quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sobre um véu, versos mudos e rodopios


Leveza de ser levado por um som. Sem sentir-se. Só se deixar levar. Especial. Pés num compasso ritmado. Volitavam. Os pés, alados. Papapapapapa. Entre os panos do véu, no rodopio, pode então ver. Olhos se tornam bolas de fogo prestes a sair queimando por aí. E a vestimenta parece inútil, pois cada um podia ser apenas luz. Vestidos de luz. E ela aceita o “sair queimando por aí” e enfrenta o fogo. Transpassando pensamentos, trocaram versos mudos que se encontrariam mais pra frente, sabe-se lá onde. A areia de uma praia distante, que acarinha os pés e machuca os olhos. Que entender de tudo e nada? Por um momento deixar de ouvir aquele som. Sem sentir-se ainda. Se deixando levar por algo tanto inexplicável que só depois de 5 minutos se percebeu meio bambeando no meio daquela roda. Se desfazer toda em água, jorrar, encharcá-lo, penetrar em pele, poros, sangue. Sê-lo. Volta a rodopiar. No entre-véu, jura que viu vazar de tão grande, a alma linda que possuía. Ninguém mais viu. Mas ela podia enxergá-lo até no escuro. Prefere acreditar que foi só pra ela e guardou tudo num baú de dentro.

Larissa Fontes


Ao som de '"Então ficamos, minha alma e eu, olhando o corpo teu sem entender como é que alma entra nessa história, afinal o amor é tão carnal." do Zeca Baleiro.


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Palavra nunca lida


Amor! Palavra nunca lida,
Mistério para a imaginação.
Amor? Palavra nunca dita.
Resposta? Ou mais uma questão?

Amor! Palavra que não se cala
Ainda que muitas vezes em vão.
Amor? O que você entende?
Lá no fundo do coração.

Amor! Penso que sim (pode ser)
Mas, muitas vezes, penso em vão
Amor? Difícil é tentar (só entender)
Sem cair no clichê (ah! isso não...)

Amor que vem sem que se queira
Duvida-se que seja tão violento
E nega-se se o medo tenta
Amor, quando se traduzirá? (Penso...)

Mistério da terra, da água, do fogo e do ar,
Transcende a razão - afinal é puro sentimento.
Ah! Hum! Sentir não por sentir (mas transfigurar)
Amor. Acima e além: quinto elemento.



Poema feito à quatro mãos, parceria com o querido Guilherme Ramos. Começamos a escrevê-lo em Março de 2009 e não nos lembramos quando foi concluído. A proposta/desafio era fazer um poema sobre o amor em si, o sentimento, não sobre seu efeito nas pessoas, como é tão comum, sobretudo nas músicas.
Que venham muitas parcerias, ainda, Gui!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ele alí, tão irreal


Eu não sei fazer poesia, nem escrever bonito. Mas tenho de falar de quando o vi. Ele alí, tão irreal, sentado na minha frente.
Eu trabalhava de garçonete naquele bar desde que eu tinha 16 anos. Estava acostumada com bêbados me cantando e vomitando todo fim de noite. Acho que fiquei meio antipática por conta disso. Nunca dei ousadia pra nenhum daqueles homens. Primeiro porque eu estava trabalhando e segundo porque tinha nojo da maioria deles. Mas não dizia nada. Servia quieta, fazia meu trabalho bem feito, para não dar brecha para reclamações.
Fazia um tempo que eu via um rapaz bem bonito que vinha sempre aos sábados. E sentava na mesma mesa, no fim do bar. Eu não tinha coragem de ir lá, tão bonito ele era. Sempre mandava o Bento, um garçom que trabalha comigo, muito querido. Acho que o único amigo que tenho. Bento é meio gay, apesar de nunca ter assumido, sempre ia de bom grado atender o rapaz bonito. Sempre pedia umas cervejas e bebia sozinho. Bento me conhece bem. Percebeu em mim a ponta de nervosismo quando ele vinha. Acho que por isso abriu mão da paquera e deixou para mim, porque sempre vinha contar alguma descoberta sobre ele.

Mas o que eu quero realmente contar, foi o dia em que ele chegou e não sentou na mesa de sempre. Sentou-se no balcão. O vi tão de perto, então. Ali, tão irreal, sentado na minha frente. Me olhou e simplesmente foi falando.

- Tive um sonho ruim...

Foi como se ele tivesse aberto tudo dentro de mim. Como se nos conhecêssemos desde sempre. Mesmo nunca tendo trocado uma palavra sequer, eu sabia que estava falando comigo. Larguei o pano de prato e os copos que eu lavava. Sem dizer nada, me sentei em frente a ele. Senti que ele precisava falar. Só falar. Eu só vim a esse mundo, meu Deus, para ouvi-lo.

- “Eu andava sozinho por uma praia, a noite. Parecia não saber o que estava fazendo nem pra onde estava indo, só andava e andava. De repente dei a olhar pra trás, com medo de alguma coisa. Um medo me consumiu, um medo inexplicável. Olhava pra trás e não via nada, só a escuridão. E eu acho que era justamente isso que me dava medo: a escuridão.”

- Eu também tenho medo da escuridão. Embora viva nela...

- Como assim vive nela? Se a tua aura é completamente feita de luz? Clara!

- A minha o que?

- A sua aura. É uma coisa que te emana e envolve toda, como um sopro de ar. Diz muito sobre seu emocional. A sua, posso ver, é clara como o sol.

Eu precisava dizer alguma coisa. Mas o que eu poderia dizer? Que conversa, eu, uma pessoa que não sabe o que é aura, poderia ter com um cara assim? Acho que minha cara, que ficou totalmente vermelha, falou por mim. Ele facilitou.

- Te deixei sem graça? Não era a minha intenção, desculpe.

Não consegui responder nada. Só o olhei, e quando vi que ele ainda não tirara os olhos de mim, abaixei os olhos ainda me sentindo quente, dessa vez não só o rosto, mas o corpo inteiro.

Nessa hora eu já me esmurrava por dentro, como eu podia ser tão idiota a ponto de não conseguir manter uma conversa com um homem? Principalmente sendo ele.

Vi nos olhos dele alguma coisa de estranho. Não sabia ao certo se era uma coisa boa ou algo triste. Mas fiquei olhando fixamente. Sem perceber. Devo ter feito alguma coisa de errado, porque ele me deu um sorriso meio tristonho e se levantou. Ainda ficou parado em frente ao balcão, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa. Eu apertava minhas pernas, que ele não podia ver. Me castigando por não ter coragem de fazê-lo ficar.

Ele se demorou um pouco ainda, mas viu que eu não ia falar nada e se virou. Começou a andar lentamente em direção a porta, tinha a cabeça baixa.

E se ele não voltasse? Se aquela mesa ficasse vazia de agora em diante?

Não pensei em nada. Dei um grito.

- Fica comigo?

Que reação ele ia ter agora, meu Deus?

Ele sorriu e veio na minha direção.

Larissa F.

