Do lado de dentro
"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo. Repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante (...) Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder." Caio F. Abreu
sábado, 16 de fevereiro de 2013
A noite em que Vinícius veio visitá-la
Ele começou a sussurrar em sua voz embriagada:
"E é doce naufragar neste mar..."
Era somente pra ela que falava.
Era somente ela que ouvia.
A lua branca a vestia
e eram dele - e não dela -
os lentos dedos loucos que passeavam em seu corpo
a buscá-la a si.
A face, olhos fechados,
não era triste
era contentamento
por estar ali.
Ele a tinha em garras.
(Ela se tinha em garras).
"E ouço no tato
Acelerar-se-me o sangue
Na arritmia que faz meu corpo vil
Querer teu corpo moço
E te amo, e te amo, e te amo..."
E no toque exato
mulher, expandiu-se
e foi Atlântida!
No silencio
foi oceano!
Estremeceu sem dizer nada,
se teve enfim
e deu-se, indissolúvel, aquele de voz molhada.
"E depois de muito mar,
E muito amor,
Emergindo de ti...
Ah, que silêncio pousa,
Ah, que tristeza cai..."
E emergindo de si,
um pranto profundo feito seus rios
a tomou feito vômito
E chorou choro de êxtase,
de amor por ele,
que veio visitá-la.
P.s.: os trechos entre aspas são do poema "O Mergulhador", dele, Vinícius de Moraes.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Toda: não
Se faz de mergulhador
e dá de ir cada vez mais fundo
no rio dourado. É profundo,
mas não tem medo
e mesmo sem tubo de oxigênio
cada vez mais nada, nada, nada.
E não. Nada.
"É pra se ter medo mesmo".
Não conto, mas você sabe.
Sente e
nunca mente.
Eu minto
- pra mim -
e você não acredita.
Muita ousadia
conhecer o outro mais do que ele mesmo.
Um "eu quero você" e eu corro
de desejo
Um "eu vou gritar" e eu morro
de medo.
O livro da morte
incita e obriga que eu viva
que esteja ao seu lado e nada diga.
E eu toda:
não.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
O Senhor das palavras*
“O poema é a soma/ da imagem como som./ A metáfora assoma/ quando o poeta tem o dom”, diz em um poema cujo nome se funde com o seu próprio: Poemarcos. E não poderia ser diferente, já que parece mesmo falar de si. O elegante livreiro, poeta, escritor, compositor (e boêmio de carteirinha!), Marcos de Farias Costa, está sempre disposto a bater um bom papo e não há assunto que dispense. Coisa boa é adentrar pelas portas da Livraria/Sebo Dialética, na Rua do Uruguai em Jaraguá, com bastante tempo para usufruir horas em sua companhia.
E foi assim a entrevista ao O JORNAL: uma conversa gostosa em meio ao cheiro bom dos livros.
Há seis anos surgiu a Dialética: “Eu já tinha o imóvel e pensei muito entre fazer um bar ou um cassino, mas terminei optando pela livraria”, e brinca: “O que eu considero uma traição!”. Começou com um acervo de apenas mil obras, depois adquiriu a biblioteca com oito mil livros de um advogado falecido. Hoje, também vende livros novos e compra antigos por preço justo. Tem um departamento de livros raros e primeiras edições: “Muita gente coleciona bebidas, carros, mulheres. Mas poucos colecionam livros”.
Formado em Psicologia, nunca exerceu a profissão por não se sentir vocacionado e foi bancário por muito tempo. “Minha formação mental mesmo foi na Praça Deodoro. Lá conheci poetas, gente de teatro, etc. Foi onde conheci Jorge Cooper, que me abriu os olhos para a literatura, eu que já tinha uma influência de casa, um grande respeito pelos livros”, lembra.
“Quando o conheci foi aquela epifania. Nunca vi um homem tão culto, sensível e agradável”, descrição que cai como uma luva no próprio Marcos. “Nos parecíamos naturalmente: éramos da noite, bebíamos muito, fumávamos, mas minha poesia não tem nada a ver com a dele”, fala com orgulho e saudade visível do homem que foi seu grande amigo e espécie de guru na concepção de vida.
“Eu morava perto da rua do hospital (hoje Barão de Maceió, a rua da Santa Casa), então, sempre fui da boemia. Vivia muito nos bares e cabarés da vida. Foi uma formação boêmia, etílica e cultural, que além da Praça Deodoro, foi no Jaraguá”. Como exímio boêmio que é, confessa, divertido: “Passei 10 anos de porre. Dos 30 ao 40 anos, eu passei bêbado. Foi o auge!”.
