre o xamanismo indígena entre os Kariri-Xocó durante nove meses. A pesquisa serviu de base para o doutorado pela Universidade de Manitoba, no Canadá. Xamãs são os índios curandeiros que, como nossas rezadeiras, praticam os rituais de reza com muita frequência - inclusive para retirar mau olhado, por exemplo – tanto em indígenas como em não indígenas. Conhecimento este, que não só se relaciona com, mas é, na verdade, uma das origens da prática das benzedeiras. Em sua tese, intitulada Gender and Reproduction: Embodiment among the Kariri-Shocó of Northeast Brazil (Gênero e Reprodução: Corporalização entre os Kariri-Xocó do Nordeste do Brasil), descreve rituais e práticas de cura que comprovam como o xamanismo que praticam é um conhecimento médico que tem eficácia.
<br />
<br />Ela diz que é preciso destacar que a prática das curandeiras também se trata de um conhecimento médico: “No nosso contexto cultural, há esse reconhecimento de que o mau olhado não é curado pela medicina. Eu conheço casos onde os próprios médicos indicam que se leve o paciente a uma benzedeira”.
<br />
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<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604800111525562034" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoacoz90sEZyYLAtzYYS-o8A96qm-xRYO8QpKW5QqwJHZE-6R_yn8zbbZ3IsE7Z8oI0Z-ZeNmFIXOj2kVRdG13j6_ODkQDoaRgVvL-V6aKwU6KbcrgvmwY0cpzZHwEHQBqx_j6aviirZWj/s400/donalola.JPG" style="display: block; height: 234px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 400px;" /><br />
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 78%;">Dona Lóla na frente de seu altar, a maioria das imagens foi presente (Foto por mim</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 78%;">)</span></div>
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É como se as pessoas escolhidas pelo dom da cura se comunicassem com espíritos que seriam verdadeiros guias e que ditariam os ensinamentos, seja através de sonhos, de vozes ou visões. É um conhecimento empírico, onde o ensinamento prático não existe e não pode ser passado para ninguém. Sílvia diz ter percebido em suas pesquisas, que no xamanismo haveria uma certa expectativa de que numa mesma família, a incidência do dom se manifestar fosse maior pelo fato de elas trabalharem com espíritos específicos, como guardiões. Então, haveria uma continuidade do trabalho. O mesmo poderia acontecer com as curandeiras. A professora também aponta para a seriedade com que são feitos os rituais de rezas, onde se percebe um verdadeiro rito de saída, de realmente tirar aquele mal de dentro do doente: “Não se pode ficar na porta enquanto a benzedeira está rezando em alguém, pois se acredita que o mal vai passar por alí para ir embora, o doente abre a boca para que aquilo saia pelo ar”. Especificamente no xamanismo, acredita-se que o mal se instala nas pessoas que se encontram de “corpo aberto”, então, no ritual de reza, o corpo é fechado e protegido.</div>
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A prática das curandeiras é uma verdadeira mistura de elementos indígenas, afro-descendentes e católicos. Por exemplo, o que acontece entre os Kariri-Xocó no ritual, não é que os xamãs enviem o mal para alguém, e sim devolvem, o levam de volta para quem o emitiu. “A noção do bem e do mal é muito clara em todas essas matrizes. Foi isso que possibilitou toda essa troca, essa mistura”, conclui Silvia.
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<br /><span style="font-size: 130%; font-weight: bold;"><em><span class="Apple-style-span">A história das mulheres que tem o dom da cura</span></em> </span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: 78%;">A encantadora Dona Lila (Foto por mim)</span>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt5PdZPHoHKKGGZ_0z6WKoPkGE2PWWOUe2cqEgKxlUjhklULMupSxThcZHdDBAtMtS3wns-A0RkxYImGdEPjTd2k6G1wju5IUdV9xS-0zXlEu0XUTyNQLNoXE3ANxllQJ21XD39k3kZOZl/s1600/donalila.JPG" style="font-size: 130%;"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604803023092459394" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt5PdZPHoHKKGGZ_0z6WKoPkGE2PWWOUe2cqEgKxlUjhklULMupSxThcZHdDBAtMtS3wns-A0RkxYImGdEPjTd2k6G1wju5IUdV9xS-0zXlEu0XUTyNQLNoXE3ANxllQJ21XD39k3kZOZl/s200/donalila.JPG" style="float: left; height: 106px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 200px;" /></a><span class="Apple-style-span">Leonila Francisca, 75 anos, é a apaixonante Dona Lila. Tem olhos que sorriem e um jeito carinhoso. Natural de Matriz do Camaragibe, veio pra Maceió aos 17 anos trabalhar como doméstica. Tem um centro espírita em casa, onde realiza reuniões semanais; frequenta a igreja católica e segue os fundamentos do Candomblé, dominando, inclusive, o jogo de búzios. Quando perguntada sobre que religião segue, afinal, diz sempre sorridente: “Eu também queria saber! O que eu gosto mesmo é de ajudar os outros”.
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<br />Começou a manifestar sua mediunidade muito cedo. Com 7 anos, já recebia entidades: “Minha mãe dizia que eu era doida, porque naquela época ninguém entendia o que era aquilo”. A levaram para ver um senhor espírita, que disse que “a menina tinha um mistério”. Ficou com tanto medo, que correu para a igreja e fez tudo quanto é promessa para tentar se livrar daquilo. Pagou inúmeros juramentos, todos em vão. “Eu não queria me assumir de jeito nenhum, tinha muito medo”, admite.
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<br />Teve que se entregar depois de um sonho que teve. Sonhou com uma moça de cabelos compridos, vestida de calça jeans e camisa de manga comprida azul que chegava em sua casa para receber uma cura. No outro dia, a mulher apareceu exatamente como no sonho: “Aí não teve jeito, tive que aceitar”.
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<br />Frequentou a Federação Espírita por alguns anos e também passou um tempo no Candomblé, mas depois da morte da mãe e do pai-de-santo responsáveis pelo terreiro, não voltou mais. Prefere hoje, fazer tudo do seu jeito.
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<br />Com relação às curas, diz que as realiza há muito tempo. Desde criança, quando a mãe ou os irmãos adoeciam, ela prontamente pegava qualquer galhinho e dizia que ia curá-los. “A primeira pessoa que eu curei, foi o meu irmão. Ele comeu uma jaca mole e passou muito mal. No meio da noite, alguma coisa me tomou e fui atrás dos restos da jaca que ele tinha comido e fiz um chá. Ele tomou, vomitou todos os caroços e ficou bom. Fiz isso tudo fora de mim, eu não lembro de nada, quem contou foi minha mãe. Disse que meus lábios de repente cresceram. Era o caboclo me tomando”, conta.
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<br />Dona Lila não sabe ler, nem escrever, mas diz que o que sabe “ninguém aprende em escola, é um dom que Deus dá”. Também não cobra nada por suas bênçãos e não tem hora para receber quem precisa de ajuda: “As pessoas vem a qualquer hora, vem desesperadas e pedem pelo amor de Deus. Falou em Deus, minha filha, eu não tenho como negar”. </span></div>
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<span class="Apple-style-span"><span style="font-size: 78%;">D. Zelina com seu cachimbo (Foto por mim)</span> </span></div>
<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604803374958834754" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiaaLY30JNDeWYqwE5ER8Eo2kpn1KjjGbhfSBK3KClUvFpvP9vy8swt2bEZdNhhDX9vCcj70bGAgYJnOf69qtDA1INMJCe2hJpJngZe3zPqhQUAK7ua6SaLUMXq29od4gudQtNjbSb1Nih/s200/donazelina.JPG" style="float: right; height: 113px; margin: 0px 0px 10px 10px; width: 200px;" /><span class="Apple-style-span">Zelina Sebastiana dos Santos, 71 anos, é uma índia migrada para a cidade grande. Jeito sereno, simples e dona de uma risada sincera e gostosa. Nasceu numa aldeia em Palmeira dos Índios, só lembra que “a mãe endoideceu” e que ficou sozinha no mundo muito cedo. Chegou a trabalhar num engenho cortando cana e aos 13 anos se casou com um homem muito mais velho, que faleceu com apenas três anos de casamento. Ainda trabalhou como parteira por volta dos 18 anos e com essa idade já mostrava ter uma certa habilidade para lidar com vidas. Já nessa época, tinha receitas especiais, como um caldo feito com pimenta do reino que estimulava as contrações do parto e um curativo com panos queimados de fumo para que o umbigo do bebê caísse em três dias (curativo esse, que, segundo ela, ainda hoje é imbatível).</span><div align="justify">
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<br />“Não sei ler, não sei escrever, não sei nada. Mas sei todas as minhas orações e é o que importa”, é categórica. Por ser índia, diz que as pessoas começaram a procurá-la para curas, mas que não sabe dizer como começou a, de fato, realizá-las. Também não tem ideia de como aprendeu tudo o que sabe: “Nunca ninguém me ensinou nada, tudo chegou em mim como um dom”. Prepara garrafadas de todos os tipos e com uma quantidade enorme de ingredientes: vinho branco, raiz de caiubim, raiz de jurubeba, samba-caitá, pega-pinto, banana papagaio, rosa garrida, pra-tudo, babosa, pinhão roxo, atelã de Santa Bárbara, flor de colônia e mais ainda uma infinidade plantas de nomes populares.
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<br />Como uma boa devota do Padre Cícero, tem uma relação forte com Juazeiro do Norte, para onde viaja sempre que pode para ver seu santo padrinho e trazer o Bálsamo da Vida, um elixir que se acredita ter sido receita do próprio Padrinho Cícero e que cura tudo. Foi lá que ganhou o que, segundo ela, é a coisa mais poderosa de sua vida: uma miniatura de Santo Antônio Caminhante. O segredo é fazer um pedido e esconder a criança que ele carrega, só devolvendo-a quando obtiver o que se deseja.</span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: 78%;">Dona Lóla e suas plantas (Foto por mim)</span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLrypHbzR-T6IZtIhrYa_MJgfJLhO2RYZvLNeV6JatOAbjukUOCAgZGS_FnmlN8e9ou92w1XEIL8eK5vVcFPYP0PpkfxGcd6dT8XrVsUlUBaN5ZYk2oxbCWiuq7_RvRpQ4MTw5UsNhLATz/s1600/donalola1.jpg" style="font-size: medium;"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604803747173866066" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLrypHbzR-T6IZtIhrYa_MJgfJLhO2RYZvLNeV6JatOAbjukUOCAgZGS_FnmlN8e9ou92w1XEIL8eK5vVcFPYP0PpkfxGcd6dT8XrVsUlUBaN5ZYk2oxbCWiuq7_RvRpQ4MTw5UsNhLATz/s200/donalola1.jpg" style="float: left; height: 134px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 200px;" /></a><span class="Apple-style-span">Jacira Pereira, 75 anos, é a dona Lóla, como é conhecida. Exala sabedoria, segurança e respeito. Só veste azul e branco, as cores de Nossa Senhora. Nasceu no litoral norte de Maceió, onde vive até hoje. Desde criança, diz que gostava de aconselhar as pessoas e que sempre sentiu que era diferente. Católica fervorosa, já quis ser freira, mas acabou por se casar. É analfabeta, mas trabalhou muito tempo com artesanato, atividade com a qual conseguiu criar sozinha os sete filhos, frutos de dois casamentos: “Eu não leio, não estudei, não sei de nada. Eu só sei, é uma luz divina”.</span></div>
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<br />Neta da também curandeira, Hortência Pereira, cresceu vendo as atividades da avó, a quem tinha uma ligação forte, mas nunca quis seguir seus passos. Um dia foi acometida por uma erisipela (uma infecção de pele que invade a gordura e se instala nos vazos linfáticos) que não sarava de jeito nenhum e assim, durou muito tempo. Nas crises enfrentadas por causa da doença - talvez em um estado onírico - ouvia vozes estranhas e em meio à agonia, fez um voto de que se ficasse boa, curaria quem precisasse, sem cobrar nada por isso. Promessa esta, que é cumprida seriamente até hoje.