Texto antigo, postado em 12 de Novembro de 2008.
Algumas pequenas modificações, muitas vírgulas engolidas. Percebi que hoje, sou mais de pontos do que de vírgulas. Será isso bom?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A vida inteira


Vem, que eu quero te mostrar a minha janela, onde eu me deito embaixo e sinto os pingos d'água quando chove. No rosto. Arrepio. Pele com frio. Quero a tua mão e te conduzir ao meu quintal. Quero sentir o meu novo eu ao teu lado. Veja minha cortina com rosas brancas de seda. Passe o rosto nelas, é como nuvem. Por que demora? Há tempos que eu te espero mesmo sem saber. Quero apenas que você chegue. Chegue cheirando a cerveja, eu finjo não sentir. Você tem meia hora. Definitivamente, você tem meia hora. Não. Não, você tem mais sim. Tem a vida inteira. Eu fecho os olhos, levanto a cabeça e deslizo meu rosto pelas rosas-brancas-de-seda-da-minha-cortina e parece que eu estou no céu. Chegue mesmo de mau humor, eu finjo não ligar. A vida inteira. Me sento debaixo do pé de laranjeira com meu vestido florido e meu chapéu noir. Lembra? Tudo bem noir. Você gosta? Chegue. Essa noite não passa, parece que se pôs na janela e ri de mim. Me deito por entre o verde e sinto seu cheiro. Meu coração dispara, mas eu o ponho rédeas e o faço trotar normalmente. Feito um cavalo manso. São só as rosas da cortina, elas cheiram a você. Nuvens. Céu. Eu tenho o total controle sobre mim. Como se assim fosse. Quero ouvir o rangir do teu sapato estampado pisando nas pedras até chegar a porta. Cante um samba, dance uma ciranda e vista pedrarias. Eu visto saudade. Passou um vento na minha roseira da cortina. A cama se encheu de flor. Chegue. Chegue, pois tudo que eu faço agora é te chamar. Nada mais sou do que te chamar. A vida inteira.

Larissa Fontes

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sobre uma rua e uma música que não pára


Cheiro de planta, madeira e asfalto. Perdendendo a razão. Peixe no aquário. Prendendo a respiração. Morfeu. Sozinho num apartamento. Uma música vinda de um lugar que não conheço. Sair correndo pela porta que poderia ser de vidro. Pingos a bater no rosto, o vento a machucar a pele. Mas não. Ainda parado, deitado como quem não aguenta mais. Está agora andando por uma rua feita de pedras. "Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar...". A música ainda toca repetidamente e ainda não conheço de onde vem. Só existem pessoas nessa rua. Elas vêm e vão e passam por mim, todas a pé. É noite. A noite existe e acontece. Não, não existe. A rua agora me parece pequena. ".. com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar." Vou tricotanto sorrisos para dar de presente. Coração. Um amor. O apartamento de novo. Sozinho. Já não se sente nada. Morfina. Vem morar comigo? Nada mais faz sentido. E essa música que não pára! "Fechei os olhos, chamei saudade, olhei pra dentro, veio você.*"

Larissa Fontes



Ao som de 'Hercílio Luz*' e 'Pavão Macaco' do Wado.
Pra mim são extremamente inspiradoras.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Maria Eleonor

“É como enxergar música na chuva. Ela vem descendo a ladeira.”

Usa faixas azuis no cabelo preto e longo. Um vestido vermelho com bordados dourados, como um manto dos sonhos. Anáguas. Sempre vestida de pedraria. Quer brilhantina no cabelo. Mora num jardim. Tem um pé de alecrim e uma roseira de estimação. Laranjeira e manjericão. Fazia sorrisos. Adorava histórias da carochinha. Gostava de olhar sua mãe cozendo. De samba e do som de uma rabeca. Era das faceiras.

Barcos de pescaria. Janela. Saudade.

Letras garranchadas em papel de pão. Um corpo que trás em si marcas de um tempo de saudade que ainda não passou. Olhos de silêncio, conseqüência de uma voz que não para de ecoar no seu lado de dentro. Mãos que falam através de um lápis de madeira com a ponta feita a faca. Sentado no muro de sua casa, não denuncia o quanto suas palavras devotam aquela mulher. A não ser seus olhos. “Êta zoinhos traidor”. E é esse o segredo de toda essa história: o jeito como ele olhava pra ela.

Larissa Fontes

"E ao perguntar como era o nome dela, pois lhe disse 'eu sou Maria Eleonor'";
Ao som de Renata Rosa, uma pernambucana rabequeira, descoberta maravilhosa!



segunda-feira, 15 de junho de 2009

Se só, ou se mar


Caminho sem saber e sem pensar. Uma estrada esburacada, mas bonita. Canteiros de um verde escuro e galhinhos marrons, dando um tom meio sépia à paisagem. Era aí que tudo se passava. Tudo bem sereno. Não sabia se era só. Tinha ela bem do lado, mas às vezes ela ficava meio distante, como se não estivesse ali. Sensação de não saber mesmo. De não pensar. Mas já imerso em um turbilhão de pensamentos. Quando um sentia o calcanhar doer de tanto andar, paravam e sentavam na beira da estrada mesmo. Olhavam o nada acontecer e só sentiam. Sentiam o nada acontecer. Aconteciam, em meio ao nada. Queriam ver o mar. Mas o mar parecia estar longe dali. Não cabia azul àquelas cores. Então brincavam de imaginar o som das ondas. ‘Agora uma onda chegou e engoliu os meus pés. Eu estou deixando, estou gostando dessa sensação!’. Pareciam estar lá mesmo. Quase conseguiam pisar nas areias quentes de sol. Mas voltavam de repente a estrada esburacada, mas bonita. Canteiros de um verde escuro e galhinhos marrons, dando um tom meio sépia à paisagem. Em alguns buracos havia água. Era o máximo de mar que podiam ter. Não achavam lugar nenhum. Por que estavam ali? Pra onde iam? Não sabiam. Queriam ver o mar. Mas o mar parecia estar longe dali. Não cabia azul àquelas cores...

Larissa Fontes

'Mas eu conto com você,
pois enquanto eu não me resolver,
eu vou lá, eu vou lá, eu vou..'

Ao som de 'Teus olhos', da Ivete com o Camelo.

domingo, 14 de junho de 2009

Fui presenteada com o meu primeiro selo. Muito obrigada, Cássio. :*




Aqui vão as regras do jogo:

A pessoa selecionada deve fazer uma lista com oito coisas que gostaria de fazer antes de morrer.

É necessário que se faça uma postagem relacionando estas oito coisas e é necessário que a pessoa explique as regras do jogo.

Ao finalizar, devemos convidar oito parceiros de blogs.

Deixar um comentário para quem nos convidou.


Meus desejos:
- Construir um teatro;
- Ter uma livraria;
- Publicar um livro;
- Morar na europa;
- Viver de arte;
- Ser uma grande atriz;
- Ver uma montagem de 'Esperando Godot';
- Beber com a Narcisa Tamborideguy (HAHAHAH).


Meus indicados:

- 'Ouro de Mina', do meu querido amigo Vítor;
http://ouromina.blogspot.com/

- 'Momentos', de outra querida, Raquel;
http://minhaspequenaspalavras.blogspot.com/

- 'Minha vida em verso e prosa', de outro querido, Fábio;
http://minhavidaemversoeprosa.blogspot.com/

- 'Pés descalços', da sempre presente aqui, Tamires;
http://tamiresemcasa.blogspot.com/

- 'Em essência', da minha amiga linda, Iza;
http://umolhardebeleza.blogspot.com/

- 'Máquina de costura...', do Ricardo;
http://costurademaquina.blogspot.com/

- 'Prosopoética', do Guilherme;
http://prosopoetica.blogspot.com/

- 'Salve Jorge', desse inspirador poeta.
http://salvesalvejorge.blogspot.com/


É isso, beijo! :*

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sobre medo de gatos, uma seta e um alvo