“Minha história com a música é fácil de falar. Ia muito à rádio Difusora e também a rua do hospital era repleta de músicos. Além disso, todos lá em casa gostavam de música, mas meu irmão (o psiquiatra e também poeta e compositor Marcondes Costa) é quem mais se sobressaiu, inclusive tendo uma música gravada pelo Luiz Gonzaga. Comecei a compor nos anos 70 e continuo compondo até hoje”.
Editou por cinco anos a revista Dialética, que se dedicava à tradução de poemas, ensaísmo crítico e literatura comparada. Nos anos 80 apresentou o programa de rádio “Canto da Terra” na antiga rádio Difusora, que apresentava somente artistas alagoanos. Ficou à frente do jornal Fonfon, sobre música popular, e escreveu artigos de forma independente, que publicou em diversos jornais. Artigos estes que compõem o livro À Queima Roupa, publicado em 1995.
Do poema ao desaforismo
Aos 28 anos, em 1982, publicou seu primeiro livro, O Amador de Sonhos, no qual faz pulsar o leitor com “Primeira quase uma elegia de amor metafísico”. Depois anos depois, lançava sua segunda obra, Ócios do Ofício, onde o curto “Jano Bifronte” (Quase perco a cabeça/ por aquela mulher./ As duas cabeças.) rouba a atenção. Em 1988 publicou Coisas & loisas, que define como desaforismos. Os contos eróticos reunidos no – segundo Antônio Callado em depoimentos reunidos na orelha de À Queima Roupa – orgiático “Per os, per anum, per vaginam” foram lançados em 1991.
Depois de uma considerável pausa de sete anos na poesia, também em 1991, lançou a terceira coletânea de poemas, dessa vez, com uma maior quantidade, A quadratura do círculo, em que “À maneira de Jorge Cooper” parece confessar seu desafeto – quase medo – para com a velhice. Em 1992 e 1993 foram lançadas, respectivamente, “Não tem tradução” e “Transmissões”, antologias poéticas bilíngües.
Em 1997 publicou “A comédia de Eros”, em que Marcos se mostra mais afiado, erótico e ardente do que nunca. E, entre seus vinte e cinco poemas, é complicado apontar o que se destaca – “Amor fati”, “Autobiografia sexual machista”, “Maceió na cama”, “Niphleseth”, “Psiu! Ela está gozando”, “No bordel da gorda Gerda”, “Meus oito ânus” e “Pirralha piranha”. Em Poemas Profanos, o curto “Aura” culpa o leitor pelo encanto da poesia e ainda o presenteia com “Autobiografia”, “Lilith”, “Soneto no Shopping”, “Pontos cardeais” – onde se diz limitado por problemas de saúde e confidencia pensar demasiadamente na morte – e “Vi Vi”.
“Bibliografia crítica sobre João Ribeiro” foi lançado em 1998. Mais uma antologia foi lançada em 2000, intitulada Doce Estilo Novo, lançada em mercado nacional e onde, em nota, Gilberto Mendonça Teles frisa que o Brasil vai além do Rio e São Paulo, que “há em cada capital brasileira, hoje, alguns bons, excelentes poetas, com vários livros publicados pelas editoras locais e, por isso mesmo, desconhecidos (ou quase) da crítica, dos programas escolares e do resistente leitor de poesia” e que vem daí o sentido principal da publicação.
Atualmente, Marcos tem dois projetos prontos aguardando revisão para serem lançados no segundo semestre: um mergulho no universo lésbico, no intitulado Cantata Sáfica, somente de "poemas de mulheres para mulheres"; e uma tradução do texto “A História do Soldado”, do poeta suíço Ramuz. Pretende também terminar um dicionário lésbico, ainda sem data prevista.
A riqueza de vocabulário está sempre presente em toda a sua obra. Riqueza esta que não chega nem perto do hermetismo; pelo contrário, é poesia simples, mas nunca simplória ao leitor sensível. Trechos de sua vida, memórias – sempre a boemia – e confissões podem ser achados em muitos de seus versos. Transcende o sentido de dom, ele é a poesia. Ah, quem dera essa reportagem pudesse rimar!
Texto e foto: Larissa Fontes
*Matéria publicada no impresso O Jornal, em 12 de junho de 2011, na página Universidades.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
O Poder da Cura de Nossas Rezadeiras*
Olhado, quebranto, espinhela caída, vento virado, fogo selvagem, ventre caído e erisipela são algumas das doenças quase folclóricas mais comuns no universo popular dessas senhoras.