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<br />Dona Lóla conta que ainda lembra da primeira cura que realizou, há mais ou menos 35 anos atrás: “Uma menina chegou aqui chorando, muito atordoada, com uma dor de cabeça muito forte. Eu coloquei minhas mãos nela e rezei. Ela ficou boa e espalhou pras pessoas. Depois desse dia, muita gente começou a me procurar”.
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<br />Apesar das condições humildes, faz muita caridade e para ela chega a ser uma ofensa querer pagar pelas suas bênçãos: “Eu não cobro um centavo porque não sou eu quem cura, é Deus”, esclarece. Orações, cantos, velas, plantas, garrafadas e lambedores são seus únicos instrumentos. “Eu acendo a vela e assim, consigo saber o estado da pessoa, é o meu contato com o anjo da guarda”, explica, frisando que coisa que aceita de bom grado é doação de velas, já que as usa em excesso.
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<br />Há dois anos, sua saúde começou a pedir atenção. O ritmo de trabalho era pesado demais, as pessoas desesperadas batiam em sua porta até pela madrugada. Desde então, aconselhada por seu médico, durante quatro dias na semana, no período da tarde, distribui senhas para o atendimento, embora confesse que é impossível recusar ajuda a qualquer pessoa que a procure: “Me sinto mal em negar”.
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<br />Pessoas de diferentes classes sociais procuram ajuda na religiosidade popular das benzedeiras. A dona de casa Adjane Lima, 18 anos, diz que percebeu que sua filha de 20 dias estava bocejando demais, muito quietinha e abatida. Recebeu conselhos para levá-la até a casa de Dona Lila, que é muito conhecida no bairro do Jacintinho, onde mora. “A cura dela é de 3 dias. No primeiro, ela rezou na neném e amarrou essa fitinha vermelha no braço dela. É a segunda vez que venho e já senti melhora”, conta. A professora aposentada, Maria das Graças Carvalho, 60 anos, conta que cresceu ouvindo que existem pessoas que tem energia negativa que até sem querer, podem lhe fazer mal: “Já aconteceu comigo de, em um ambiente de trabalho, eu começar a murchar mesmo, como uma planta. Passei mal e depois me levaram numa benzedeira. Ela me abraçou, me recebeu com muita alegria e rezou em mim. Melhorei muito e depois disso, cansei de levar meus filhos pra ela tirar mau olhado. É o poder da fé”.</span>
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<span style="font-size: 130%; font-weight: bold;"><em>Olhado, espinhela caída e os males que são curados pela fé, nunca nas farmácias</em></span>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: 130%; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604799295904253346" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ6KBElRYBpP_TLpZot_y8HKBDuXiukgLYN7lfaPtfawliIUsGUsB1x2otUV6mFbo3_yV7twtMExzSWG-MNzh091BGk8cXbYOFxtQSElyzst3CXQv3Gf8UOS6XbKG3h5uqLx5On6rY0M4S/s400/donalila1.JPG" style="display: block; height: 266px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 400px;" /></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 78%;"><div style="text-align: center;">
Dona Lila no momento em que rezava um bebê (Foto por mim)</div>
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<span class="Apple-style-span">Mau olhado (ou quebranto) é a doença causada pela energia negativa do olhar de pessoas invejosas ou maldosas. Muitas vezes não é intencional, mas sua força pode esmorecer o alvejado, causando sintomas de depressão, como angústia, pessimismo, nervosismo exagerado e até insônia. Sabe-se que foi atingido quando de repente começa a espirrar e bocejar sem parar.
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<br />Espinhela caída é o nome popular de uma doença chamada Lumbago. Causa dor na boca do estômago, costas e pernas e cansaço físico anormal. Espinhela é um osso pequeno que fica no meio do peito, entre o coração e o estomago que pode envergar para dentro. A benzedeira tira a medida do dedo mínimo ao cotovelo e depois, de um ombro a outro, se as medidas não coincidirem, é detectada a doença. Segundo a crença, médicos não conseguem identificar.
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<br />Vento (ou Ventre) Virado é mais acometido em crianças, geralmente quando se brinca de jogá-las para o alto. Basicamente é a sujeição a uma força maior do que se está acostumado. Causa mal estar, vômito e diarréia. As benzedeiras viram a criança de cabeça para baixo e batem seus pés na folha de uma porta.
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<br />Fogo selvagem é uma doença de pele, cientificamente conhecida como Pênfigo. Nascem bolhas no couro cabeludo, peito e costas e podem se espalhar pelo corpo todo – até internamente, quando mais grave. Não se sabe o que causa, mas o remédio é uma benzeção.
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<br />Erisipela é uma infecção de pele causada por bactérias e pode ser acompanhada de febre. Invade a gordura e se espalha pelos vazos linfáticos. Geralmente ataca as pernas, principalmente de mulheres. Aprincípio, aparecem manchas vermelhas, depois incham e surgem bolhas. Também é conhecida por Vermelhão e Gota.
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<br />Fotos e Texto: Larissa Fontes
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<br />*Matéria publicada no O Jornal do dia 3 de Abril de 2011, na página Universidades e ganhadora do Prêmio Braskem de Jornalismo 2011, na categoria estudante.</span></div>
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Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-15358652803815953282011-01-16T22:41:00.000-08:002011-01-16T22:46:41.481-08:00Quando são um só<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 12px; color: rgb(40, 37, 37); line-height: 17px; ">Ele era calmo e doce. Levava uma vida pacata, sem grandes acontecimentos. Nada nunca o tirava do sério. Era de uma cor esverdeada, às vezes marrom. Tinha cabelos curtos, puxando pro marrom. Os que o acompanhavam eram queimados de sol, não ligavam pra roupas, nem futilidades, eram doces também, por convívio. O amavam, o tratavam bem e sabiam se deleitar dele. Ele, como agradecimento lhes dava alimento e até os levava aonde quisessem em uma viagem calma. Seu povo conversava com ele, contavam suas mazelas e ele ouvia atento, há até quem diga que ele dava ótimos conselhos e cantava uma cantiga balançada, feito água batendo em barco de pescador.</span></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px;"><br /></span></span></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">Ela era agitada e salgada. Sua vida era conturbada, enfrentava muitos conflitos internos, verdadeiras tempestades. Era azul, às vezes verde. Tinha uma longa cabeleira amarela, quase branca. Os que a acompanhavam, a temiam, respeitavam, embora a amassem também. Eram salpicados de sal, fortes e corajosos. Ela gostava deles, mas às vezes precisava ficar sozinha e queria se esconder. Só que não se dava conta de que era muito grande para isso, então ficava enfurecida e podia até fazer mal a quem chegasse perto. Não pensem que gostava disso, pelo contrário, se sentia desengonçada e mais enfurecida ficava, queria se conter, mas era muito grande pra isso também. Seu povo demorou a entender, mas hoje já conseguem e respeitam seu tempo. É sentimental como mulher que é mulher. Ama seus companheiros, lhes dá tudo o que pode. Em certos períodos abriga a quem necessitar de seu aconchego, seja por um curto tempo, seja por noites e noites a fio.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">Eles viviam em lugares diferentes, embora próximos. Ele a viu pela primeira vez a muitos e muitos tempos atrás e assim permanecia, observando-a de longe, imaginando tudo que se possa sobre ela. No princípio, ela não o enxergou. Digamos que não se deu conta de que ele estava ali. Tinha a cabeça sempre cheia, sempre em seus conflitos internos, em suas vontades loucas de se esconder, por isso não o percebeu. Mas ele estava ali e podia esperar.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">Em um dia de sol bonito, ela acordou depois de um sonho leve (ela às vezes tinha pesadelos terríveis!) e até assobiando. Ele estava lá como sempre, observando-a e não pode deixar de ouvir seu assobiar. Julgou esse um dia bom para se apresentar àquela moça que tanto achava bela.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">Sorriu para ela e foi se chegando devagar. Ela apertou os olhos para se certificar de que aquele sorriso era para ela e sentiu um cheiro doce invadindo, então viu que ele se aproximava manso e sorridente.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">- Me chamam de Rio. Apresentou-se, sentindo gosto e cheiro salgado.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">- Eu sou Mar. Respondeu, acuada.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">Ele falou sobre sua vida e seu povo. Ela lhe contou de lugares que já tinha visitado. E tinham tanta coisa diferente, mas tanta coisa em comum, que foi sem querer que tiveram que se separar naquele dia. Mas o destino já tinha se consumado, já tinha feito sua parte de ir dar uma cutucadinha nele para que saísse do silêncio e fosse até ela. Tinham sentido uma coisa nunca antes experimentada por nenhum, e por isso não sabiam reconhecer esse sentimento.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 17px; ">Só se sabe que depois disso, todos os dias a certa hora, ele estava nela e ela estava nele. Ele era ela e ela era ele. Em certa hora do dia, eles eram um só e se amavam. O Rio e o Mar.</span></div></span></span><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 12px; color: rgb(40, 37, 37); line-height: 17px; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 12px; color: rgb(40, 37, 37); line-height: 17px; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; color: rgb(40, 37, 37); line-height: 17px; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px;">*</span><i><span class="Apple-style-span" >Texto antigo, postado no dia 31 de Março de 2009. Foi engraçado hoje ler e me reconhecer nessas palavras. Me reconheci ao ponto de não mudar sequer uma vírgula. Queria voltar a saber escrever. Se é que um dia soube. Mas eu ainda penso tanto...</span></i></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; color: rgb(40, 37, 37); line-height: 17px; "><i><span class="Apple-style-span"><br /></span></i></span></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-50542322133569589122011-01-01T18:57:00.000-08:002011-01-02T08:32:15.883-08:00O Quebra de Xangô - O medo de um possível retorno<div style="text-align: center;font-family:verdana;"><span style="font-size:100%;"><i><span class="Apple-style-span">Casos de intolerância religiosa provocam temor da volta da repressão aos cultos afrodescendentes</span></i></span></div><div><br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2KzKwXVYCBYKxG9LDMOAF7SjMctn00zsKkxOBm5IO3RSNTb18SuXhcJB3kRosfNAnYfIvCvVCALypuT2oBU-6fQ2mLPGDKn93U7pBQiUpO88lLH3fzXAC1oAqnP6wyGYhyphenhyphenW33WSYVPaIW/s1600/Comemora%25C3%25A7%25C3%25A3o+a+Iemanj%25C3%25A1+2010+010+c%25C3%25B3pia.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 267px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2KzKwXVYCBYKxG9LDMOAF7SjMctn00zsKkxOBm5IO3RSNTb18SuXhcJB3kRosfNAnYfIvCvVCALypuT2oBU-6fQ2mLPGDKn93U7pBQiUpO88lLH3fzXAC1oAqnP6wyGYhyphenhyphenW33WSYVPaIW/s400/Comemora%25C3%25A7%25C3%25A3o+a+Iemanj%25C3%25A1+2010+010+c%25C3%25B3pia.