Ela nunca gostou de gatos. Tinha medo. Não achava-os confiáveis. 'Aqueles olhos de quem vai devorar alguém'. Como uns que ela conhecia. E sonhava com eles. Com os gatos, quero dizer. Um branco. Era um sítio, depois uma festa. Uma festa num sítio. Havia um gato branco e ele a olhava. Como se sentisse o medo que ela lhe devotava, parecia enfrentá-la, provocá-la. Ela, ingênua, não conseguia manter o olhar desviado, sempre o voltava para aquela direção. Aquilo bicho pequeno, de que forma a faria mal? 'Olha o teu tamanho, olha o dele!'. Ele ainda a enfrentava. Ela preferiu se retirar. Foi andando com uma angústia que sabia que o alimentava. Corria, subia no parquinho das crianças. Ele a seguia. Um medo agora a invadia. Pavor. Correu mais. Entrou num salão de festas, na primeira porta entrou. Antes de fechá-la, ele conseguiu entrar. Nesse pulo, acordou. Outra vez sonhou também. Uma vez era normal. Mas de novo aquele gato branco? Aquele olhar. Aqueles olhos parecidos com...
Tinha o todo. Não mais bastava só metade, como antes já tinha chegado a querer. Havia muito. Tinha tanto amor no peito, podia explodir a qualquer momento. Os labirintos não mais a faziam se perder. Tinha achado o alvo. Seu alvo. Era a seta, antes perdida, agora em seu alvo certo. Um no outro. Seta e o alvo. Juntos. Não existiam medos. Nem os gatos a afligiam mais. Quer dizer, não tenho certeza disso. Eles não são confiáveis, já disse isso. Aqueles olhos... As portas estão todas escancaradas. Outras fechadas, trancadas, lógico. Mas as que realmente podem suportar o peso do que pode passar por si, sim, essas estão abertas! E entra tanta coisa linda, leve. Uma, a mais clara de todas, dá para um caminho. Uma estrada. Flores nos canteiros. Onde vai dar? Não sei. 'Me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada, quando se parte rumo ao nada?'.

Olhe pro infinito, tire os pés da terra, respire, perca o ar. Ame!

Larissa Fontes


Ao som de 'A Seta e o Alvo', do Paulinho Moska.

domingo, 24 de maio de 2009

Ela, alada


"Eu podia não falar nada. Podia ficar calada agora e guardar tudo isso pra mim. Mas não. Vou falar, e se puder, vou gritar. Não me importo com quanto tempo dure cada momento perto daquele cheiro, com o que estou ameaçada a dizer quando isso acontece."

Um silêncio doce invadia toda a sala. Sentia tudo tão doce de olhar, de tocar. Quase via flores passeando pelo vento como se fossem donas de asas. Ela própria se sentia alada. O que seria isso? Mas nem queria saber. Se se pusesse a divagar, aquela sensação poderia desaparecer e não queria sequer pensar nessa possibilidade. Olhava o mundo lá fora e via as pessoas flutuando de gentileza, se cumprimentavam com um sorriso a um simples passar umas pelas outras. E podiam até alimentar desses sorrisos! Os adeuses que se davam eram felizes como até-logos e tudo era amor. As cartas eram sempre mandadas. Abraçavam-se ao acordar. Os espelhos eram amigos. As vestimentas eram brancas de paz, esvoaçantes talvez, não sabia ao certo. Ela sorria. Flutuava. Seguia. Mais leve que o ar.

"Quero mais é que quando elas venham, não passem sequer de um segundo para sair de mim e cheguem até aqueles ouvidos em forma de qualquer coisa que o valha."

Larissa Fontes

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Eles só queriam ir embora


Mais um dia de trabalho. Sol a pino em cabeças que tentam se proteger com chapéus e bonés. O mau cheiro castigando quase se torna imperceptível para aqueles homens. Alberto anda em meio a um verdadeiro mar de lixo. Parece um pouco perdido em seu mundo interior. Com um saco nas costas, junta coisas que lhe parecem úteis. Talvez um pedaço de carne que ele não tem como saber de que bicho é. É natural que não queria estar ali. Além da poluição atmosférica, uma poluição sonora hoje toma conta do lugar. Um caminhão chega para descarregar mais algumas toneladas de puro lixo. Um barulho imenso. Os urubus já fazem parte da paisagem. Sobrevoam as cabeças. Pousam tão perto deles, que podem os olhar nos olhos. Ele só queria ir embora.
Pensa em sua mulher. Ana. Ela esperava mais daquela vida de casados. Ele próprio esperava outro sentimento ao chegar em casa e olhar aquela pessoa a quem dedicava tanto amor. Não aquele que sentia hoje. Estava grávida e pensava no que seria da criança que estava prestes a sair de dentro dela. Comida achada depois de muito catar no meio do lixo? Às vezes pensava besteira. Mas ele só queria ir embora.
Nunca tinha ouvido uma música. Como seria? Como seria sentir nascer uma alegriazinha no fundo de seu coração ao escutar uma melodia doce? Queria saber como era tanta coisa. Queria viver. Queria poder passear de mãos dadas com Ana em um lugar bonito. Quem sabe a praia! A única visão que tinha do mar era aquela lá de cima. Do lixão. De seu local de trabalho. De sua casa. Sim, porque ele também mora ali. Ele só queria ir embora.
Ana observava o marido entre tanta coisa podre e sofria. Queria não chorar, mas algumas lágrimas insistiam em não se aguentar dentro dos olhos. Sabia o tanto que ele sofria. O tanto que sonhava. Queria compartilhar dos mesmos sonhos dele. Às vezes se irritava com as conversar ilusórias dele, mas no fundo queria ser igual. Se não podiam viver, ao menos ele podia imaginar. Sonhar. Viver tudo dentro da própria cabeça. Mas nem isso ela conseguia. A realidade a puxava de volta. Aquele cheiro a trazia de volta de um mundo do qual queria fazer parte. Dançar! Como ela queria saber o que é isso. Pegar na mão de Alberto, abraçá-lo e rodopiar os dois, juntos, por um grande salão em penumbra. Ela também só queria ir embora.
Ao acompanhar os passos do marido de longe, ela imaginou o filho pequeno, correndo sem roupa pelo meio de todo aquele lixo. Sentiu uma pontada de um desespero que não podia fazer nada para espantar. Porque daqui a poucos meses, aquilo poderia estar acontecendo. Ela só queria ir embora.
Sem que percebesse, Alberto chegou perto e a abraçou. Eles eram iguais. Estavam pensando nas mesmas mazelas. Compartilhavam todos os sofrimentos. Lágrimas unidas agora. Eles só queriam ir embora.

Larissa Fontes

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O rapaz mais triste do mundo


É diferente. Uma vontade tímida de tomar o mundo na mão, de querer ser o que se é sem temer, de olhar a coisa mais simples e se emocionar com a sua beleza. Dar um sorriso aquela pessoa que passa com ar precisado, estender a mão a alguém que tropeça. Mas não. Palavras de quase amor eram trocadas. Coitado daquele rapaz. Escreveu num bilhete em letras garrafais e garranchadas: "Só queria que ela sentisse quando pensasse nela, tão com força, que vaze pro físico e chegue a doer. Respiro bem fundo por 4 segundos e tento desenhar aquele rosto no preto dos meus olhos fechados. Mão na mão, não dizendo nada. Sua luz irradia a minha e juntas podem formar uma que irradie dessa vez o mundo!".
Eu o via de longe, escrever em papeis e logo após amassá-los e jogá-los no lixo com uma cara de mais triste do mundo. Quando se levantou, foi andando pela rua com um andar de mais triste do mundo e eu não resisti. Fui lá e revirei o lixeiro. Enfiei tudo na bolsa e vim.
Hoje o encontrei num ônibus da cidade. Sentava com postura de mais triste do mundo. Sozinho. Sentei na sua frente e me dei de contemplar aquela criatura. O peito extravasado. Talvez a criatura mais triste do mundo. Olhava o chão, a janela, o teto do ônibus. Mas nunca pra mim.
Há muito tempo atrás. Hoje eu não reconheceria seu rosto. Mas seu olhar de mais triste do mundo sim. Li o rapaz mais triste do mundo. Era lindo!