A antropóloga Sílvia Martins - professora PhD em antropologia e pesquisadora do laboratório de Antropologia Visual em Alagoas (Aval) do Instituto de Ciências Sociais da Ufal – realizou uma pesquisa de campo sobre o xamanismo indígena entre os Kariri-Xocó durante nove meses. A pesquisa serviu de base para o doutorado pela Universidade de Manitoba, no Canadá. Xamãs são os índios curandeiros que, como nossas rezadeiras, praticam os rituais de reza com muita frequência - inclusive para retirar mau olhado, por exemplo – tanto em indígenas como em não indígenas. Conhecimento este, que não só se relaciona com, mas é, na verdade, uma das origens da prática das benzedeiras. Em sua tese, intitulada Gender and Reproduction: Embodiment among the Kariri-Shocó of Northeast Brazil (Gênero e Reprodução: Corporalização entre os Kariri-Xocó do Nordeste do Brasil), descreve rituais e práticas de cura que comprovam como o xamanismo que praticam é um conhecimento médico que tem eficácia.
Ela diz que é preciso destacar que a prática das curandeiras também se trata de um conhecimento médico: “No nosso contexto cultural, há esse reconhecimento de que o mau olhado não é curado pela medicina. Eu conheço casos onde os próprios médicos indicam que se leve o paciente a uma benzedeira”.
A história das mulheres que tem o dom da cura
A encantadora Dona Lila (Foto por mim)
Começou a manifestar sua mediunidade muito cedo. Com 7 anos, já recebia entidades: “Minha mãe dizia que eu era doida, porque naquela época ninguém entendia o que era aquilo”. A levaram para ver um senhor espírita, que disse que “a menina tinha um mistério”. Ficou com tanto medo, que correu para a igreja e fez tudo quanto é promessa para tentar se livrar daquilo. Pagou inúmeros juramentos, todos em vão. “Eu não queria me assumir de jeito nenhum, tinha muito medo”, admite.
Teve que se entregar depois de um sonho que teve. Sonhou com uma moça de cabelos compridos, vestida de calça jeans e camisa de manga comprida azul que chegava em sua casa para receber uma cura. No outro dia, a mulher apareceu exatamente como no sonho: “Aí não teve jeito, tive que aceitar”.
Frequentou a Federação Espírita por alguns anos e também passou um tempo no Candomblé, mas depois da morte da mãe e do pai-de-santo responsáveis pelo terreiro, não voltou mais. Prefere hoje, fazer tudo do seu jeito.
Com relação às curas, diz que as realiza há muito tempo. Desde criança, quando a mãe ou os irmãos adoeciam, ela prontamente pegava qualquer galhinho e dizia que ia curá-los. “A primeira pessoa que eu curei, foi o meu irmão. Ele comeu uma jaca mole e passou muito mal. No meio da noite, alguma coisa me tomou e fui atrás dos restos da jaca que ele tinha comido e fiz um chá. Ele tomou, vomitou todos os caroços e ficou bom. Fiz isso tudo fora de mim, eu não lembro de nada, quem contou foi minha mãe. Disse que meus lábios de repente cresceram. Era o caboclo me tomando”, conta.
Dona Lila não sabe ler, nem escrever, mas diz que o que sabe “ninguém aprende em escola, é um dom que Deus dá”. Também não cobra nada por suas bênçãos e não tem hora para receber quem precisa de ajuda: “As pessoas vem a qualquer hora, vem desesperadas e pedem pelo amor de Deus. Falou em Deus, minha filha, eu não tenho como negar”.
“Não sei ler, não sei escrever, não sei nada. Mas sei todas as minhas orações e é o que importa”, é categórica. Por ser índia, diz que as pessoas começaram a procurá-la para curas, mas que não sabe dizer como começou a, de fato, realizá-las. Também não tem ideia de como aprendeu tudo o que sabe: “Nunca ninguém me ensinou nada, tudo chegou em mim como um dom”. Prepara garrafadas de todos os tipos e com uma quantidade enorme de ingredientes: vinho branco, raiz de caiubim, raiz de jurubeba, samba-caitá, pega-pinto, banana papagaio, rosa garrida, pra-tudo, babosa, pinhão roxo, atelã de Santa Bárbara, flor de colônia e mais ainda uma infinidade plantas de nomes populares.
Como uma boa devota do Padre Cícero, tem uma relação forte com Juazeiro do Norte, para onde viaja sempre que pode para ver seu santo padrinho e trazer o Bálsamo da Vida, um elixir que se acredita ter sido receita do próprio Padrinho Cícero e que cura tudo. Foi lá que ganhou o que, segundo ela, é a coisa mais poderosa de sua vida: uma miniatura de Santo Antônio Caminhante. O segredo é fazer um pedido e esconder a criança que ele carrega, só devolvendo-a quando obtiver o que se deseja.