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5557419864379202882" border="0" /></a><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:78%;">Festa de comemoração ao dia de Iemanjá, no dia 8 de dezembro, na praia de Pajuçara</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:78%;">(Foto por mim)</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div style="text-align: justify;font-family:verdana;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;">“Eu e meus irmãos fomos criados com a idéia de que as práticas religiosas africanas mantinham pacto com o demônio e que as pessoas que freqüentavam os terreiros de Candomblé faziam feitiçaria, macumba. Quando eu era criança, no breu da noite, batuques de um terreiro no caminho de casa, disparavam meu coração.”</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;">São essas palavras que dão início ao documentário “1912 - O Quebra de Xangô”, do antropólogo Siloé Amorim. Mas poderia ser um desabafo feito por qualquer pessoa, já que é assim que a maioria dos brasileiros é criada. O filme conta a história da repressão que os cultos afro-brasileiros sofreram nesse ano em todo o Brasil.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;">Quase um século depois, Maceió voltou a ser palco de episódios desse tipo. Alguns pais e mães de santo tiveram seus terreiros invadidos e objetos sagrados apreendidos pela Polícia Militar. Segundo o advogado e diretor da Comissão de Defesa das Minorias Étnicas e Sociais, Alberto Jorge Ferreira, aconteceu de em uma dessas invasões, uma mãe de santo ainda estar com seu orixá incorporado. Alberto ainda diz que é preciso rediscutir a Lei do Silêncio: “Essa lei se tornou a maior perseguição ao povo de religiosidade africana”. Os religiosos estão com medo de que essa situação se agrave e que possa vir a se transformar em um retorno de 1912.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;">Desde o começo dessas ações, a comunidade religiosa afro da cidade juntamente com a Comissão de Defesa das Minorias Étnicas e Sociais e a Federação Zeladora dos Cultos em Geral, vem se reunindo com autoridades governamentais, com o Ministério Público e coronéis da PM, pedindo para que a Lei do Silêncio seja reavaliada e que seja analisada a sua inconstitucionalidade para com as religiões. Alberto Jorge conta que até já foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta, onde a polícia se comprometia em rever seus conceitos para com essas religiões, mas o problema não foi resolvido.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;">Em contrapartida, o comandante do CPC, Gilmar Batinga, diz que é preciso desmistificar: “A Polícia, como instituição, não tem religião, ela está aí para cumprir a lei”. E ainda explica que na Lei do Silêncio não consta o limite das 22 horas como muita gente pensa. Se há uma perturbação do sossego alheio e essa perturbação ultrapassa a medição sonora de 80 decibéis, o procedimento é a apreensão do objeto perturbador, seja ele qual for. O comandante ainda faz questão de dizer que não existe perseguição alguma e que a Polícia está aberta ao diálogo.</span></div><div style="text-align: justify; font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;"><span style="font-weight: bold;">O QUE FOI O QUEBRA DE XANGÔ</span> – Em Maceió, no dia 1º de fevereiro de 1912, a intolerância racial religiosa atingiu seu nível mais violento, se tornando um verdadeiro massacre. A história começou com uma perseguição ao então governador, Euclides Malta, que já governava há 12 anos, tinha ligação com os terreiros e havia recebido o título de papa do Xangô Alagoano. A oposição conseguiu destituí-lo e com isso, a Liga dos Republicanos Combatentes – uma associação civil miliciana liderada pelo sargento Manoel Luiz da Paz – junto com o apoio popular conseguiu cair com fúria nos terreiros. A multidão entrou quebrando tudo que viam pela frente, no auge do ritual, quando alguns seguidores ainda tinham o santo na cabeça. Bateram nos filhos de santo e queimaram objetos sagrados numa grande fogueira. A africana Tia Marcelina, fundadora do Candomblé em Alagoas e a mais famosa mãe de santo do estado, resistiu à invasão de seu terreiro e recebeu golpes de sabre enquanto, banhada de sangue, bradava: “Bate moleque, quebra braço, quebra perna, tira sangue, mas não tira saber”, gemendo para Xangô a cada chute.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:100%;">O quebra-quebra não se restringiu apenas a nossa capital, se estendendo a várias cidades próximas. Os objetos que não eram queimados na fogueira pública eram levados para a sede da Liga e colocados em exposição (alguns objetos estão expostos até hoje no Instituto Histórico e Geográfico). Alguns dos pais e mães de santo foram buscar refúgio em outros estados, como Bahia e Rio de Janeiro. Os que ficaram continuaram a desenvolver suas práticas religiosas, pois temiam muito mais as possíveis punições de seus orixás, do que as das autoridades, o que resultou no humilhante “Xangô rezado baixo”. Sem rodas de dança, sem uso de tambores e atabaques. Os sacrifícios eram feitos tão discretamente como uma doméstica prepara uma galinha ao molho pardo e também não havia mais incorporações. “Restaram as orações sussurradas, acompanhadas de palmas discretas, como se tanto crentes como orixás tivessem vergonha de ainda precisarem se cruzar em situação tão vexatória”, escreve Ulisses Neves Rafael, em sua tese de doutorado intitulada “Xangô rezado baixo: um estudo da perseguição aos terreiros de Alagoas em 1912”.</span></div></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 13px;font-size:12px;" ><br /></span></p></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><b><br /></b></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><b>Candomblé e Umbanda: as diferenças</b></span></div><div><br /></div><div style="text-align: left;font-family:verdana;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:78%;">Pai Manoel do Xoroquê (Foto por mim)</span></div><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVXK2v3LuiPfbAfz6tNuaLxjsLKOUT6RHQgSBurS-tGJLxsd1g7Cv9ddJ4Ox62Zj-Fe-p6vAQ0abKDKzsqQGnwW5Tp2hrjijvH7xbfaD0y8jehRUbv588s4cFLCY3ieEAlbmuzGGCIPxk7/s320/M%25C3%25ADnima+Orquestra+016+pai+manoel.jpg" style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 320px; height: 293px;" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5557417947695910930" border="0" /><span><div style="text-align: justify;font-family:verdana;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 13px;font-size:100%;" ><span class="Apple-style-span">O Candomblé é uma religião de matriz africana. Cultua a Deus através de divindades com personalidades, habilidades e preferências individuais, os chamados Orixás. É puramente ecológica. Os Orixás são, na verdade, energias e fragmentos da natureza. Cada um representa e domina um elemento natural: Oxum (cor amarela), a deusa das águas doces; Iemanjá (azul e branco), a rainha das águas salgadas; Ogum (verde e preto), senhor das estradas, do ferro, dos metais e dos campos de batalha; Xangô (vermelho e branco), o orixá da justiça, senhor dos raios e trovões; Iansã (rosa e marrom), a guerreira dona dos ventos; Oxóssi (azul claro e prateado), o caçador, guardião da fauna e flora; Obaluaê (preto, branco e vermelho), o deus do sol, da cura; Oxalá (branco), orixá da paz; Nanã (branco e roxo), a purificadora da atmosfera, mensageira da morte; e Exu, o orixá mensageiro, que de maneira equivocada, pelo sincretismo, se confunde com o diabo. Ainda existem alguns Orixás de fundamento menos conhecidos. Os sacerdotes que chefiam os terreiros são chamados de Babalorixás – os homens – e Iyalorixás – as mulheres. Segundo o Babalorixá do terreiro Ilê Axé Legionirê, Pai Manoel do Xoroquê, para se iniciar na religião, é primeiramente necessário se descobrir de qual Orixá é filho (toda pessoa é escolhida no nascimento por uma ou mais divindades, que um pai ou mãe de santo identificará). Depois é preciso fazer limpezas de espírito, “para que saia toda e qualquer energia ruim”. O ritual de iniciação, a feitura do santo, representa um renascimento e começa pelo recolhimento: é quase um mês de reclusão, onde a cabeça do iniciante é raspada e são realizados banhos e oferendas, é onde todo o aprendizado começa. “O Orixá fala no coração”, diz Pai Manoel, que tem mais de 30 anos de Babalorixá.</span></span></div><div style="text-align: justify; line-height: 115%;font-family:Tahoma,sans-serif;font-size:9pt;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: normal;font-size:85%;" ><span class="Apple-style-span" style="line-height: 13px;"><br /></span></span></div><div style="text-align: justify; line-height: 115%;font-family:Tahoma,sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: normal;font-size:78%;" ><span class="Apple-style-span" style="line-height: 13px;">Pai Júlio (Foto por mim)</span></span></div></span><div><span style="font-size:85%;"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNVDtzvi3yokMg8vvtrFDhLtBhJ5_xwV2SuylmYWMgqKeChJGsrW1c6h5rhHyxO3seabjAYPnASfOyvJMgULSIjsikAZEY2MwDeUDA3OmoMygj_wETr6IWH6gtQTDNtD0mYF6EuG6k7dFR/s320/M%25C3%25ADnima+Orquestra+006+pai+julio.jpg" style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 316px; height: 320px;" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5557417675814039874" border="0" /></span><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;font-family:verdana;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 13px;font-size:100%;" >A Umbanda, apesar de afro-descendente, foi formada dentro da cultura religiosa brasileira. Por isso, sincretiza elementos do espiritismo e do catolicismo. Segundo Pai Manoel, basicamente, é um Candomblé mais leve, já que os rituais não são tão intensos. O Babalorixá do Centro de Umbanda Ogum Megê, Pai Júlio, explica que a iniciação na Umbanda, por exemplo, não requer uma reclusão de 1 mês, apenas algumas restrições, como não levar sol e sereno e não ingerir certos alimentos. Os Orixás cultuados são os mesmos (sem as qualidades) e mais algumas entidades que diferente das do Candomblé, foram pessoas que viveram na terra, como Pomba Gira, Preto Velho, Caboclos e Ciganos. Nos tempos das senzalas, os negros, para poderem cultuar seus Orixás, procuraram características em comum de cada um com os santos da Igreja Católica, para então, usá-los como camuflagem em altares que na verdade, escondiam embaixo, os assentamentos das divindades africanas. Oxalá correspondia a Jesus; Ogum, a São Jorge; Oxum, a Nossa Senhora Aparecida; Iemanjá, a Nossa Senhora da Conceição; Iansã, a Santa Bárbara; Xangô, a São João Batista; Nanã, a Sant’Ana; Oxóssi, a São Sebastião; e Obaluaê, a São Lázaro. Este é um sincretismo que não existe no Candomblé. </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;font-family:verdana;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 13px;font-size:100%;" >Um dos pontos mais delicados em se tratando das religiões afro-descendentes é o holocausto de animais, os polêmicos sacrifícios. Quando perguntado sobre esse assunto, Pai Júlio, que tem 68 anos de vida espiritual e faz questão de dizer que se relaciona bem com todas as religiões, foi logo buscar sua Bíblia para frisar uma passagem do livro de Jó, capítulo 42, versículo 7: “’Tomai, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei um holocausto por vós’, Jesus disse isso. As pessoas condenam essa prática, mas não procuram estudar sua religião para perceber que deriva dela própria. Está aqui, está na Bíblia”, explica. Tanto no Candomblé, quanto na Umbanda, animais como galinhas, pombos, bodes, bois e carneiros são oferecidos aos Orixás. Nada é jogado fora, todas as partes do animal servirão de alimento. A pessoa especializada no sacrifício não pode deixar o animal sofrer ou sentir dor, do contrário, a oferenda não será aceita.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 13px;font-family:verdana;font-size:100%;" >Os Babalorixás e Iyalorixás dizem que é preciso que as pessoas saibam que as religiões afro-descendentes, como todas as outras, buscam o caminho de Deus. O preconceito é filho da ignorância. Existem falsos profetas, mas o mal, assim como o bem, está dentro de cada um.