L. Fontes
Escutando o Monólogo de Orfeu com a voz bêbadazinha do meu amado Vinícius. Êxtase!


P.s.: Ah!, vale ressaltar que o post passado foi do c..! Amei as várias opiniões, foi uma troca muito válida. Não vou continuar com a discussão porque sei que passaríamos toda uma vida e esse assunto ainda ia dar pano pra manga. Enfim.. Mas quem quiser ainda comentá-lo, sinta-se a vontade, é um laboratório contínuo, quem dirá eterno! Haha

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A insustentável leveza do amor - O amor e suas catástrofes


Fiz uma oficina de leitura em cena na semana passada, cujo tema era A insustentável leveza do amor - Peças sobre o amor e suas catástrofes. Só peças sobre casais. Homem e mulher. Nenhum preconceito, mas eram peças escritas até o ano de 1996, então não se escrevia muito sobre homossexualidade nessa época. Enfim, o primeiro dia foi o que mais me cutucou. Sempre gostei de textos assim, já havia lido 'Eu sei que vou te amar' do Jabor mais de 4 vezes e qual não foi minha surpresa quando o Djalma Thürler, que estava ministrando a oficina, nos entregou o texto dessa peça pra trabalhar em cima dele. Intenso até dizer chega!
Começamos uma discussão sobre o amor simbiótico e as diversas formas de amar. Cada um apontava um caso que tivesse lido, visto num filme, ou até experiências próprias. A possessividade, o desespero, o sofrimento, os crimes passionais, etc. E assim fomos...
Num dado momento, perto do fim, o Djalma nos pediu que tentássemos lembrar uma música ou poema que falasse do amor como sinônimo de paz. O amor, não a pessoa amada. Até dissemos algumas, mas sempre percebíamos que sempre tinha uma pitada de dependência daquela pessoa, de desespero. O Djalme disse que está nessa busca há 8 anos e ainda não achou. Se souberem, me digam, porque fiquei curiosa.
Tô escrevendo isso aqui porque eu adoro quando vocês que me lêem comentam viajando no texto de verdade, e eu realmente queria saber o que vocês acham disso tudo. Qual a visão de vocês sobre o amor? Esse amor simbiótico. De dois. Contem seus casos, me digam se concordam com a visão desse amor perigoso, expressem suas opiniões, enfim.. Falem! Quero ver se isso dá certo.

Vou deixar uma provocação pra vocês pensarem nisso:

'O amor é que nem um submarino: até boia, mas foi feito pra afundar.'
(Trecho da peça 'Submarino' do Miguel Falabella)

Tipo um laboratório pessoal, haha
Beijo pra vocês,
Larissa



terça-feira, 21 de abril de 2009

Cheirinho de alecrim

.
Emburrava. Nessas horas até queria que fosse embora, mas de repente se colocava a gargalhar de alguma coisa que não sabia direito o quê. Então voltava a agonia só de pensar que podia mesmo ir. Love story. Deus-nos-acuda. My love. ‘Que foi my Love?’. Fique emburrado, chato, sóbrio, careta, introspectivo, o cacete; mas me deixe te deixar ir. De perto faz sentido. Uma noite e meia de rostos desconhecidos em espelhos de formas das mais loucas. Anyway, se me der vontade de te ver eu pego um trem, ponho um chapéu com flores na aba, um vestido esvoaçando transparência todo colorido e me dano nesse mundo atrás disso que deunatelha. O mundo já acabou, pega uma chícara com ch e toma café até virar uns dois dias seguidos pra me acompanhar nesse mundo porralouca que é o de quem escreve. Recebi a carta, mas não quis ler, só pra ficar na expectativa do simounão. Andei em ruas cheias de praças com famigerados transeuntes artistas intelectuais e alternativos. As suas bravatas arrebatam a minha paz por minutos. Energias quase nucleares que me arremessam por ares que não são meus. Sentei numa daquelas praças, umas cinco horas da tarde e tomei chá com meu chapéu de flores na aba e meu vestido esvoaçante colorido, tudo bem noir. Aquilo, quando a parte beijada queima de timidez ao beijo sem pretensão declarada. Pensamentos maquiavélicos. Primeiro um sonho. Cautela exagerada. Descuidado agora. Não é exatamente isso. A xícara agora com x caiu e se quebrou. Não soube onde botar mãos, olhos, nem pés. Cheirinho de alecrim. Doce. Baila, baila, baila. Há três anos que eu bailo, bailo, bailo. Um céu que precisa de olhares, porque se mostra de um laranja que é rosa que é roxo que é azul que é o pôr-do-sol. É aquela cor que eu quero. A que não existe. Não existe porque quando vejo já é outra cor e outra e outra. Já foi em Saigon? Eu não.
Eu gosto de saber que você existe. Quero escrever um poema. Tantos ui uis. Estou emburrada, chata, sóbria, careta, introspectiva, o cacete.

L. Fontes

Ao som de 'acabou de passar batom vermelho e pelo espelho me lançou um olhar sofrido' de Djavan e ainda na frequência de uma tarde inteira de Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Carta a(d)o céu


"Só quero dizer que eu to pronta. Você pode vir. Pode trazer tudo que te faz você, tudo que é teu pra dentro de mim. Eu to pronta pra acreditar nas tuas bruxas, pra ouvir as suas teorias de como é preciso sofrer pra ter amor, pra te acompanhar no rock pesado e até comer a tua salada. Tirei aquela flor do cabelo e quis ser séria. Não consegui e a botei de novo. E continuei a escrever versinhos bobos em papeis coloridos que colam. Estava pintando um céu no teto do meu quarto. Descuidei do pincel e o deixei cair. Não quero um céu no teto do meu quarto. Isso é coisa de menina. Eu quero ser mulher. Mas já tentei e continuo com a flor no cabelo. Agora no meu quarto não tem mais um céu pintado. Não tem nuvens, como teria num quarto de uma menina. É todo azul. Da cor do céu. Eu pressinto um movimento seu que conheço bem. A manada do Rei Leão desata a correr por dentro de mim. Vou deitar todas essas palavras numa grama bem verdinha e vou pô-las pra dormir antes que se achem no direito de falar o que bem entenderem.

Sei que eu to pronta pra ouvir tua música, pra te levar pra sair, pra ficar na cama lendo uma peça do Nelson Rodrigues com você do lado lendo a minha Bravo! com o Caetano e o Chico na capa. Tô pronta. Pode vir. Vem...

Com toda o 'estar pronta', da sua.

F. (De ficção)"
L. Fontes


'Fiz uma chancion d'amour
Fiz um love song for you
Fiz una cancione per te
Para impressionar você...'
Arnaldo Antunes

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Vai dar valsa


Queridos que me lêem, um amigo querido me convidou a colaborar com um blog recém-criado dele. Ele é um companheiro de longos devaneios em prosa e verso no msn (e também companheiro na paixão por Vinícius), então não poderia negar. Léo, isso só pode dar valsa. Hahaha

Me visitem lá também, vou ficar tão feliz quanto quando vejo cada comentáriozinho aqui! Sério.