Neta da também curandeira, Hortência Pereira, cresceu vendo as atividades da avó, a quem tinha uma ligação forte, mas nunca quis seguir seus passos. Um dia foi acometida por uma erisipela (uma infecção de pele que invade a gordura e se instala nos vazos linfáticos) que não sarava de jeito nenhum e assim, durou muito tempo. Nas crises enfrentadas por causa da doença - talvez em um estado onírico - ouvia vozes estranhas e em meio à agonia, fez um voto de que se ficasse boa, curaria quem precisasse, sem cobrar nada por isso. Promessa esta, que é cumprida seriamente até hoje.
Dona Lóla conta que ainda lembra da primeira cura que realizou, há mais ou menos 35 anos atrás: “Uma menina chegou aqui chorando, muito atordoada, com uma dor de cabeça muito forte. Eu coloquei minhas mãos nela e rezei. Ela ficou boa e espalhou pras pessoas. Depois desse dia, muita gente começou a me procurar”.
Apesar das condições humildes, faz muita caridade e para ela chega a ser uma ofensa querer pagar pelas suas bênçãos: “Eu não cobro um centavo porque não sou eu quem cura, é Deus”, esclarece. Orações, cantos, velas, plantas, garrafadas e lambedores são seus únicos instrumentos. “Eu acendo a vela e assim, consigo saber o estado da pessoa, é o meu contato com o anjo da guarda”, explica, frisando que coisa que aceita de bom grado é doação de velas, já que as usa em excesso.
Há dois anos, sua saúde começou a pedir atenção. O ritmo de trabalho era pesado demais, as pessoas desesperadas batiam em sua porta até pela madrugada. Desde então, aconselhada por seu médico, durante quatro dias na semana, no período da tarde, distribui senhas para o atendimento, embora confesse que é impossível recusar ajuda a qualquer pessoa que a procure: “Me sinto mal em negar”.
Pessoas de diferentes classes sociais procuram ajuda na religiosidade popular das benzedeiras. A dona de casa Adjane Lima, 18 anos, diz que percebeu que sua filha de 20 dias estava bocejando demais, muito quietinha e abatida. Recebeu conselhos para levá-la até a casa de Dona Lila, que é muito conhecida no bairro do Jacintinho, onde mora. “A cura dela é de 3 dias. No primeiro, ela rezou na neném e amarrou essa fitinha vermelha no braço dela. É a segunda vez que venho e já senti melhora”, conta. A professora aposentada, Maria das Graças Carvalho, 60 anos, conta que cresceu ouvindo que existem pessoas que tem energia negativa que até sem querer, podem lhe fazer mal: “Já aconteceu comigo de, em um ambiente de trabalho, eu começar a murchar mesmo, como uma planta. Passei mal e depois me levaram numa benzedeira. Ela me abraçou, me recebeu com muita alegria e rezou em mim. Melhorei muito e depois disso, cansei de levar meus filhos pra ela tirar mau olhado. É o poder da fé”.
Espinhela caída é o nome popular de uma doença chamada Lumbago. Causa dor na boca do estômago, costas e pernas e cansaço físico anormal. Espinhela é um osso pequeno que fica no meio do peito, entre o coração e o estomago que pode envergar para dentro. A benzedeira tira a medida do dedo mínimo ao cotovelo e depois, de um ombro a outro, se as medidas não coincidirem, é detectada a doença. Segundo a crença, médicos não conseguem identificar.
Vento (ou Ventre) Virado é mais acometido em crianças, geralmente quando se brinca de jogá-las para o alto. Basicamente é a sujeição a uma força maior do que se está acostumado. Causa mal estar, vômito e diarréia. As benzedeiras viram a criança de cabeça para baixo e batem seus pés na folha de uma porta.
Fogo selvagem é uma doença de pele, cientificamente conhecida como Pênfigo. Nascem bolhas no couro cabeludo, peito e costas e podem se espalhar pelo corpo todo – até internamente, quando mais grave. Não se sabe o que causa, mas o remédio é uma benzeção.
Erisipela é uma infecção de pele causada por bactérias e pode ser acompanhada de febre. Invade a gordura e se espalha pelos vazos linfáticos. Geralmente ataca as pernas, principalmente de mulheres. Aprincípio, aparecem manchas vermelhas, depois incham e surgem bolhas. Também é conhecida por Vermelhão e Gota.
