quinta-feira, 12 de junho de 2008

A menina e o passarinho

Ela ainda dormia. Sonhava com alguma coisa tipo um vôo, tinha vento no rosto e a sensação de pés fora do chão. Entre as cortinas de sua janela, já entravam as primeiras frestas da luz da manhã.
Mergulhada naquela sensação de não saber se está dormindo ou acordada, ouvia um canto grave e ao mesmo tempo doce, e acordou com um sorriso no rosto. Olhou pra janela e viu um passarinho pousado no para-peito. Era todo amarelo e tinha algo de diferente. Sua cabecinha miúda estava inclinada e ele parecia olhar pra ela.
Sentou-se na cama e não conseguia tirar os olhos dele. Não sabe quanto tempo ficou assim, até que saiu dele uma cantiga tão serena, como uma de amor. Ela adormeceu de novo. Quando acordou, olhou para a janela e nada tinha no lugar do pequeno pássaro. Ficou parada, tentando entender se aquilo tinha sido um sonho, ou se realmente acontecera.
Passou o dia olhando o céu e tentando ouvir alguma coisa parecida com aquela melodia. Nada mais aconteceu. Dias correram, e uma noite, sonhou com um homem que sorrindo, chegou perto dela e disse: "sempre vou estar aqui pra você". Acordou com um aperto no peito. Ela sabia que nunca tinha o visto antes, mas aqueles olhos pretos tinham um brilho que ela jurou ser familiar.
Ouviu de longe aquela cantiga, fechou os olhos e pediu que esse momento não acabasse, que ele aparecesse, que mostrasse suas asas, que cantasse pra ela, que olhasse pra ela. A cantiga parou. Ela continuou de olhos fechados, dessa vez mais apertados. Sentiu algo em seus pés, e quando abriu os olhos, viu uma florzinha amarela, igual a de seu sonho e quando olhou pra janela, lá estava ele, voando embora de seu quarto. Correu em direção a janela e nada podendo fazer, ficou olhando o pontinho amarelo se perder de vista. Naquela mesma noite, sonhou com o mesmo homem, olhando pra ela, chegando pertinho, sorrindo um sorriso calmo e perguntando: "pq você não me reconhece?".
Ela sempre acreditava que os sonhos queriam dizer alguma coisa e ela quase sempre conseguia achar uma ligação para os seus, mas esse tinha alguma coisa diferente. Quem era aquele homem? E aquele passarinho? Pq essa sensação boa e confusa?
Nos próximos sonhos, ele aparecia declamando poemas pra ela.
No último que ela se lembra, recebia uma carta junto com uma florzinha amarela, escrito, palavras de amor, de amor, de amor, de amor, de encanto.
E no fim,
Ass:
Passarinho

Sua forma de homem já não existia.
Mas ele voltava pra vê-la.
Em forma de passarinho.

Larissa Fontes

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