Beijo!

http://vai-da-valsa.blogspot.com/


segunda-feira, 13 de abril de 2009

Corpo-de-menina-que-só-sabe-fazer-rima-boba


Foi há um tempo atrás. Se pegou pensando em frases soltas, que no final rimaram. 'Aquele corpo de menina que só sabe fazer rimas bobas'. Colocava tudo num papel sem nem pensar em nada. Dobrava, abria, relia, como se fosse uma carta mandada pra ela de muito, muito longe. De muita, muita saudade. Ouvia falar em saudade e queria aquilo. Querer saudade? Sim! Queria tudo o quanto podia. Continuava com as frases, aquelas rimadas. O que podia fazer com aquilo? Sentir era a melhor saída. E sentia cada vez mais forte, cada vez maior, cada vez mais se sentia dentro daquele corpo-de-menina-que-só-sabe-fazer-rimas-bobas. Vivia mais. Mais viva. Mais ela. Dando vida também. Seu amor nascia, tomava forma, vivia. Imaginava o tempo em que seria uma mulher, senhora de si e de seus sentimentos. Mulher-senhora-de-si-e-de-seus-sentimentos. Mas isso (se existisse, ser senhora de qualquer sentimento que fosse), seria num tempo mais pra frente. Por enquanto, continuava com suas rimas bobas. Orgulhosa delas.

Ao som de 'Canção pra você viver mais', do Pato Fu.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cenas de um filme inglês


Sopro e suspiros. "Que" falado pronunciando o "u". Achocolatado com gosto de leite e chocolate separados. O caminho dos teus lábios. Dois canudos usados sem precisão. Janela recém aberta. O gelo já dá-se pra ver. Coração embrulhado e deixado numa porta. Uma aranha que desce da madeira pra ser esmagada. Uma xícara. Um navio. Uma casa sem cerveja. Beber sorrisos. Avulso. Música com uma batida gostosa. Vontade de que? Paraparaparaparaparapapa...

"Ao som de 'Cenas de um filme inglês', do Wado."

terça-feira, 31 de março de 2009

Quando são um só

Ele era calmo e doce. Levava uma vida pacata, sem grandes acontecimentos. Nada nunca o tirava do sério. Era de uma cor esverdeada, às vezes marrom. Tinha cabelos curtos, puxando pro marrom. Os que o acompanhavam eram queimados de sol, não ligavam pra roupas, nem futilidades, eram doces também, por convívio. O amavam, o tratavam bem e sabiam se deleitar dele. Ele, como agradecimento lhes dava alimento e até os levava aonde quisessem em uma viagem calma. Seu povo conversava com ele, contavam suas mazelas e ele ouvia atento, há até quem diga que ele dava ótimos conselhos e cantava uma cantiga balançada, feito água batendo em barco de pescador.

Ela era agitada e salgada. Sua vida era conturbada, enfrentava muitos conflitos internos, verdadeiras tempestades. Era azul, às vezes verde. Tinha uma longa cabeleira amarela, quase branca. Os que a acompanhavam, a temiam, respeitavam, embora a amassem também. Eram salpicados de sal, fortes e corajosos. Ela gostava deles, mas às vezes precisava ficar sozinha e queria se esconder. Só que não se dava conta de que era muito grande para isso, então ficava enfurecida e podia até fazer mal a quem chegasse perto. Não pensem que gostava disso, pelo contrário, se sentia desengonçada e mais enfurecida ficava, queria se conter, mas era muito grande pra isso também. Seu povo demorou a entender, mas hoje já conseguem e respeitam seu tempo. É sentimental como mulher que é mulher. Ama seus companheiros, lhes dá tudo o que pode. Em certos períodos abriga a quem necessitar de seu aconchego, seja por um curto tempo, seja por noites e noites a fio.

Eles viviam em lugares diferentes, embora próximos. Ele a viu pela primeira vez a muitos e muitos tempos atrás e assim permanecia, observando-a de longe, imaginando tudo que se possa sobre ela. No princípio, ela não o enxergou. Digamos que não se deu conta de que ele estava ali. Tinha a cabeça sempre cheia, sempre em seus conflitos internos, em suas vontades loucas de se esconder, por isso não o percebeu. Mas ele estava ali e podia esperar.

Em um dia de sol bonito, ela acordou depois de um sonho leve (ela às vezes tinha pesadelos terríveis!) e até assobiando. Ele estava lá como sempre, observando-a e não pode deixar de ouvir seu assobiar. Julgou esse um dia bom para se apresentar àquela moça que tanto achava bela.

Sorriu para ela e foi se chegando devagar. Ela apertou os olhos para se certificar de que aquele sorriso era para ela e sentiu um cheiro doce invadindo, então viu que ele se aproximava manso e sorridente.

- Me chamam de Rio. Apresentou-se, sentindo gosto e cheiro salgado.

- Eu sou Mar. Respondeu, acuada.

Ele falou sobre sua vida e seu povo. Ela lhe contou de lugares que já tinha visitado. E tinham tanta coisa diferente, mas tanta coisa em comum, que foi sem querer que tiveram que se separar naquele dia. Mas o destino já tinha se consumado, já tinha feito sua parte de ir dar uma cutucadinha nele para que saísse do silêncio e fosse até ela. Tinham sentido uma coisa nunca antes experimentada por nenhum, e por isso não sabiam reconhecer esse sentimento.

Só se sabe que depois disso, todos os dias a certa hora, ele estava nela e ela estava nele. Ele era ela e ela era ele. Em certa hora do dia, eles eram um só e se amavam. O Rio e o Mar.

Larissa Fontes

"O rio fica lá, a água é que correu
chega na maré, ele vira mar."
Little Joy

quarta-feira, 25 de março de 2009

Vamos ao Teatro!


Florípedes e Simeão em O Rapto das Cebolinhas


Não tinha posto aqui nadinha ainda do Rapto das Cebolinhas, pois tá aí então! Minha gata, Florípedes, numa cena com seu querido burrinho Simeão, feito pelo lindo Thiago Sampaio, que eu gosto tanto. Haehoiaeuhuiah (L)

E pessoas! Hoje começa a Mostra de Teatro do SESI, alí no Sesi Cultural na Pajuçara. Vai até o dia 29, com dois espetáculos por dia, um às 15 hrs e outro às 21 hrs. Hoje tem Insônia e Versos de um Lambe Sola. Ou seja, IMPERDÍVEL!

Vamos ao Teatro!

25/03
15h - Insônia - Cia da Meia Noite
21h - Versos de um Lambe Sola - Associação Teatral Joana Gajurú

26/03
15h - O Casamento da Filha do Retratista - Cia Fulanos e Sicranos
21h - Alice!? - Cia do Chapéu

27/03
15h - Caboré - A ópera da Moça Feia - Associação Teatral Nêga-Fulô
21h - O Mágico - Cia Ganymedes

28/03
15h- Zezilda em Ô Lurde, Mulé!? - Grupo Guerreiros do Teatro
21h - Como Nasce um Cabra da Peste - Cia Penedense de Teatro

29/03
21h - NEPAL - Teatro Fúria (MT)

Sério, isso tá imperdível!

terça-feira, 24 de março de 2009

Eu estava olhando as estrelas ontem e... elas não são lindas?

sábado, 21 de março de 2009


Leve a sério!
Foto por mim

quarta-feira, 18 de março de 2009

Estamos na Idade Média


Depois de uma discussão de sala de aula, na disciplina de Realidade Sócio-Política e Econômica Regional, envolvendo alunos futuros jornalistas fervendo, sendo um deles um padre, me rendi a escrever algo anti-romântico aqui. Uma polêmica. Mas realmente fiquei com isso na cabeça. A excomunhão dos médicos que fizeram um aborto numa garota de 9 anos, estuprada pelo padrasto. Creio que vocês tenham lido algo sobre isso. Se não, por favor, faço questão de explicar-lhes o que aconteceu.

Em Alagoinha, agreste pernambucano, depois de ouvir queixas de enjôos, tonturas e dores de barriga da filha, uma mãe a leva ao hospital, onde descobre que a criança de 9 anos estava grávida de gêmeos, vítima de estupro do próprio padrasto. Foi feito na menina um aborto. Tanto os médicos que o fizeram, quanto todos os envolvidos no processo, inclusive a mãe, foram excomungados pelo Arcebispo de Olinda, com exceção da menina. Os médicos alegam que se tratando de uma vítima de estupro e correndo risco de vida, estavam protegidos pela Lei. A Igreja vê um crime, um ato inaceitável para a doutrina.