Fotos e Texto: Larissa Fontes
*Matéria publicada no O Jornal do dia 3 de Abril de 2011, na página Universidades e ganhadora do Prêmio Braskem de Jornalismo 2011, na categoria estudante.
domingo, 16 de janeiro de 2011
Quando são um só
sábado, 1 de janeiro de 2011
O Quebra de Xangô - O medo de um possível retorno
A Umbanda, apesar de afro-descendente, foi formada dentro da cultura religiosa brasileira. Por isso, sincretiza elementos do espiritismo e do catolicismo. Segundo Pai Manoel, basicamente, é um Candomblé mais leve, já que os rituais não são tão intensos. O Babalorixá do Centro de Umbanda Ogum Megê, Pai Júlio, explica que a iniciação na Umbanda, por exemplo, não requer uma reclusão de 1 mês, apenas algumas restrições, como não levar sol e sereno e não ingerir certos alimentos. Os Orixás cultuados são os mesmos (sem as qualidades) e mais algumas entidades que diferente das do Candomblé, foram pessoas que viveram na terra, como Pomba Gira, Preto Velho, Caboclos e Ciganos. Nos tempos das senzalas, os negros, para poderem cultuar seus Orixás, procuraram características em comum de cada um com os santos da Igreja Católica, para então, usá-los como camuflagem em altares que na verdade, escondiam embaixo, os assentamentos das divindades africanas. Oxalá correspondia a Jesus; Ogum, a São Jorge; Oxum, a Nossa Senhora Aparecida; Iemanjá, a Nossa Senhora da Conceição; Iansã, a Santa Bárbara; Xangô, a São João Batista; Nanã, a Sant’Ana; Oxóssi, a São Sebastião; e Obaluaê, a São Lázaro. Este é um sincretismo que não existe no Candomblé.
Um dos pontos mais delicados em se tratando das religiões afro-descendentes é o holocausto de animais, os polêmicos sacrifícios. Quando perguntado sobre esse assunto, Pai Júlio, que tem 68 anos de vida espiritual e faz questão de dizer que se relaciona bem com todas as religiões, foi logo buscar sua Bíblia para frisar uma passagem do livro de Jó, capítulo 42, versículo 7: “’Tomai, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei um holocausto por vós’, Jesus disse isso. As pessoas condenam essa prática, mas não procuram estudar sua religião para perceber que deriva dela própria. Está aqui, está na Bíblia”, explica. Tanto no Candomblé, quanto na Umbanda, animais como galinhas, pombos, bodes, bois e carneiros são oferecidos aos Orixás. Nada é jogado fora, todas as partes do animal servirão de alimento. A pessoa especializada no sacrifício não pode deixar o animal sofrer ou sentir dor, do contrário, a oferenda não será aceita.
Os Babalorixás e Iyalorixás dizem que é preciso que as pessoas saibam que as religiões afro-descendentes, como todas as outras, buscam o caminho de Deus. O preconceito é filho da ignorância. Existem falsos profetas, mas o mal, assim como o bem, está dentro de cada um.
Fotos e Texto por Larissa Fontes
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Retratos de um passado revelado
Fotos por mim
Não é nada comum nos dias de hoje, mas, ao passar pela famosa Feira do Rato, no Centro da cidade, pode-se vê-la: ultrapassada, mas se impondo, exposta diante de tanta tecnologia e debaixo de um guarda-sol entre os trilhos do trem. Hoje é só uma caixa vazia servindo para chamar a atenção dos que passam. Triste fim para quem há dez anos atrás era responsável por uma enorme produção de retratos revelados na hora. Desbancada pela tecnologia.
No início do século, o exercício da fotografia era feito através de uma união de câmera com laboratório, a câmera lambe-lambe. Ganhou esse nome engraçado por conta da prática da revelação das fotos: o papel fotográfico teria que ser banhado em alguns químicos, um deles, o fixador, que, como o próprio nome diz, fixa a imagem no papel. Os fotógrafos passavam a língua na foto durante essa lavagem para sentir, pelo gosto, se estava pronta.
José Aurino dos Santos, 40 anos, nasceu no interior de Alagoas, na cidade de Anadia. Até os 16 anos cortava cana quando resolveu se mudar para a capital. Já em Maceió aprendeu tudo com o irmão, o já fotógrafo Antônio dos Santos. A partir daí começou a profissão de retratista, controlando durante muito tempo a câmera lambe-lambe. É a esse ofício, praticamente extinto, que dedica mais da metade de sua vida.