</span><br /></p></div><div><span style="font-size:85%;"></span><p style="font-family:verdana;"><span style="font-size:100%;">Fotos e Texto por <em>Larissa Fontes</em></span></p></div><div>*Matéria publicada no O Jornal do dia 26 de dezembro de 2010, na página Universidades.<br /></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-30239619790785042382010-11-25T11:57:00.000-08:002010-11-25T13:15:38.184-08:00Retratos de um passado revelado<em>Um passeio pela extinta profissão de lambe-lambe, a arte que a tecnologia desbancou</em><br /><br /><span style="font-size:78%;">Fotos por mim</span><br /><div><p align="left"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 479px; DISPLAY: block; HEIGHT: 190px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5543587370062619170" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7a_fsl0rWlFFjgoe4RtKMFPZwJBq6QMWkZLSfOibX9gUI5MqjbH-bVJ5M3PcSCV-h8sJTgvQxHHiiO6vQb2bwvH3-Uwe-Pym_n7pmm-tCIT5mC4UNUtZGiUCJxi_3NWDUcvbRw6fU3RnV/s400/lambe.JPG" /><br /><br /><span style="font-family:georgia;"><span style="font-family:verdana;">Não é nada comum nos dias de hoje, mas, ao passar pela famosa Feira do Rato, no Centro da cidade, pode-se vê-la: ultrapassada, mas se impondo, exposta diante de tanta tecnologia e debaixo de um guarda-sol entre os trilhos do trem. Hoje é só uma caixa vazia servindo para chamar a atenção dos que passam. Triste fim para quem há dez anos atrás era responsável por uma enorme produção de retratos revelados na hora. Desbancada pela tecnologia.<br /><br />No início do século, o exercício da fotografia era feito através de uma união de câmera com laboratório, a câmera lambe-lambe. Ganhou esse nome engraçado por conta da prática da revelação das fotos: o papel fotográfico teria que ser banhado em alguns químicos, um deles, o fixador, que, como o próprio nome diz, fixa a imagem no papel. Os fotógrafos passavam a língua na foto durante essa lavagem para sentir, pelo gosto, se estava pronta.<br /><br />José Aurino dos Santos, 40 anos, nasceu no interior de Alagoas, na cidade de Anadia. Até os 16 anos cortava cana quando resolveu se mudar para a capital. Já em Maceió aprendeu tudo com o irmão, o já fotógrafo Antônio dos Santos. A partir daí começou a profissão de retratista, controlando durante muito tempo a câmera lambe-lambe. É a esse ofício, praticamente extinto, que dedica mais da metade de sua vida.<br /><br />Quando a era digital começou a surgir, Seu José ainda tentou continuar com seu método tradicional e até chegou a pensar em desistir, mas, segundo ele, é a única coisa que sabe fazer. Com as câmeras digitais sendo comercializadas e máquinas reveladoras sendo criadas, ficou cada vez mais difícil conseguir comprar o material necessário para a revelação das fotos - os químicos não são mais achados com a facilidade de antigamente. Relutou, mas foi obrigado a se adaptar ao novo mundo, comprando uma câmera digital e uma pequena impressora bem operacional, que até dá a opção de alguns retoques na foto. “Antes, isso aqui era cheio de lambe-lambe. Foi-se acabando, alguns largaram a profissão, outros morreram. E o movimento caiu muito. Tem dias em que eu só faço uma foto. Eu sinto falta porque, além de tudo, é uma tradição e muita gente admira. Na semana passada chegaram alguns turistas aqui e pediram para que eu fizesse foto deles, mas quando viram que era digital, não quiseram mais. Queriam mesmo era da lambe-lambe”, diz.<br /><br />Ele confessa que foi difícil aprender a lidar com a tecnologia, mas, para isso, contou com a ajuda do filho adolescente. Enquanto levou 15 dias para dominar sua lambe-lambe, passou mais de um mês para se familiarizar com o aparato digital. E embora admita que é muito mais fácil trabalhar com o equipamento novo e que “foi a melhor coisa que inventaram para quem trabalha com fotografia”, diz que se pudesse voltar a usar a câmera antiga, o faria sem vacilar.<br /><br />Cícero Benedito, 43 anos, mais conhecido como Kiko, divide seu ponto de trabalho com Antônio dos Santos, o Tonho Matuto, 51 anos – o irmão do Seu José – com quem também mantém uma sociedade. Os fregueses e o dinheiro são divididos igualmente entre os dois. Também foram obrigados a se renderem aos equipamentos digitais.<br /><br />Kiko conta que ficou triste, até tentou adaptar a lambe-lambe para o digital, mas não conseguiu. Faz dois anos que ela parou de vez. “Eu sinto muita falta do processo todo, era tudo artesanal mesmo. Quando a foto saía com alguma mancha ou detalhe que o freguês não gostava, a gente fazia retoque com um palito, molhava mais um pouquinho e pronto. Tudo se resolvia”, explica. Embore concorde que é muito mais eficaz trabalhar com tecnologia, reclama dos custos: “Se essa câmera digital quebrar, é muito difícil consertar, tem que mandar para assistência técnica e ainda é muito caro. Com a lambe-lambe não tinha problema, a gente mesmo dava jeito se quebrasse ou se não estivesse funcionando bem”.<br /><br />O local de trabalho dos dois é mais organizado do que o de Seu José, em plena Feira do Rato. Quando passam ônibus de turismo, eles são uma verdadeira atração, as pessoas colocam logo suas câmeras para fora da janela para registrá-los. Causam o furor da descoberta de um animal em extinção. “Caímos no esquecimento”, diz um Kiko tristonho, mas orgulhoso de sua arte. “O bom é olhar a foto e pensar ‘fui eu que fiz’. Porque nós fazíamos mesmo, fazíamos tudo”. E faziam mesmo. Com todo o significado dessa palavra. “Depois de 20 anos, tem gente que passa por aqui e diz que ainda tem foto comigo, é uma alegria”.</span> </span><br /><br /></p><br /><p><span style="font-size:130%;">Um autodidata da fotografia</span> </p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHQfHzYFBUyQfSKYL-jqQxggUVAEdnq2tA3i3gq9glse4mA5KbNCgltuustr8sp9nYQjqbzD9f0QLOtZGmhkMzT1H2ssg-Ck0xD4LTss6EDYQLLa-KdtBUxe1YXmBkDnZUQrXmiLrP7CdO/s1600/21LF+Lamb+2.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 400px; FLOAT: left; HEIGHT: 267px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5543594646801673810" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHQfHzYFBUyQfSKYL-jqQxggUVAEdnq2tA3i3gq9glse4mA5KbNCgltuustr8sp9nYQjqbzD9f0QLOtZGmhkMzT1H2ssg-Ck0xD4LTss6EDYQLLa-KdtBUxe1YXmBkDnZUQrXmiLrP7CdO/s400/21LF+Lamb+2.jpg" /></a><br /><p> </p><p> </p><p> </p><p> </p><p> </p><p> </p><p> </p><p>Com um sorriso sincero, uma voz forte e muita história pra contar, Seu Manoel da Taboca, 72 anos, é um gênio da fotografia não descoberto. Nasceu em Anadia, onde foi criado na roça. Aos 16 anos viajou para São Paulo para trabalhar em plantações. Lá conheceu um japonês que tinha uma câmera fotográfica. Quando a viu, encantou-se. Começou a aprender assistindo ao amigo revelar as fotografias.<br /><br />Mesmo tendo perdido o dedo polegar da mão direita num acidente, foi muito difícil deixar a roça e, por muito tempo, a fotografia foi apenas um hobby. Mas desde que aprendeu, não parou de inventar engenhocas e formas de melhorar o processo. Ainda trabalhando em uma usina, montou um laboratório em casa e revelava suas fotos nos fins de semana. “Fiz uma câmara escura e um quadrinho com um papel na frente para a luz entrar difusa. Mas na época eu nem sabia que aquilo era um difusor, só sabia que era para a luz entrar espalhada”, descreve.<br /><br />Ele relembra, com os olhos cheios de saudade, que perdeu a visão do olho esquerdo por conta de uma pedrada, mas que nem isso conseguiu atrapalhar seu amor pela arte visual. “Eu amava aquilo, ver a imagem surgindo aos poucos num papel em branco. Eu chamava todo mundo em casa pra ver”.<br /><br />Um dia viu numa praça dois fotógrafos trabalhando com câmeras lambe-lambes. Até então, não conhecia a máquina que dava a possibilidade de revelar as fotos sem precisar de um laboratório. “Fiquei impressionado olhando eles trabalharem. Daí comecei a construir uma lambe-lambe. Criação minha, fiz e aprendi a usá-la sozinho. Fui me aperfeiçoando e comecei a ganhar dinheiro trabalhando como fotógrafo. Pedi demissão da usina”, conta todo orgulhoso.<br /><br />Em seu percurso, já estava no Mato Grosso, quando achou uma praça que não tinha fotógrafo. Armou sua câmera e fez do local seu ponto dali em diante. Em seis meses, diz, ganhou o equivalente a 20 mil reais e resolveu realizar o sonho antigo de voltar para Alagoas. Chegou trazendo a novidade da câmera com filme quando os poucos fotógrafos que já existiam usavam chapas e papel. Começou a fabricar as câmeras por encomenda, que também foram instaladas pela empresa Egídio Fotografias, onde Seu Manoel trabalhou. Também prestou seus serviços ao extinto Jornal de Alagoas nos últimos seis meses de vida da empresa.<br /><br />“Mais ou menos em 67, quando chegou a fotografia colorida, ninguém mais queria tirar foto em preto-e-branco. Que desgosto que dava”, relembra. E completa: “Comecei a estudar um jeito de preservar a lambe-lambe, o processo de revelação do colorido era muito difícil e caro. Eu quebrava a cabeça, mas não desisti. Sempre fui criativo e um dia consegui”. Assim Seu Manoel da Taboca criou e sustentou seus 17 filhos.<br /><br />De fato, não se interessou pela novidade dos equipamentos digitais, parando de fotografar em fevereiro de 2006, após 39 anos de carreira. “Eu tenho saudade, sonho muito com o tempo em que eu trabalhava com fotografia. Sinto falta demais”, emociona-se. </p><p></p><p>Fotos e Texto por <em>Larissa Fontes</em></p><p>*Matéria publicada no O Jornal do dia 21 de Novembro de 2010, na página Universidades.</p></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-8510742722135068502010-09-04T11:04:00.000-07:002010-09-04T11:51:54.519-07:00Resiliência e Fé<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoTyPGzDh90g6PR6SqonOrtse32tL_YmleDS1Gd0O4-u5Ca-I8EP287ttRFmLmWlFDws_M44ZxpJwvajREEvRMlu4MVVVqlQhibF5s40JRWaOO4hdSC4Rejyts66Qg3HAbTUoJgGBQBK00/s1600/pedrinho.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5513132878785299586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 260px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoTyPGzDh90g6PR6SqonOrtse32tL_YmleDS1Gd0O4-u5Ca-I8EP287ttRFmLmWlFDws_M44ZxpJwvajREEvRMlu4MVVVqlQhibF5s40JRWaOO4hdSC4Rejyts66Qg3HAbTUoJgGBQBK00/s400/pedrinho.JPG" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:78%;"> Fotos por mim<br /></span><br /><br /><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Era uma pauta que mais parecia uma missão. Sair em busca de usuários de drogas pelas ruas de Maceió e tentar fotografá-los para uma matéria especial. Pedimos permissão para entrar na guarita do terreno onde funcionava uma certa empresa para que eu pudesse fotografar alguns moradores de rua usuários de lá de dentro.<br /><br />Encontramos Pedrinho - como é conhecido, embora seu nome seja Tayrone. Nada que comprove isso, pois seus documentos foram roubados enquanto dormia na rua. Tudo o que tem se resume a um saco contendo alguns poucos objetos e várias garrafas. Estava disposto a conversar e ajudar-nos na nossa matéria.<br /><br />Pedrinho é alcoólatra. Bebe só de raiva. Raiva de tudo, da família, da mulher. Gosta de conversar e costuma despertar a simpatia e confiança das pessoas, como os porteiros do terreno, que o deixam entrar e dormir seguro nos fundos. As vezes as palavras fogem, ele se perde nas falas, conseqüência de tantos anos de álcool no organismo.<br /><br />Eu o olhava e tentava afastar o pensamento clichê de: “Deus, obrigada por tudo que tenho!” com o “ele escolheu isso”. Mas era inevitável olhar para os meus pés brancos com unhas azuis impecáveis, enquanto na minha frente aquela criatura tinha sujeira até na ponta do nariz. Em que momento alguém escolhe uma vida dessas? Nos olhos ainda pude ver uma vontade preguiçosa de mudar, lá no fundo.