Eu acho difícil de entender essa posição da Igreja. Uma menina de 9 anos, teria condições de criar dois filhos? Uma criança criando outra criança! Uma pessoa com 9 anos de idade está brincando de boneca, de panelinha, muitas nem sabem como os bebês vem ao mundo. Acabei de ver um vídeo, onde o Teólogo entrevistado diz que “a Igreja perde um pouco a credibilidade com seus fiéis.” E não é? Que Cristão gostaria de se ver nessa situação? Quem consegue concordar com isso? Por favor, me digam.

Vejam esse vídeo do Arnaldo Jabor, vale a pena.

sexta-feira, 6 de março de 2009



Foto por mim


"Deita aqui, eu arrumei a cama pra nós dois
Esquece tua mala aí, aqui
Deita, deita aqui

Vamo ouvir no rádio alguém cantando o que há de rir
Nos braços da mulher é bem melhor,
Vai dormir mais feliz

Meu amor, o dia nasce e escolhe outro alguém
Do peito, um homem pode apodrecer
Se fingir que não vem."

Mula Manca & a Fabulosa Figura

quarta-feira, 4 de março de 2009

Lenços coloridos - Parte II


Que sorte! De longe avistei o colorido daquele povo. Meu coração desandou a acelerar. Minha face ruborizou.

A rotina se fez. Pus-me detrás das carroças, no mesmo cantinho. Começou a dança. Cores, palmas, fogueira. Ele. Ainda dançava com a senhora que eu supunha sua mãe, com movimentos precisos, cheio de graça se movia por entre sua gente e me encantava. Já falei de seus cabelos compridos e escuros, presos num rabo de cavalo na nuca? Dessa vez tinha um lenço vermelho no pescoço, perto da gola da camisa branca folgada.

A dança prosseguia linda. Eu cada vez mais envolvida, quando me dei conta não o via mais. Senti uma mão em meu ombro e me virei em pânico. Ele me olhava com expressão curiosa. Não agressivo, não defensivo. Pude ver os olhos de perto. Eram escuros, redondos e grandes. Tinha sobrancelhas arqueadas e uma boca carnuda, vermelho vivo. Pegou minha mão e começou a me puxar. Atônita, não me veio na cabeça que ele podia me fazer algum mal, apenas me deixei levar por ele.

Andamos até a beira do rio, no píer perto dos barcos e canoas.

- Qual seu nome? – A expressão ainda era de curiosidade, embora eu teimasse em ver doçura ali.

- Sara. – Não conseguia falar mais nada.

- O meu é Shuri. Por que você estava escondida nos espiando? Não é a primeira vez que te vejo ali.

Shuri era o nome dele. Caía perfeitamente naquele corpo, naquela voz.

- Er... Não sei, só estava... Olhando. – Boba, boba, boba!

- Você está meio tremendo, está com medo de mim? Se for isso, pelo amor de Deus, não fique. Não vou te fazer nenhum mal. Nunca faria a ninguém. Quero lhe conhecer, confie em mim. – E ele realmente passava segurança em sua fala e seu olhar.

- Desculpe. Sempre me encantei pela dança de vocês. Cores voando, palmas num ritmo que sempre me atraiu. Fiquei com medo de me aproximar, não quero ofender, mas sempre falam da fama de agressivos do seu povo.

- Oh, sim. É uma meia verdade. Existem alguns de nós que são avessos a qualquer coisa que não seja de nossa cultura. Mas enfim, não sou assim. Em mim você pode confiar, não tenha medo.

- Sim! É como se eu pudesse ver nos seus olhos que é doce. – Corei, surpresa com a minha própria declaração.

Ele sorriu. Pegou minha mão, virou-a, passando seus dedos compridos pelas linhas da minha palma, com um ar compenetrado.

- Hum... Intuitiva. – Falou baixo, num sussuro.

- O que?

- Sua mão. Já ouviu falar em Quiromancia? É a interpretação dos vários sinais contidos nas mãos. A sua mão tem formato delicado, seus dedos são finos e longos, sua palma é estreita. Mostra que é uma pessoa tímida e idealista. Sonhadora, podendo às vezes de distanciar da realidade, por isso precisa de alguém ao seu lado para orientá-la. É romântica e pode sofrer por não falar o que realmente sente. Acertei alguma coisa?

Fiquei o olhando falar aquelas coisas, quase me descrevendo, como se me conhecesse há muito tempo.

- Nossa, se acertou! Como você faz isso?

- Aprendemos a ler as mãos desde muito jovens. Me dá tua mão de novo.

Puxou-a novamente e começou a me explicar:

- Essa aqui é a Linha da Vida, nasce debaixo do dedo indicador, cerca a Linha da Cabeça, que é essa aqui do meio; Essa é a Linha do Coração, começa no segundo dedo e vai até a base do quarto dedo. Essa é a Linha da Sorte ou do Destino. Nem todos a têm...

Passou um bom tempo me ensinando sobre as Linhas e seus significados, sobre sua vida, descobri que era também um grande curioso sobre a minha cultura tão moderna e diferente, como ele dizia. Me soltei como nunca havia com um “estranho”. Conversava sobre todos os assuntos que surgia, parecíamos velhos amigos. Eu totalmente submersa naquele universo, nem sentia o tempo passar. De repente vi que a aurora já havia chegado, o sol iria subir e eu estava muito encrencada quando chegasse em casa. Nos despedimos com a promessa de ainda nos encontrarmos, e fui pra casa nas nuvens. Ou melhor, no vento. Entre lenços coloridos.

Larissa Fontes

segunda-feira, 2 de março de 2009

Lenços coloridos - Parte I


Caravanas. Lenços voando, roupas coloridas. Mulheres e homens a dançar em volta de fogueiras. Eu olhava toda aquela gente maravilhada. Não era a primeira vez que me escondia entre todas aquelas carroças e ficava ali estática, deslumbrada com as cores que voavam com o balanço daquelas mulheres que dançavam tão envolventes. Os homens eram todos fortes, a maioria tinha cabelos longos, presos em rabos de cavalos na nuca e também dançavam.

Um rapaz moreno, sempre me chamava atenção. Acompanhava uma senhora na dança, aparentemente sua mãe. Batia palmas ritmadas, com os braços posicionados ao lado da cabeça, rosto reto, olhar fixo num ponto qualquer, nariz empinado e toda a graça do mundo naqueles movimentos.

Aquele povo tinha fama de agressivo, por isso era preciso cuidado, o que era difícil pra mim, já que ficava totalmente submersa naquele jogo de ritmos e passos cadenciados e se tornava uma tarefa árdua me preocupar em não ser vista. Eram poucas as vezes que eu podia me deliciar com aquilo tudo. Era a segunda vez que estavam aqui na minha cidade. Coisa rara essa, de armar acampamento num mesmo lugar mais de uma vez, ma mais tarde soube que o chefe do bando tinha negócios aqui.

Quando a dança parou, tive a impressão de que o rapaz moreno dirigiu o olhar pra mim. Fiquei assustada com o que podia acontecer. O que eu iria dizer? O que estava fazendo ali escondida atrás de todas as carroças? Corri, sem pensar em nada, nem olhar pra trás. Acho que só lembrei de respirar quando cheguei em casa. Meu coração pulava. Mas não pude esquecer a hipótese daquele olhar no meu.