Quando a era digital começou a surgir, Seu José ainda tentou continuar com seu método tradicional e até chegou a pensar em desistir, mas, segundo ele, é a única coisa que sabe fazer. Com as câmeras digitais sendo comercializadas e máquinas reveladoras sendo criadas, ficou cada vez mais difícil conseguir comprar o material necessário para a revelação das fotos - os químicos não são mais achados com a facilidade de antigamente. Relutou, mas foi obrigado a se adaptar ao novo mundo, comprando uma câmera digital e uma pequena impressora bem operacional, que até dá a opção de alguns retoques na foto. “Antes, isso aqui era cheio de lambe-lambe. Foi-se acabando, alguns largaram a profissão, outros morreram. E o movimento caiu muito. Tem dias em que eu só faço uma foto. Eu sinto falta porque, além de tudo, é uma tradição e muita gente admira. Na semana passada chegaram alguns turistas aqui e pediram para que eu fizesse foto deles, mas quando viram que era digital, não quiseram mais. Queriam mesmo era da lambe-lambe”, diz.
Ele confessa que foi difícil aprender a lidar com a tecnologia, mas, para isso, contou com a ajuda do filho adolescente. Enquanto levou 15 dias para dominar sua lambe-lambe, passou mais de um mês para se familiarizar com o aparato digital. E embora admita que é muito mais fácil trabalhar com o equipamento novo e que “foi a melhor coisa que inventaram para quem trabalha com fotografia”, diz que se pudesse voltar a usar a câmera antiga, o faria sem vacilar.
Cícero Benedito, 43 anos, mais conhecido como Kiko, divide seu ponto de trabalho com Antônio dos Santos, o Tonho Matuto, 51 anos – o irmão do Seu José – com quem também mantém uma sociedade. Os fregueses e o dinheiro são divididos igualmente entre os dois. Também foram obrigados a se renderem aos equipamentos digitais.
Kiko conta que ficou triste, até tentou adaptar a lambe-lambe para o digital, mas não conseguiu. Faz dois anos que ela parou de vez. “Eu sinto muita falta do processo todo, era tudo artesanal mesmo. Quando a foto saía com alguma mancha ou detalhe que o freguês não gostava, a gente fazia retoque com um palito, molhava mais um pouquinho e pronto. Tudo se resolvia”, explica. Embore concorde que é muito mais eficaz trabalhar com tecnologia, reclama dos custos: “Se essa câmera digital quebrar, é muito difícil consertar, tem que mandar para assistência técnica e ainda é muito caro. Com a lambe-lambe não tinha problema, a gente mesmo dava jeito se quebrasse ou se não estivesse funcionando bem”.
O local de trabalho dos dois é mais organizado do que o de Seu José, em plena Feira do Rato. Quando passam ônibus de turismo, eles são uma verdadeira atração, as pessoas colocam logo suas câmeras para fora da janela para registrá-los. Causam o furor da descoberta de um animal em extinção. “Caímos no esquecimento”, diz um Kiko tristonho, mas orgulhoso de sua arte. “O bom é olhar a foto e pensar ‘fui eu que fiz’. Porque nós fazíamos mesmo, fazíamos tudo”. E faziam mesmo. Com todo o significado dessa palavra. “Depois de 20 anos, tem gente que passa por aqui e diz que ainda tem foto comigo, é uma alegria”.
Um autodidata da fotografia
Com um sorriso sincero, uma voz forte e muita história pra contar, Seu Manoel da Taboca, 72 anos, é um gênio da fotografia não descoberto. Nasceu em Anadia, onde foi criado na roça. Aos 16 anos viajou para São Paulo para trabalhar em plantações. Lá conheceu um japonês que tinha uma câmera fotográfica. Quando a viu, encantou-se. Começou a aprender assistindo ao amigo revelar as fotografias.
Mesmo tendo perdido o dedo polegar da mão direita num acidente, foi muito difícil deixar a roça e, por muito tempo, a fotografia foi apenas um hobby. Mas desde que aprendeu, não parou de inventar engenhocas e formas de melhorar o processo. Ainda trabalhando em uma usina, montou um laboratório em casa e revelava suas fotos nos fins de semana. “Fiz uma câmara escura e um quadrinho com um papel na frente para a luz entrar difusa. Mas na época eu nem sabia que aquilo era um difusor, só sabia que era para a luz entrar espalhada”, descreve.
Ele relembra, com os olhos cheios de saudade, que perdeu a visão do olho esquerdo por conta de uma pedrada, mas que nem isso conseguiu atrapalhar seu amor pela arte visual. “Eu amava aquilo, ver a imagem surgindo aos poucos num papel em branco. Eu chamava todo mundo em casa pra ver”.
Um dia viu numa praça dois fotógrafos trabalhando com câmeras lambe-lambes. Até então, não conhecia a máquina que dava a possibilidade de revelar as fotos sem precisar de um laboratório. “Fiquei impressionado olhando eles trabalharem. Daí comecei a construir uma lambe-lambe. Criação minha, fiz e aprendi a usá-la sozinho. Fui me aperfeiçoando e comecei a ganhar dinheiro trabalhando como fotógrafo. Pedi demissão da usina”, conta todo orgulhoso.