<br /><br />Já levou tiro e facada. Diz que nunca usou drogas pesadas, só “fuma um” quando tem. Faz uns bicos catando latinhas para ganhar uns trocados. Quando não arruma nada, mistura álcool de posto com água mesmo. Quase não come. Toca violão e guitarra. Foi integrante da banda Massa Rara, mas atualmente não está tocando nada.<br /><br />Tem família, apesar de ter sido abandonado na infância. Informações confusas ao longo da conversa. Mesmo que lhe ofereçam uma cama, prefere dormir no chão. Tem medo do escuro e de ser queimado dormindo na rua. Vezenquando toma coragem e vai visitar a mãe. O repórter pergunta sobre seus Natais: “– Natal é uma figura linda. É coisa de Deus. Ano passado eu dei um presente pra minha mãe. Um brinco”. Disse isso com orgulho.<br /><br />Parece não conseguir mais absorver e entender que a raiva que sente e o leva a beber só fere a ele mesmo. A conversa me fez pensar o caminho inteiro de volta a redação. Que mãe não luta pelo seu filho? Que substancia lícita é essa que acaba com um homem física e mentalmente? Que sistema é esse? Acho que essas perguntas vão fervilhar pra sempre na minha cabeça. Acho que vou sempre lembrar que fiquei de frente pra esse homem-se-auto-destruindo que me disse coisas.<br /><br />Lendo um artigo do professor Luiz Carlos Cabrera na revista Você S/A, uma palavra me chamou a atenção: <em>resiliência</em>. Resiliência, segundo o Aurélio, é a “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação elástica”. O professor diz que o ser humano desenvolve ao longo da vida, por vários motivos, uma capacidade de resistir às tensões. A palavra mágica, no fim, quer dizer “dar a volta por cima”.<br /><br />Fica a inquietação: como aumentar a resiliência de uma pessoa sem qualquer perspectiva, como o nosso personagem Pedrinho? No mesmo artigo, o autor ainda diz que diferente de um material qualquer, que ao fim da tensão volta a ser o que era, o ser humano tem a chance de sair dela numa verdadeira transformação, já que tem a capacidade de aprender e acumular experiência.<br />Ele ainda fecha seu artigo de uma maneira que, com toda a licença, vou precisar terminar o meu também. Uma citação do apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. Não perca a fé em você mesmo.<br /><br />Ainda arriscaria que não percamos a fé no outro também.<br /><br />Então, as palavras do dia são: Resiliência e Fé.</span></div><br /><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><br /><br /><div align="right"><span style="font-family:verdana;">Larissa Fontes</span></div><div align="right"> </div><br /></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-90044103597731867992010-06-27T23:29:00.000-07:002010-09-04T11:58:49.452-07:00Prêmio Dardos<span style="font-size:85%;"></span><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;"></span><br /><span style="font-family:verdana;">Já faz algum tempo que recebi esa homenagem do Gui, dono do </span><a href="http://prosopoetica.blogspot.com/"><span style="font-family:verdana;">Prosopoética</span></a><span style="font-family:verdana;"> - atualmente está exercendo a função de pai babão da HannaH - e só agora, vim retribuir o presente. Gui, não sei se mereço prêmios, mas saiba que o daria mil vezes pra você. Obrigado pelo carinho de sempre!<br /><br /></span></div><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk4tck9j8x95NT8DI_e4__c_3n6mS_AJPss6IMRNwRZwRHH69UqI7Fo7Vis1VyDl5ZbwLxXy5xYpOhOQYm5wi9wjlytBrOxZRCkA-Po8i_PyXdZnjkrV2VPJkjUuvs42FCK2iUOmMxsYgO/s1600/dardos.JPG"><span style="font-family:verdana;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5487707982789696514" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 156px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk4tck9j8x95NT8DI_e4__c_3n6mS_AJPss6IMRNwRZwRHH69UqI7Fo7Vis1VyDl5ZbwLxXy5xYpOhOQYm5wi9wjlytBrOxZRCkA-Po8i_PyXdZnjkrV2VPJkjUuvs42FCK2iUOmMxsYgO/s320/dardos.JPG" border="0" /></span></a><span style="font-family:verdana;"><br />Sobre o selo (palavras de quem indica o prêmio):<br /><br />“O Prêmio Dardos é um reconhecimento dos valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esse selo foi criado com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agrega valor à Web.”<br /><br />Por isso, indico o Prêmio Dardos para:<br /><br />1- </span><a href="http://pranao-faltaramor.blogspot.com/"><span style="font-family:verdana;">Pra não faltar amor</span></a><span style="font-family:verdana;"><br />2- </span><a href="http://reconvexando.blogspot.com/"><span style="font-family:verdana;">Reconvexando</span></a><span style="font-family:verdana;"><br />3- </span><a href="http://www.saralidade.com/"><span style="font-family:verdana;">Fábrica de Palavras</span></a><span style="font-family:verdana;"><br />4- </span><a href="http://costurademaquina.blogspot.com/"><span style="font-family:verdana;">Máquina de Costura</span></a><span style="font-family:verdana;"><br />5 - </span><a href="http://minhaspequenaspalavras.blogspot.com/"><span style="font-family:verdana;">Momentos</span></a><span style="font-family:verdana;"><br /><br />Agora, o que cada blog indicado pode fazer:<br /><br />1. Exibir a imagem do selo em seu blog;<br />2. Linkar o blog pelo qual recebeu a indicação;<br />3. Escolher outros quinze blogs que receberão o Prêmio Dardos,<br />4. Avisar aos escolhidos.<br /><br />Muito bem! É a hora (e a vez) de vocês.<br /><br />Dardos neles/nelas!!!!!</span></p><p> </p>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-6905488458885653992010-05-05T16:10:00.000-07:002010-09-04T12:11:37.821-07:00Mas eu penso tanto...<div align="justify"><span style="font-family:courier new;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;font-size:85%;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;"></span> </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">É que eu não sei escrever. Mas eu penso tanto. Depois tudo quase sempre se desmancha no ar, em meio a tantos pensamentos. Fantasio, invento histórias de amor sobre pessoas que vejo. Assim: de repente, o cantor daquela banda é apaixonado pela cantora. Cantam juntos, mas ninguém sabe que ele todo dia declara seu amor pra ela. E existe todo aquele peso de amor mal resolvido no ar. Isso no meio de uma festa, no meio de tanta coisa mais pra se pensar. Quase sinto tudo que Gil sentiu quando escreveu Drão pra mulher, quando se separaram. Deve ter sido lindo. Lindo e triste. Aquela velha história de que, o amor só é bom se doer. Quem anda por aqui sabe o quanto eu sou Vinícius nesse negócio. Queria saber colocar em palavras a definição desse peso-de-amor-mal-resolvido-no-ar. "É como um grão, tem que morrer pra germinar". É que eu não sei escrever. Mas eu penso tanto...</span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="right"><span style="font-family:verdana;"></span> </div><div align="right"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="right"><span style="font-family:verdana;font-size:78%;">Só um desabafo, sobre o vazio que se instalou na minha "inspiração". </span></div><div align="right"><span style="font-family:verdana;font-size:78%;">Para aqueles que cobram a minha volta, essa é uma boa e real explicação para o meu sumiço aqui.</span></div><div align="right"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="right"> </div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-51172108431266701932010-01-14T18:08:00.000-08:002010-09-04T13:08:23.390-07:00Sobre o frio, Vinícius e um amanhecer rosaFrio nunca sentido com tamanha intensidade. A espinha treme e os dentes se atropelam independentes. Um rubor diferente, pois não vem do calor familiar, aparece na ponta do nariz e bochechas. Dormência nos dedos dos pés e das mãos. Uma fumaça gelada quase atrapalha sua visão a um simples respirar. Mas é só a saudade. Talvez em sua forma física. Há quem diga que realmente dói. E às vezes posso sentir.<br /><br />De repente, ao acordar, um céu rosa surpreendentemente faz desaparecer frio e dor. Pelo menos por alguns instantes. Tudo se fez rosa. Rosa.<br /><br />Um Vinicius da voz sempre bêbada sussurrava palavras de amor em meu ouvido. <em>“Mulher mais adorada!”</em> Quase sentia o hálito quente descendo pela nuca. Esquentando o corpo e o espírito. <em>“Essa saudade de estar perto, se longe. Ou estar mais perto, se perto.”</em> Alguém de longe soprava uma flauta doce, chorosa. Talvez numa sala escura e quente. Quente, mas fria. Entende-me? Não? Nem eu. <em>“Cada hora que passa, e mais porque te amar.”</em><br /><br /><br />Larissa FontesLarissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-88498517070645182062010-01-07T16:16:00.000-08:002010-01-07T16:25:17.174-08:00Três na Nossa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPSfvXLzroLsv3RPP7LEHmDCjUT37ku8ESQmA4uxulJTny9RfGYkenBuATuG4gs2AQN70ZCaijt_-kdkD76WXQWk2eGToQNX8qApQOyP427jRe3RC7Zl3xQl5KLb1dV0oQL0oucxaP9zm9/s1600-h/Tr%25C3%25AAs+na+Nossa+01.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 180px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPSfvXLzroLsv3RPP7LEHmDCjUT37ku8ESQmA4uxulJTny9RfGYkenBuATuG4gs2AQN70ZCaijt_-kdkD76WXQWk2eGToQNX8qApQOyP427jRe3RC7Zl3xQl5KLb1dV0oQL0oucxaP9zm9/s320/Tr%25C3%25AAs+na+Nossa+01.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424157468950731554" /></a><br /><br />"Próximo a você deve ter uma janela, uma porta esperando, chegue até ela, dispa-se e sinta então os tais arrepios que anteriormente elucidei. Sabe o que é? Uma forma sutil de o seu corpo dizer: saudades!" Léo Moreira.<br /><br />"Eu acredito na poesia. Acredito em todas as formas de amor. Acredito nas letras de musicas e nos sentimentos que levaram alguém a escrevê-las. Acredito na beleza da tristeza e na forca que ela nos dá." Larissa Fontes<br /><br />"A idéia de ‘encontros’ sempre me pareceu muito encantadora. Não sei o porquê, nem de onde vem. Mas imagino um grande tabuleiro, e peças marcadas para se encontrarem em algum momento deste jogo." Vitor Andrade<br /><br /><br /><em>Algo como um laço, que uma vez tocados por ele, nunca mais poderá largar.</em><br /><br /><br /><br />E é assim, a nossa bossa. Três na Nossa.<br /><br /><a href="http://tresnanossa.blogspot.com">http://tresnanossa.blogspot.com</a><br /><br />Visitem-nos.Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-78423753768931123812009-11-12T22:07:00.000-08:002009-11-12T22:12:30.253-08:00Sobre um véu, versos mudos e rodopios<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><div style="text-align: justify;"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CLarissa%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CLarissa%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" 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<br />Leveza de ser levado por um som. Sem sentir-se. Só se deixar levar. Especial. Pés num compasso ritmado. Volitavam. Os pés, alados. Papapapapapa. Entre os panos do véu, no rodopio, pode então ver. Olhos se tornam bolas de fogo prestes a sair queimando por aí. E a vestimenta parece inútil, pois cada um podia ser apenas luz. Vestidos de luz. E ela aceita o “sair queimando por aí” e enfrenta o fogo. Transpassando pensamentos, trocaram versos mudos que se encontrariam mais pra frente, sabe-se lá onde. A areia de uma praia distante, que acarinha os pés e machuca os olhos. Que entender de tudo e nada? Por um momento deixar de ouvir aquele som. Sem sentir-se ainda. Se deixando levar por algo tanto inexplicável que só depois de 5 minutos se percebeu meio bambeando no meio daquela roda. Se desfazer toda em água, jorrar, encharcá-lo, penetrar em pele, poros, sangue. Sê-lo. Volta a rodopiar. No entre-véu, jura que viu vazar de tão grande, a alma linda que possuía. Ninguém mais viu. Mas ela podia enxergá-lo até no escuro. Prefere acreditar que foi só pra ela e guardou tudo num baú de dentro.