Fiquei dois dias com medo de voltar lá e com mais medo ainda de voltar e não encontrá-los mais. O medo de voltar e eles não estarem mais, me venceu e eu fui.

Larissa Fontes

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Poema à quatro mãos


O tempo passou.
Passou calado,
Ou eu, surdo, não ouvi seu estardalhaço?
Poderia ter te percebido
Se, inibido, não tentasse me esconder
E me bastaria apenas olhar você
Com os sempre olhos de amor,
Se não fossem eles podados por você mesmo.
E ainda que incerto
Tornas-te belo
E essencial para enxergar o que o destino
De maneira sutil, tentava desenhar
E que você, cego, tentava apagar
De qualquer maneira
Passando por cima do seu coração.
Não faça isso, chega de chorar,
Chega de noites de chuva e tempestade
Eu dou espaço a saudade
E o desejo inquieto da sua presença
Para me trazer calma
No encontro da alma
Que alimentaria o fisico.
Vou agindo por instinto
De ainda te proteger.
Desisti de te esquecer,
Perder tempo é banal
Diga que não pensa em mim,
Que não lembra do meu calor.
Entrego os pontos à desistencia,
E enquanto você se engana,
Me engana
E me mantém seu escudo,
Mudo.
E eu ja não preciso de mais nada
Ainda que na insegurança de te ter por perto
Ainda que incerto, o destino desenhe o teu sorriso
O teu meu sorriso.
Ponto final, eu daria
Pra o esforço de te arrancar daqui.

Larissa Fontes e Vítor Andrade

Siga o caminho das flores

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Onírico


"Veio num sonho, certa noite. Ela o amava. Ele a amava também. E ainda que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece, naquele momento em que acontecia dentro do sonho, era simples. Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo. Dormiam juntos, no sonho, porque era bom para um e para outro estarem assim juntos, naquele outro espaço. Não vinha nada de fora, nem ninguém. Deitada nua no ombro também nu dele, não havia fatos. Dormiam juntos, apenas. Isso era limpo e nítido no sonho que ela sonhou aquela noite.

Deitada no ombro dele, ela via seu rosto muito próximo. Esse era o sonho, nada mais. E isso, mais tarde saberia, era o único fato do sonho inteiro: via o rosto dele muito próximo. Como um astronauta prestes a desembarcar veria a face da lua, mal reconhecendo o Mar da Serenidade perdido em poeira cinza, assim ela o via naquela proximidade excessiva, quase inumana de tão próxima. Fechasse os olhos - mas não os fecharia, pois já estava dormindo - guardaria contra as pálpebras cerradas um por um dos traços dele. (...)
Coisas assim, ela via. E de olhos abertos, embora fechados, pois sonhava, protegia-o, protegiam-se no meio da noite. Tão simples, tão claro. E de alguma forma inequívoca, para sempre. Talvez ele tivesse passado um dos braços em torno da cintura dela, quem sabe ela houvesse deitado uma das mãos sobre o ombro dele, erguendo os dedos até que tocassem no lóculo de sua orelha. Em todos os dias que se seguiram à noite daquele sonho, e foram muitos, honestamente não saberia localizar outros detalhes. Pois enquanto dormia, naquela noite, tudo era só e apenasmente isso: dormiam juntos."

Caio Fernando Abreu

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Sobre um caminho de grama amassada e todas as coisas bonitas

Hoje no comecinho da manhã, me deitei em meio à grama do jardim e comecei a olhar o céu. Costumo fazer isso desde pequena. Ficar descobrindo os desenhos nas nuvens. Em meio a toda uma história que já começava a surgir, olhei pro lado. No canto do jardim, ainda no encalço da estradinha que leva pra casa de madeira lá atrás no quintal. O caminho de todo dia da tua bicicleta verde. Um caminho fino de grama amassada.
Fiquei olhando aquilo e enquanto o meu olhar percorria aquele caminho, parecia que eu te via ir embora. Ir embora indo na cidade comprar alguma coisa, voltando sempre com flores coloridas pra mim. Flores que não vinham embaladas como as que se compram. Vinham com seus caules meio machucadinhos, do aperto de mãos. Mãos que as colhiam no caminho. Que ao meio iam parando várias vezes, parando com intenção de ver um sorriso quando aquelas flores chegassem ao seu destino.
E eu sorrindo toda. Toda sorrisos! Meus olhos, minhas mãos, meu andar, minha boca. Toda sorrisos!
Imaginava um rosto apaixonada e dedicado, parando a todo momento que enxergava uma flor bonita no caminho.
E parecia que você tinha saído há anos. Tinha saído e não mais tinha voltado em cima daquela bicicleta verde e segurando meio desajeitado um ramalhete de flores coloridas de caule machucado, por tanto tempo.
Senti o peito me apertar, o olho marejar.
Logo um barulho de ferro tombando em buracos surgiu. E ao levantar a cabeça, ainda deitada na grama, vi a velha bicicleta verde e você em cima dela, tão meu. Alí sim estava o céu, as nuvens, os jardins, as flores, as músicas mais bonitas. Alí morava todas as coisas bonitas que resolveram se juntar em forma de sorriso. Ali!

Larissa Fontes

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Um lenço, uma caneca e um colar caídos do céu.

"E no sonho ele me disse que vai vir. Voando! E vai jogar lá de cima presentes pra mim. Lenços com cheiro de alecrim, que pode até ficar enganchado em alguma árvore, me dando um trabalhão para tirar com a vara de pegar cajú; uma caneca branca que cairá tão sutilmente que não quebrará; um colar de couro com um pingente de metal envelhecido, que eu colocarei no pescoço e não tirarei, mas ficará por debaixo do meu vestido, pra que os meus irmãos não vejam e não tirem sarro de mim.
Ele virá, e eu esperarei sonhando com seu rosto que eu ainda não conheço. Mas ele virá, meu Deus. Ele virá!"

Larissa Fontes

(Inspirado no conto "Tangerine Girl", de Rachel de Queiroz)


sábado, 7 de fevereiro de 2009

Entre os estilhaços das taças quebradas


Três meses sem se ver depois de seis anos juntos. Porta entreaberta. Espera nervosa e olhos que não se descolam da entrada. Sala escura, cortinas fechadas. Olhos encharcados de álcool e incomodados com a luz. Champagne. Poesia, Chico Buarque no rádio. Pensamentos indecentes, obscenos. Raiva e amor, rancor e desejo.

Três meses sem se ver depois de seis anos juntos. Caminhar medroso, tenso. Ansiedade e mãos geladas. Ruas movimentadas, tempo fechado. Olhos azuis com prenúncios de lágrimas, vontade de voltar atrás. Cigarro. Música no bar da esquina. Pensamentos indecentes, obscenos. Raiva e amor, rancor e desejo.

Enfim chega.

Encontra a porta entreaberta. Empurra-a e fica um tempo parada, encarando-o. Dá pra ver que está uma merda por dentro, mas faz questão de fingir uma solidez que uma mulher forte teria. Mas ela não é boa em fingimentos, por isso está com uma cara que crê esboçar tudo o que sente.
Ele se levanta e de repente todos os pensamentos indecentes e obscenos que pairavam em sua cabeça somem e ele emudece. É covardia. Ela está cada vez mais bonita, só porque não é mais sua, e isso é difícil de agüentar. Linda e livre.

Silêncio. Agora Vinícius do rádio. “E por falar em saudade... onde anda você?”
Tudo some e ele vai até ela. Ela ainda receia, mas logo se entrega ao seu abraço. Beijos e abraços desesperados, com força. Taças de champagne. Risos. Se amam.

Realidade volta à tona. Agora se olham, se odeiam, se machucam com a mesma força que se amaram há alguns minutos. Gritos. Mágoa e rancor. Taças quebradas. Cortes e sangue.