Em seu percurso, já estava no Mato Grosso, quando achou uma praça que não tinha fotógrafo. Armou sua câmera e fez do local seu ponto dali em diante. Em seis meses, diz, ganhou o equivalente a 20 mil reais e resolveu realizar o sonho antigo de voltar para Alagoas. Chegou trazendo a novidade da câmera com filme quando os poucos fotógrafos que já existiam usavam chapas e papel. Começou a fabricar as câmeras por encomenda, que também foram instaladas pela empresa Egídio Fotografias, onde Seu Manoel trabalhou. Também prestou seus serviços ao extinto Jornal de Alagoas nos últimos seis meses de vida da empresa.
“Mais ou menos em 67, quando chegou a fotografia colorida, ninguém mais queria tirar foto em preto-e-branco. Que desgosto que dava”, relembra. E completa: “Comecei a estudar um jeito de preservar a lambe-lambe, o processo de revelação do colorido era muito difícil e caro. Eu quebrava a cabeça, mas não desisti. Sempre fui criativo e um dia consegui”. Assim Seu Manoel da Taboca criou e sustentou seus 17 filhos.
De fato, não se interessou pela novidade dos equipamentos digitais, parando de fotografar em fevereiro de 2006, após 39 anos de carreira. “Eu tenho saudade, sonho muito com o tempo em que eu trabalhava com fotografia. Sinto falta demais”, emociona-se.
Fotos e Texto por Larissa Fontes
*Matéria publicada no O Jornal do dia 21 de Novembro de 2010, na página Universidades.
sábado, 4 de setembro de 2010
Resiliência e Fé
Encontramos Pedrinho - como é conhecido, embora seu nome seja Tayrone. Nada que comprove isso, pois seus documentos foram roubados enquanto dormia na rua. Tudo o que tem se resume a um saco contendo alguns poucos objetos e várias garrafas. Estava disposto a conversar e ajudar-nos na nossa matéria.
Pedrinho é alcoólatra. Bebe só de raiva. Raiva de tudo, da família, da mulher. Gosta de conversar e costuma despertar a simpatia e confiança das pessoas, como os porteiros do terreno, que o deixam entrar e dormir seguro nos fundos. As vezes as palavras fogem, ele se perde nas falas, conseqüência de tantos anos de álcool no organismo.
Eu o olhava e tentava afastar o pensamento clichê de: “Deus, obrigada por tudo que tenho!” com o “ele escolheu isso”. Mas era inevitável olhar para os meus pés brancos com unhas azuis impecáveis, enquanto na minha frente aquela criatura tinha sujeira até na ponta do nariz. Em que momento alguém escolhe uma vida dessas? Nos olhos ainda pude ver uma vontade preguiçosa de mudar, lá no fundo.
Já levou tiro e facada. Diz que nunca usou drogas pesadas, só “fuma um” quando tem. Faz uns bicos catando latinhas para ganhar uns trocados. Quando não arruma nada, mistura álcool de posto com água mesmo. Quase não come. Toca violão e guitarra. Foi integrante da banda Massa Rara, mas atualmente não está tocando nada.
Tem família, apesar de ter sido abandonado na infância. Informações confusas ao longo da conversa. Mesmo que lhe ofereçam uma cama, prefere dormir no chão. Tem medo do escuro e de ser queimado dormindo na rua. Vezenquando toma coragem e vai visitar a mãe. O repórter pergunta sobre seus Natais: “– Natal é uma figura linda. É coisa de Deus. Ano passado eu dei um presente pra minha mãe. Um brinco”. Disse isso com orgulho.
Parece não conseguir mais absorver e entender que a raiva que sente e o leva a beber só fere a ele mesmo. A conversa me fez pensar o caminho inteiro de volta a redação. Que mãe não luta pelo seu filho? Que substancia lícita é essa que acaba com um homem física e mentalmente? Que sistema é esse? Acho que essas perguntas vão fervilhar pra sempre na minha cabeça. Acho que vou sempre lembrar que fiquei de frente pra esse homem-se-auto-destruindo que me disse coisas.
Lendo um artigo do professor Luiz Carlos Cabrera na revista Você S/A, uma palavra me chamou a atenção: resiliência. Resiliência, segundo o Aurélio, é a “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação elástica”. O professor diz que o ser humano desenvolve ao longo da vida, por vários motivos, uma capacidade de resistir às tensões. A palavra mágica, no fim, quer dizer “dar a volta por cima”.