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<br /><div style="text-align: right;">Larissa Fontes
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<br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:78%;">Ao som de <span style="font-style: italic;">'"Então ficamos, minha alma e eu, olhando o corpo teu sem entender como é que alma entra nessa história, afinal o amor é tão carnal." </span>do Zeca Baleiro.</span>
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<br /></div><span style="line-height: 115%;font-family:";font-size:12pt;" ><o:p></o:p></span> Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com21tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-24020217227982800932009-10-23T11:33:00.000-07:002010-09-04T12:15:47.440-07:00Palavra nunca lida<span style="font-size:100%;"><br />Amor! Palavra nunca lida,<br />Mistério para a imaginação.<br />Amor? Palavra nunca dita.<br />Resposta? Ou mais uma questão?<br /><br />Amor! Palavra que não se cala<br />Ainda que muitas vezes em vão.<br />Amor? O que você entende?<br />Lá no fundo do coração.<br /><br />Amor! Penso que sim (pode ser)<br />Mas, muitas vezes, penso em vão<br />Amor? Difícil é tentar (só entender)<br />Sem cair no clichê (ah! isso não...)<br /><br />Amor que vem sem que se queira<br />Duvida-se que seja tão violento<br />E nega-se se o medo tenta<br />Amor, quando se traduzirá? (Penso...)<br /><br />Mistério da terra, da água, do fogo e do ar,<br />Transcende a razão - afinal é puro sentimento.<br />Ah! Hum! Sentir não por sentir (mas transfigurar)<br />Amor. Acima e além: quinto elemento.<br /><br /><br /><span style="font-size:78%;"><br /></span></span><div style="TEXT-ALIGN: right"><span style="font-size:78%;"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Poema feito à quatro mãos, parceria com o querido Guilherme Ramos. </span><span style="FONT-WEIGHT: bold">Começamos a escrevê-lo em Março de 2009 e não nos lembramos quando foi concluído. </span><span style="FONT-WEIGHT: bold">A proposta/desafio era fazer um poema sobre o amor em si, o sentimento, não sobre seu efeito nas pessoas, como é tão comum, sobretudo nas músicas.</span><br /><span style="FONT-WEIGHT: bold">Que venham muitas parcerias, ainda, Gui!</span><br /></span></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-43608391131282155712009-09-25T19:05:00.000-07:002009-09-25T19:10:28.388-07:00Ele alí, tão irreal<div style="text-align: justify;"><br />Eu não sei fazer poesia, nem escrever bonito. Mas tenho de falar de quando o vi. Ele alí, tão irreal, sentado na minha frente.<br />Eu trabalhava de garçonete naquele bar desde que eu tinha 16 anos. Estava acostumada com bêbados me cantando e vomitando todo fim de noite. Acho que fiquei meio antipática por conta disso. Nunca dei ousadia pra nenhum daqueles homens. Primeiro porque eu estava trabalhando e segundo porque tinha nojo da maioria deles. Mas não dizia nada. Servia quieta, fazia meu trabalho bem feito, para não dar brecha para reclamações.<br />Fazia um tempo que eu via um rapaz bem bonito que vinha sempre aos sábados. E sentava na mesma mesa, no fim do bar. Eu não tinha coragem de ir lá, tão bonito ele era. Sempre mandava o Bento, um garçom que trabalha comigo, muito querido. Acho que o único amigo que tenho. Bento é meio gay, apesar de nunca ter assumido, sempre ia de bom grado atender o rapaz bonito. Sempre pedia umas cervejas e bebia sozinho. Bento me conhece bem. Percebeu em mim a ponta de nervosismo quando ele vinha. Acho que por isso abriu mão da paquera e deixou para mim, porque sempre vinha contar alguma descoberta sobre ele.<br /><br />Mas o que eu quero realmente contar, foi o dia em que ele chegou e não sentou na mesa de sempre. Sentou-se no balcão. O vi tão de perto, então. Ali, tão irreal, sentado na minha frente. Me olhou e simplesmente foi falando.<br /><br />- Tive um sonho ruim...<br /><br />Foi como se ele tivesse aberto tudo dentro de mim. Como se nos conhecêssemos desde sempre. Mesmo nunca tendo trocado uma palavra sequer, eu sabia que estava falando comigo. Larguei o pano de prato e os copos que eu lavava. Sem dizer nada, me sentei em frente a ele. Senti que ele precisava falar. Só falar. Eu só vim a esse mundo, meu Deus, para ouvi-lo.<br /><br />- “Eu andava sozinho por uma praia, a noite. Parecia não saber o que estava fazendo nem pra onde estava indo, só andava e andava. De repente dei a olhar pra trás, com medo de alguma coisa. Um medo me consumiu, um medo inexplicável. Olhava pra trás e não via nada, só a escuridão. E eu acho que era justamente isso que me dava medo: a escuridão.”<br /><br />- Eu também tenho medo da escuridão. Embora viva nela...<br /><br />- Como assim vive nela? Se a tua aura é completamente feita de luz? Clara!<br /><br />- A minha o que?<br /><br />- A sua aura. É uma coisa que te emana e envolve toda, como um sopro de ar. Diz muito sobre seu emocional. A sua, posso ver, é clara como o sol.<br /><br />Eu precisava dizer alguma coisa. Mas o que eu poderia dizer? Que conversa, eu, uma pessoa que não sabe o que é aura, poderia ter com um cara assim? Acho que minha cara, que ficou totalmente vermelha, falou por mim. Ele facilitou.<br /><br />- Te deixei sem graça? Não era a minha intenção, desculpe.<br /><br />Não consegui responder nada. Só o olhei, e quando vi que ele ainda não tirara os olhos de mim, abaixei os olhos ainda me sentindo quente, dessa vez não só o rosto, mas o corpo inteiro.<br /><br />Nessa hora eu já me esmurrava por dentro, como eu podia ser tão idiota a ponto de não conseguir manter uma conversa com um homem? Principalmente sendo ele.<br /><br />Vi nos olhos dele alguma coisa de estranho. Não sabia ao certo se era uma coisa boa ou algo triste. Mas fiquei olhando fixamente. Sem perceber. Devo ter feito alguma coisa de errado, porque ele me deu um sorriso meio tristonho e se levantou. Ainda ficou parado em frente ao balcão, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa. Eu apertava minhas pernas, que ele não podia ver. Me castigando por não ter coragem de fazê-lo ficar.<br /><br />Ele se demorou um pouco ainda, mas viu que eu não ia falar nada e se virou. Começou a andar lentamente em direção a porta, tinha a cabeça baixa.<br /><br />E se ele não voltasse? Se aquela mesa ficasse vazia de agora em diante?<br /><br />Não pensei em nada. Dei um grito.<br /><br />- Fica comigo?<br /><br />Que reação ele ia ter agora, meu Deus?<br /><br />Ele sorriu e veio na minha direção.<br /><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Larissa F.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Texto antigo, postado em 12 de Novembro de 2008.</span><br /><span style="font-weight: bold;">Algumas pequenas modificações, muitas vírgulas engolidas. Percebi que hoje, sou mais de pontos do que de vírgulas. Será isso bom?</span><br /><br /></span></div></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com24tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-48796168418481276992009-08-31T16:19:00.000-07:002009-08-31T16:44:42.231-07:00A vida inteira<div style="text-align: justify;"><br />Vem, que eu quero te mostrar a minha janela, onde eu me deito embaixo e sinto os pingos d'água quando chove. No rosto. Arrepio. Pele com frio. Quero a tua mão e te conduzir ao meu quintal. Quero sentir o meu novo eu ao teu lado. Veja minha cortina com rosas brancas de seda. Passe o rosto nelas, é como nuvem. Por que demora? Há tempos que eu te espero mesmo sem saber. Quero apenas que você chegue. Chegue cheirando a cerveja, eu finjo não sentir. Você tem meia hora. Definitivamente, você tem meia hora. Não. Não, você tem mais sim. Tem a vida inteira. Eu fecho os olhos, levanto a cabeça e deslizo meu rosto pelas rosas-brancas-de-seda-da-minha-cortina e parece que eu estou no céu. Chegue mesmo de mau humor, eu finjo não ligar. A vida inteira. Me sento debaixo do pé de laranjeira com meu vestido florido e meu chapéu noir. Lembra? Tudo bem noir. Você gosta? Chegue. Essa noite não passa, parece que se pôs na janela e ri de mim. Me deito por entre o verde e sinto seu cheiro. Meu coração dispara, mas eu o ponho rédeas e o faço trotar normalmente. Feito um cavalo manso. São só as rosas da cortina, elas cheiram a você. Nuvens. Céu. Eu tenho o total controle sobre mim. Como se assim fosse. Quero ouvir o rangir do teu sapato estampado pisando nas pedras até chegar a porta. Cante um samba, dance uma ciranda e vista pedrarias. Eu visto saudade. Passou um vento na minha roseira da cortina. A cama se encheu de flor. Chegue. Chegue, pois tudo que eu faço agora é te chamar. Nada mais sou do que te chamar. A vida inteira.<br /><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Larissa Fontes<br /><br /></span></div></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com28tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-77415331250103960522009-08-06T20:07:00.000-07:002009-08-06T20:34:21.365-07:00Sobre uma rua e uma música que não pára<span style="font-size:100%;"><br /></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Cheiro de planta, madeira e asfalto. Perdendendo a razão. Peixe no aquário. Prendendo a respiração. Morfeu. Sozinho num apartamento. Uma música vinda de um lugar que não conheço. Sair correndo pela porta que poderia ser de vidro. Pingos a bater no rosto, o vento a machucar a pele. Mas não. Ainda parado, deitado como quem não aguenta mais. Está agora andando por uma rua feita de pedras.</span> <span style="font-style: italic;font-size:78%;" >"Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar..."</span>. A música ainda toca repetidamente e ainda não conheço de onde vem. Só existem pessoas nessa rua. Elas vêm e vão e passam por mim, todas a pé. É noite. A noite existe e acontece. Não, não existe. A rua agora me parece pequena. <span style="font-style: italic;font-size:78%;" >".. com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar."</span> Vou tricotanto sorrisos para dar de presente. Coração. Um amor. O apartamento de novo. Sozinho. Já não se sente nada. Morfina. Vem morar comigo? Nada mais faz sentido. E essa música que não pára! <span style="font-weight: bold;font-size:78%;" ><span>"Fechei os olhos, chamei saudade, olhei pra dentro, veio você.*"</span></span><br /></div><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Larissa Fontes<br /><br /><br /></span></div><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Ao som de 'Hercílio Luz*' e 'Pavão Macaco' do Wado.</span><br /><span style="font-size:78%;"><span> Pra mim são extremamente inspiradoras.</span><br /><br /></span></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-42431812729323139992009-07-08T21:31:00.000-07:002009-07-08T21:38:22.870-07:00Maria Eleonor“É como enxergar música na chuva. Ela vem descendo a ladeira.”<br /><br /><div style="text-align: justify;">Usa faixas azuis no cabelo preto e longo. Um vestido vermelho com bordados dourados, como um manto dos sonhos. Anáguas. Sempre vestida de pedraria. Quer brilhantina no cabelo. Mora num jardim. Tem um pé de alecrim e uma roseira de estimação. Laranjeira e manjericão. Fazia sorrisos. Adorava histórias da carochinha. Gostava de olhar sua mãe cozendo. De samba e do som de uma rabeca. Era das faceiras.<br /><br />Barcos de pescaria. Janela. Saudade.<br /><br />Letras garranchadas em papel de pão. Um corpo que trás em si marcas de um tempo de saudade que ainda não passou. Olhos de silêncio, conseqüência de uma voz que não para de ecoar no seu lado de dentro. Mãos que falam através de um lápis de madeira com a ponta feita a faca. Sentado no muro de sua casa, não denuncia o quanto suas palavras devotam aquela mulher. A não ser seus olhos. “Êta zoinhos traidor”. E é esse o segredo de toda essa história: o jeito como ele olhava pra ela.<br /></div><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Larissa Fontes</span><br /><br /><span style="font-size:78%;">"E ao perguntar como era o nome dela, pois lhe disse 'eu sou Maria Eleonor'";</span><br /><span style="font-size:78%;">Ao som de Renata Rosa, uma pernambucana rabequeira, descoberta maravilhosa!</span><br /></div><span style="font-size:78%;"><br /></span><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;"><br /></span></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com31tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-80699362752559104142009-06-15T21:29:00.000-07:002009-06-15T21:44:19.231-07:00Se só, ou se mar<div style="text-align: justify;"><br /><div style="text-align: justify;">Caminho sem saber e sem pensar. Uma estrada esburacada, mas bonita. Canteiros de um verde escuro e galhinhos marrons, dando um tom meio sépia à paisagem. Era aí que tudo se passava. Tudo bem sereno. Não sabia se era só. Tinha ela bem do lado, mas às vezes ela ficava meio distante, como se não estivesse ali. Sensação de não saber mesmo. De não pensar. Mas já imerso em um turbilhão de pensamentos. Quando um sentia o calcanhar doer de tanto andar, paravam e sentavam na beira da estrada mesmo. Olhavam o nada acontecer e só sentiam. Sentiam o nada acontecer. Aconteciam, em meio ao nada. Queriam ver o mar. Mas o mar parecia estar longe dali. Não cabia azul àquelas cores. Então brincavam de imaginar o som das ondas. ‘Agora uma onda chegou e engoliu os meus pés. Eu estou deixando, estou gostando dessa sensação!’. Pareciam estar lá mesmo. Quase conseguiam pisar nas areias quentes de sol. Mas voltavam de repente a estrada esburacada, mas bonita. Canteiros de um verde escuro e galhinhos marrons, dando um tom meio sépia à paisagem. Em alguns buracos havia água. Era o máximo de mar que podiam ter. Não achavam lugar nenhum. Por que estavam ali? Pra onde iam? Não sabiam. Queriam ver o mar. Mas o mar parecia estar longe dali. Não cabia azul àquelas cores...<br /></div><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Larissa Fontes<br /><br />'Mas eu conto com você,<br />pois enquanto eu não me resolver,<br />eu vou lá, eu vou lá, eu vou..'<br /><br />Ao som de 'Teus olhos', da Ivete com o Camelo.<br /><br /></span></div></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com25tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-43793317237394158782009-06-14T14:55:00.000-07:002009-06-14T15:15:12.162-07:00Fui presenteada com o meu primeiro selo. Muito obrigada, Cássio. :*<br /><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf3mClyf5ABe5v1wZTGDL9DxCaw1dqDAEMEEQ9nOhilOtux1yvhFHLBH9-ntgFhvmti5PVj_KJM78ge0j-s6_XTht0dd4BoEBtn7pi6O8_dUlJlV_5pOdrNOg33L4pC6ZC5peaL9y5-faz/s1600-h/selo.png"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 200px; height: 196px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf3mClyf5ABe5v1wZTGDL9DxCaw1dqDAEMEEQ9nOhilOtux1yvhFHLBH9-ntgFhvmti5PVj_KJM78ge0j-s6_XTht0dd4BoEBtn7pi6O8_dUlJlV_5pOdrNOg33L4pC6ZC5peaL9y5-faz/s320/selo.png" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5347305626036250706" border="0" /></a><br /><br />Aqui vão as regras do jogo:<br /><br />A pessoa selecionada deve fazer uma lista com oito coisas que gostaria de fazer antes de morrer.<br /><br />É necessário que se faça uma postagem relacionando estas oito coisas e é necessário que a pessoa explique as regras do jogo.<br /><br />Ao finalizar, devemos convidar oito parceiros de blogs.<br /><br />Deixar um comentário para quem nos convidou.<br /><br /><br />Meus desejos:<br />- Construir um teatro;<br />- Ter uma livraria;<br />- Publicar um livro;<br />- Morar na europa;<br />- Viver de arte;<br />- Ser uma grande atriz;<br />- Ver uma montagem de 'Esperando Godot';<br />- Beber com a Narcisa Tamborideguy (HAHAHAH).<br /><br /><span style="color: rgb(51, 204, 0);"></span><br />Meus indicados:<br /><br />- 'Ouro de Mina', do meu querido amigo Vítor;<br /><a href="http://ouromina.blogspot.com/"> http://ouromina.blogspot.com/</a><br /><br />- 'Momentos', de outra querida, Raquel;<br /><a href="http://minhaspequenaspalavras.blogspot.com/">http://minhaspequenaspalavras.blogspot.com/</a><br /><br />- 'Minha vida em verso e prosa', de outro querido, Fábio;<br /><a href="http://minhavidaemversoeprosa.blogspot.com/">http://minhavidaemversoeprosa.blogspot.com/</a><br /><br />- 'Pés descalços', da sempre presente aqui, Tamires;<br /><a href="http://tamiresemcasa.blogspot.com/">http://tamiresemcasa.blogspot.com/</a><br /><br />- 'Em essência', da minha amiga linda, Iza;<br /><a href="http://umolhardebeleza.blogspot.com/">http://umolhardebeleza.blogspot.com/</a><br /><br />- 'Máquina de costura...', do Ricardo;<br /><a href="http://costurademaquina.blogspot.com/">http://costurademaquina.blogspot.com/</a><br /><br />- 'Prosopoética', do Guilherme;<br /><a href="http://prosopoetica.blogspot.com/">http://prosopoetica.blogspot.com/</a><br /><br />- 'Salve Jorge', desse inspirador poeta.<br /><a href="http://salvesalvejorge.blogspot.com/">http://salvesalvejorge.blogspot.com/</a><br /><br /><br />É isso, beijo! :*Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-58715356508214544792009-06-02T18:43:00.000-07:002010-09-04T12:17:26.055-07:00Sobre medo de gatos, uma seta e um alvo<div style="TEXT-ALIGN: justify"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:georgia;"><br /></span><span style="font-family:verdana;">Ela nunca gostou de gatos. Tinha medo. Não achava-os confiáveis. 'Aqueles olhos de quem vai devorar alguém'. Como uns que ela conhecia. E sonhava com eles. Com os gatos, quero dizer. Um branco. Era um sítio, depois uma festa. Uma festa num sítio. Havia um gato branco e ele a olhava. Como se sentisse o medo que ela lhe devotava, parecia enfrentá-la, provocá-la. Ela, ingênua, não conseguia manter o olhar desviado, sempre o voltava para aquela direção. Aquilo bicho pequeno, de que forma a faria mal? 'Olha o teu tamanho, olha o dele!'. Ele ainda a enfrentava. Ela preferiu se retirar. Foi andando com uma angústia que sabia que o alimentava. Corria, subia no parquinho das crianças. Ele a seguia. Um medo agora a invadia. Pavor. Correu mais. Entrou num salão de festas, na primeira porta entrou. Antes de fechá-la, ele conseguiu entrar. Nesse pulo, acordou. Outra vez sonhou também. Uma vez era normal. Mas de novo aquele gato branco? Aquele olhar. Aqueles olhos parecidos com...<br />Tinha o todo. Não mais bastava só metade, como antes já tinha chegado a querer. Havia muito. Tinha tanto amor no peito, podia explodir a qualquer momento. Os labirintos não mais a faziam se perder. Tinha achado o alvo. Seu alvo. Era a seta, antes perdida, agora em seu alvo certo. Um no outro. Seta e o alvo. Juntos. Não existiam medos. Nem os gatos a afligiam mais. Quer dizer, não tenho certeza disso. Eles não são confiáveis, já disse isso. Aqueles olhos... As portas estão todas escancaradas. Outras fechadas, trancadas, lógico. Mas as que realmente podem suportar o peso do que pode passar por si, sim, essas estão abertas! E entra tanta coisa linda, leve. Uma, a mais clara de todas, dá para um caminho. Uma estrada. Flores nos canteiros. Onde vai dar? Não sei. 'Me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada, quando se parte rumo ao nada?'.<br /><br />Olhe pro infinito, tire os pés da terra, respire, perca o ar. Ame!<br /></span></span><div style="TEXT-ALIGN: right"><span style="font-size:100%;"><br /><span style="font-family:verdana;font-size:78%;">Larissa Fontes</span></span><span style="font-family:verdana;"><br /><span style="font-size:100%;"></span></span></div><span style="font-size:100%;"><br /></span><div style="TEXT-ALIGN: right"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:verdana;font-size:78%;">Ao som de 'A Seta e o Alvo', do Paulinho Moska.