Fica a inquietação: como aumentar a resiliência de uma pessoa sem qualquer perspectiva, como o nosso personagem Pedrinho? No mesmo artigo, o autor ainda diz que diferente de um material qualquer, que ao fim da tensão volta a ser o que era, o ser humano tem a chance de sair dela numa verdadeira transformação, já que tem a capacidade de aprender e acumular experiência.
Ele ainda fecha seu artigo de uma maneira que, com toda a licença, vou precisar terminar o meu também. Uma citação do apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. Não perca a fé em você mesmo.
Ainda arriscaria que não percamos a fé no outro também.
Então, as palavras do dia são: Resiliência e Fé.
domingo, 27 de junho de 2010
Prêmio Dardos
Já faz algum tempo que recebi esa homenagem do Gui, dono do Prosopoética - atualmente está exercendo a função de pai babão da HannaH - e só agora, vim retribuir o presente. Gui, não sei se mereço prêmios, mas saiba que o daria mil vezes pra você. Obrigado pelo carinho de sempre!
Sobre o selo (palavras de quem indica o prêmio):
“O Prêmio Dardos é um reconhecimento dos valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esse selo foi criado com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agrega valor à Web.”
Por isso, indico o Prêmio Dardos para:
1- Pra não faltar amor
2- Reconvexando
3- Fábrica de Palavras
4- Máquina de Costura
5 - Momentos
Agora, o que cada blog indicado pode fazer:
1. Exibir a imagem do selo em seu blog;
2. Linkar o blog pelo qual recebeu a indicação;
3. Escolher outros quinze blogs que receberão o Prêmio Dardos,
4. Avisar aos escolhidos.
Muito bem! É a hora (e a vez) de vocês.
Dardos neles/nelas!!!!!
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Mas eu penso tanto...
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Sobre o frio, Vinícius e um amanhecer rosa
De repente, ao acordar, um céu rosa surpreendentemente faz desaparecer frio e dor. Pelo menos por alguns instantes. Tudo se fez rosa. Rosa.
Um Vinicius da voz sempre bêbada sussurrava palavras de amor em meu ouvido. “Mulher mais adorada!” Quase sentia o hálito quente descendo pela nuca. Esquentando o corpo e o espírito. “Essa saudade de estar perto, se longe. Ou estar mais perto, se perto.” Alguém de longe soprava uma flauta doce, chorosa. Talvez numa sala escura e quente. Quente, mas fria. Entende-me? Não? Nem eu. “Cada hora que passa, e mais porque te amar.”
Larissa Fontes
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Três na Nossa
"Próximo a você deve ter uma janela, uma porta esperando, chegue até ela, dispa-se e sinta então os tais arrepios que anteriormente elucidei. Sabe o que é? Uma forma sutil de o seu corpo dizer: saudades!" Léo Moreira.
"Eu acredito na poesia. Acredito em todas as formas de amor. Acredito nas letras de musicas e nos sentimentos que levaram alguém a escrevê-las. Acredito na beleza da tristeza e na forca que ela nos dá." Larissa Fontes
"A idéia de ‘encontros’ sempre me pareceu muito encantadora. Não sei o porquê, nem de onde vem. Mas imagino um grande tabuleiro, e peças marcadas para se encontrarem em algum momento deste jogo." Vitor Andrade
Algo como um laço, que uma vez tocados por ele, nunca mais poderá largar.
E é assim, a nossa bossa. Três na Nossa.
http://tresnanossa.blogspot.com
Visitem-nos.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Sobre um véu, versos mudos e rodopios
Leveza de ser levado por um som. Sem sentir-se. Só se deixar levar. Especial. Pés num compasso ritmado. Volitavam. Os pés, alados. Papapapapapa. Entre os panos do véu, no rodopio, pode então ver. Olhos se tornam bolas de fogo prestes a sair queimando por aí. E a vestimenta parece inútil, pois cada um podia ser apenas luz. Vestidos de luz. E ela aceita o “sair queimando por aí” e enfrenta o fogo. Transpassando pensamentos, trocaram versos mudos que se encontrariam mais pra frente, sabe-se lá onde. A areia de uma praia distante, que acarinha os pés e machuca os olhos. Que entender de tudo e nada? Por um momento deixar de ouvir aquele som. Sem sentir-se ainda. Se deixando levar por algo tanto inexplicável que só depois de 5 minutos se percebeu meio bambeando no meio daquela roda. Se desfazer toda em água, jorrar, encharcá-lo, penetrar em pele, poros, sangue. Sê-lo. Volta a rodopiar. No entre-véu, jura que viu vazar de tão grande, a alma linda que possuía. Ninguém mais viu. Mas ela podia enxergá-lo até no escuro. Prefere acreditar que foi só pra ela e guardou tudo num baú de dentro.