<br /></span></span></div><div style="TEXT-ALIGN: right"><span style="font-size:100%;"></span><br /><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:georgia;"></span></span></div></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-37044357271794335942009-05-24T08:21:00.000-07:002009-05-24T13:37:27.418-07:00Ela, alada<div style="text-align: justify;"><br />"<span style="font-style: italic;">Eu podia não falar nada. Podia ficar calada agora e guardar tudo isso pra mim. Mas não. Vou falar, e se puder, vou gritar. Não me importo com quanto tempo dure cada momento perto daquele cheiro, com o que estou ameaçada a dizer quando isso acontece.</span>"<br /><br />Um silêncio doce invadia toda a sala. Sentia tudo tão doce de olhar, de tocar. Quase via flores passeando pelo vento como se fossem donas de asas. Ela própria se sentia alada. O que seria isso? Mas nem queria saber. Se se pusesse a divagar, aquela sensação poderia desaparecer e não queria sequer pensar nessa possibilidade. Olhava o mundo lá fora e via as pessoas flutuando de gentileza, se cumprimentavam com um sorriso a um simples passar umas pelas outras. E podiam até alimentar desses sorrisos! Os adeuses que se davam eram felizes como até-logos e tudo era amor. As cartas eram sempre mandadas. Abraçavam-se ao acordar. Os espelhos eram amigos. As vestimentas eram brancas de paz, esvoaçantes talvez, não sabia ao certo. Ela sorria. Flutuava. Seguia. Mais leve que o ar.<br /><br />"<span style="font-style: italic;">Quero mais é que quando elas venham, não passem sequer de um segundo para sair de mim e cheguem até aqueles ouvidos em forma de qualquer coisa que o valha.</span>"<br /><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Larissa Fontes<br /><br /></span></div></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-51749356393403132252009-05-15T08:31:00.000-07:002009-05-15T08:34:27.686-07:00Eles só queriam ir embora<div style="text-align: justify;"><br />Mais um dia de trabalho. Sol a pino em cabeças que tentam se proteger com chapéus e bonés. O mau cheiro castigando quase se torna imperceptível para aqueles homens. Alberto anda em meio a um verdadeiro mar de lixo. Parece um pouco perdido em seu mundo interior. Com um saco nas costas, junta coisas que lhe parecem úteis. Talvez um pedaço de carne que ele não tem como saber de que bicho é. É natural que não queria estar ali. Além da poluição atmosférica, uma poluição sonora hoje toma conta do lugar. Um caminhão chega para descarregar mais algumas toneladas de puro lixo. Um barulho imenso. Os urubus já fazem parte da paisagem. Sobrevoam as cabeças. Pousam tão perto deles, que podem os olhar nos olhos. Ele só queria ir embora.<br />Pensa em sua mulher. Ana. Ela esperava mais daquela vida de casados. Ele próprio esperava outro sentimento ao chegar em casa e olhar aquela pessoa a quem dedicava tanto amor. Não aquele que sentia hoje. Estava grávida e pensava no que seria da criança que estava prestes a sair de dentro dela. Comida achada depois de muito catar no meio do lixo? Às vezes pensava besteira. Mas ele só queria ir embora.<br />Nunca tinha ouvido uma música. Como seria? Como seria sentir nascer uma alegriazinha no fundo de seu coração ao escutar uma melodia doce? Queria saber como era tanta coisa. Queria viver. Queria poder passear de mãos dadas com Ana em um lugar bonito. Quem sabe a praia! A única visão que tinha do mar era aquela lá de cima. Do lixão. De seu local de trabalho. De sua casa. Sim, porque ele também mora ali. Ele só queria ir embora.<br />Ana observava o marido entre tanta coisa podre e sofria. Queria não chorar, mas algumas lágrimas insistiam em não se aguentar dentro dos olhos. Sabia o tanto que ele sofria. O tanto que sonhava. Queria compartilhar dos mesmos sonhos dele. Às vezes se irritava com as conversar ilusórias dele, mas no fundo queria ser igual. Se não podiam viver, ao menos ele podia imaginar. Sonhar. Viver tudo dentro da própria cabeça. Mas nem isso ela conseguia. A realidade a puxava de volta. Aquele cheiro a trazia de volta de um mundo do qual queria fazer parte. Dançar! Como ela queria saber o que é isso. Pegar na mão de Alberto, abraçá-lo e rodopiar os dois, juntos, por um grande salão em penumbra. Ela também só queria ir embora.<br />Ao acompanhar os passos do marido de longe, ela imaginou o filho pequeno, correndo sem roupa pelo meio de todo aquele lixo. Sentiu uma pontada de um desespero que não podia fazer nada para espantar. Porque daqui a poucos meses, aquilo poderia estar acontecendo. Ela só queria ir embora.<br />Sem que percebesse, Alberto chegou perto e a abraçou. Eles eram iguais. Estavam pensando nas mesmas mazelas. Compartilhavam todos os sofrimentos. Lágrimas unidas agora. Eles só queriam ir embora.<br /><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Larissa Fontes<br /><br /></span></div></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-32527406221033739042009-05-06T18:29:00.000-07:002009-05-06T18:48:47.000-07:00O rapaz mais triste do mundo<div style="text-align: justify;"><br />É diferente. Uma vontade tímida de tomar o mundo na mão, de querer ser o que se é sem temer, de olhar a coisa mais simples e se emocionar com a sua beleza. Dar um sorriso aquela pessoa que passa com ar precisado, estender a mão a alguém que tropeça. Mas não. Palavras de quase amor eram trocadas. Coitado daquele rapaz. Escreveu num bilhete em letras garrafais e garranchadas: "Só queria que ela sentisse quando pensasse nela, tão com força, que vaze pro físico e chegue a doer. Respiro bem fundo por 4 segundos e tento desenhar aquele rosto no preto dos meus olhos fechados. Mão na mão, não dizendo nada. Sua luz irradia a minha e juntas podem formar uma que irradie dessa vez o mundo!".<br />Eu o via de longe, escrever em papeis e logo após amassá-los e jogá-los no lixo com uma cara de mais triste do mundo. Quando se levantou, foi andando pela rua com um andar de mais triste do mundo e eu não resisti. Fui lá e revirei o lixeiro. Enfiei tudo na bolsa e vim.<br />Hoje o encontrei num ônibus da cidade. Sentava com postura de mais triste do mundo. Sozinho. Sentei na sua frente e me dei de contemplar aquela criatura. O peito extravasado. Talvez a criatura mais triste do mundo. Olhava o chão, a janela, o teto do ônibus. Mas nunca pra mim.<br />Há muito tempo atrás. Hoje eu não reconheceria seu rosto. Mas seu olhar de mais triste do mundo sim. Li o rapaz mais triste do mundo. Era lindo!<br /></div><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">L. Fontes<br />Escutando o Monólogo de Orfeu com a voz bêbadazinha do meu amado Vinícius. Êxtase!<br /><br /><br />P.s.: Ah!, vale ressaltar que o post passado foi do c..! Amei as várias opiniões, foi uma troca muito válida. Não vou continuar com a discussão porque sei que passaríamos toda uma vida e esse assunto ainda ia dar pano pra manga. Enfim.. Mas quem quiser ainda comentá-lo, sinta-se a vontade, é um laboratório contínuo, quem dirá eterno! Haha<br /><br /></span></div>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-1728097736529629213.post-35602255725454406262009-04-27T18:29:00.000-07:002009-04-29T13:32:54.045-07:00A insustentável leveza do amor - O amor e suas catástrofes<div style="text-align: justify;"><br />Fiz uma oficina de leitura em cena na semana passada, cujo tema era <span style="font-style: italic;">A insustentável leveza do amor - Peças sobre o amor e suas catástrofes</span>. Só peças sobre casais. Homem e mulher. Nenhum preconceito, mas eram peças escritas até o ano de 1996, então não se escrevia muito sobre homossexualidade nessa época. Enfim, o primeiro dia foi o que mais me cutucou. Sempre gostei de textos assim, já havia lido 'Eu sei que vou te amar' do Jabor mais de 4 vezes e qual não foi minha surpresa quando o Djalma Thürler, que estava ministrando a oficina, nos entregou o texto dessa peça pra trabalhar em cima dele. Intenso até dizer chega!<br />Começamos uma discussão sobre o amor simbiótico e as diversas formas de amar. Cada um apontava um caso que tivesse lido, visto num filme, ou até experiências próprias. A possessividade, o desespero, o sofrimento, os crimes passionais, etc. E assim fomos...<br />Num dado momento, perto do fim, o Djalma nos pediu que tentássemos lembrar uma música ou poema que falasse do amor como sinônimo de paz. O amor, não a pessoa amada. Até dissemos algumas, mas sempre percebíamos que sempre tinha uma pitada de dependência daquela pessoa, de desespero. O Djalme disse que está nessa busca há 8 anos e ainda não achou. Se souberem, me digam, porque fiquei curiosa.<br />Tô escrevendo isso aqui porque eu adoro quando vocês que me lêem comentam viajando no texto de verdade, e eu realmente queria saber o que vocês acham disso tudo. Qual a visão de vocês sobre o amor? Esse amor simbiótico. De dois. Contem seus casos, me digam se concordam com a visão desse amor perigoso, expressem suas opiniões, enfim.. Falem! Quero ver se isso dá certo.<br /></div><br />Vou deixar uma provocação pra vocês pensarem nisso:<br /><br />'O amor é que nem um submarino: até boia, mas foi feito pra afundar.'<br /><span style="font-size:78%;">(Trecho da peça 'Submarino' do Miguel Falabella)<span style="font-size:85%;"><br /><span style="font-size:100%;"><br /><span style="font-size:130%;">Tipo um laboratório pessoal, haha<br />Beijo pra vocês,<br />Larissa<br /></span><br /></span><br /><br /></span></span>Larissahttp://www.blogger.com/profile/09330919892459868876noreply@blogger.com25