Ela vai embora batendo a porta. Ele chora deitado no chão entre os estilhaços das taças quebradas.

E estão prontos para uma próxima vez.

Larissa Fontes

Baseado na música 'Blue Eyes' de Júnior Almeida. Não sei o que me dá quando a escuto.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Entre páginas de um grosso livro de contos.


"Acho que posso descrever essa freqüente sensação que me agora me vêm: dor misturada com a culpa de ser eu a autora de todas essas histórias que se fizeram ao longo desse 'meu' tempo."

Reconheceu em pensamento, compenetrada em um livro de contos que segurava, entre uma página que esses pensamentos a fizeram voltar e ler de novo.


Larissa Fontes

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."

Vinícius de Moraes


"Abra sua camisa e saia para o grande encontro!", ainda dizia Vinícius. Sim, saia para o encontro, mas não procure por ele. Ele o encontrará, ou se fará perceber, caso aconteça de o encontro já ter acontecido e você não perceba, então se dá um novo encontro.
Tantas pessoas andam por aí atrás de qualquer coisa, mesmo que nem saibam o que querem. Não! O encontro os encontrará.
Saravá, Vinícius de Moraes! Saravá!


Larissa Fontes

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sobre janelas, insetos e um mundo agora diferente


Houve um tempo em que se deixavam as janelas abertas. “Que entre toda a luz e todo o ar do mundo”. Acordava com o mundo nas costas e disposto a carregar essa carga. Porque no mundo, tinha ela. Formigas, borboletas, todos os insetos que existiam na fauna moravam em seu estômago e davam de fazer festa toda vez em que ela se punha ao alcance da sua visão. Sentia o coração pequeno e apertado enquanto caminhava em sua direção. E aquele momento era o mais onírico que tivesse memória, total “slow motion”. Vê-la vindo com aquele sorriso sem mostrar os dentes, um andar meio vago e desajeitado, sem saber onde pôr as mãos. Quando vinha o abraço de costume, a palavra ”costume” perdia o sentido.
O tempo agora é que andava em câmera lenta. As janelas não mais escancaradas, e sim emperradas por falta de uso. Todos os insetos que moravam em seu corpo, foram postos pra fora por um grande dilúvio que enchera por dentro e esborrava pelos dois pequenos e puxados olhos. No mundo, ainda tinha ela. Mas não mais em seu mundo.


Larissa Fontes

domingo, 25 de janeiro de 2009

Pôr-do-sol na Barra de São Miguel, 25/01/09

E é como se nunca nada tivesse feito mal, nem levado nada que sempre foi bom. É tudo tão meu, tão "sempreexistiu,nuncafoiembora". Sensação de aqui é o meu lugar, de alguma coisa querendo sempre transpor em palavras tudo que pula e grita aqui no lado de dentro. Gritam e pulam de felicidade, de contentamento, de orgulho de merecer cada olhar que transborda um amor totalmente explícito pra quem quer que veja. O que será aque há além de tudo isso? De todo esse mundo que estamos vivendo? Porque eu não enxergo nada além. Nada além.

Larissa Fontes

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


Será como andar por entre vocês,
sentindo tudo que dizem em forma de perfume;
Deitar ao lado, apenas fechar os olhos
e pensar alto e forte em alguém.
Sentir vindo junto com esse perfume
um amor que só exale verdade
e um olhar único, que passe certeza.
Pra depois vir o abraço,
único
que se encaixe como nada mais no mundo;
Mãos que se entrelaçam
e mais que isso:
se amam.



Larissa Fontes

Flores em Gramado, Dezembro de 2008

domingo, 18 de janeiro de 2009

O amor por entre o verde


"E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas."

Vinícius de Moraes


domingo, 11 de janeiro de 2009

preta e a chuva

"Será que hoje vai chover? Você tem medo da chuva, menina? Mas por quê? É por causa daqueles barulhos que de vez em quando vem acompanhando ela? Não se assuste, preta. É porque você nunca olhou, mas na maioria das vezes, vem também uma claridão tão forte e bonita. Eu acho que esse barulho é de tão forte que é a luz que vai descendo do céu, sabia?

Olha! Ta ouvindo? Acho que começou a chover...

Vamo na janela olhar, vamo? Eu pego na sua mão. Te acalento... posso cantar pra você dormir também. É tão bom dormir com o barulhinho da chuva batendo na janela. Eu sempre deito encostado na janela, fico vendo os pingos se encontrando, se fazendo um só e descendo como se tivesse dançando. É bonito, preta.

Um dia eu já senti uma tristezinha com a chuva. Ela tem mesmo alguma coisa de um pouco triste, né? Lembra uma pessoa chorando. Será que chove toda vez que alguém que a gente ama vai embora? Será que chove toda vez que alguém se separa de outro alguém quando ainda existe amor? Será que chove de tanta tristeza? Ou mesmo de muita felicidade? Quando duas pessoas se beijam com muito amor? Quando se vê quem se ama voltar? Ou mesmo quando uma criança sorri, dá um gritinho de felicidade? Eeeita! Hahaha, assim nunca ia parar de chover, né?

Vamo, vamo lá na janela. Isso, vê como é bonito, preta."

(Pega a mão dela, dá um beijo e só segura... um sorriso brota no rosto dela. E a chuva lá fora canta, canta.)


Larissa Fontes

sábado, 10 de janeiro de 2009

Ladeirinha


"Aquela ladeirinha era dela. Aquela janela era minha. Todo finzinho de tarde, eu vinha quase sonhando com aquele momento, me debruçava na janela e nem esperava muito, lá vinha ela. Linda, quase sempre de vermelho. Podia vir de preto, de amarelo, verde, azul. Era linda de qualquer jeito."

Larissa Fontes



"Quase a noitinha ela desce a ladeirinha que faz lado com o meu quintal.."
(Djavan)

domingo, 4 de janeiro de 2009



E quando eu olho uma foto tua, parece que você me olha e aí...



...sinto aquele negocio.


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

?


Você é assim, você vem e você chega. Eu sei de tudo, quase tudo, e o que me dói é o que não sei mais. Não é saudade, não é carência, não é qualquer sentimento que sinta falta; não é simples, também não vejo nada do que tem você, ser simples. Sempre cuidadoso, sempre aquele você. Sempre diferente, se tratando de. Tanta coisa a rondar, um misto de tantas coisas juntas, que a vontade é jogar todas fora. Tô começando a deixar os dedos tomarem vida própria. Que se faça uma ligação direta entre coração-cabeça-dedos, e que escrevam! Escrevam, pois é disso que os sentimentos precisam, pois é assim que eles se acalmam, ao se ler posto pra fora. Tentando se organizar, se confudem mais e fica difícil a vontade sequer de entendê-los. Entender-te, entender-me.. Seus olhos as vezes são aqueles meus ainda, outras vezes não. O coração é o mesmo, aquele mesmo meu de sempre, embora fantasiado e vestido de mágoa, de raiva, de sentimento ruim... O tempo é que é meu. Mentira! Nunca foi. Ele nem é meu amigo. É raro o momento de afinidade com ele. Ainda falo do tempo. Isso aqui tá ficando Clarice. Que fique, que fique. Eu sou Clarice. Sou Vinícius. Sou Caio. Sou eu. Eu misturada em todos aqueles que me fazem sentir palavras que eu gostaria de ter escrito. Que me fazem conhecer-me. Conhecer eles próprios. Sinto que conheço cada um, tenho uma relação com cada um deles. Uma relação de amor. Um caso de amor. É isso que estou fazendo dessa minha noite vazia. Escrever. Fazendo isso virar um refúgio, escrevendo pra fugir mesmo. Será que depois quando ler, tudo fica mais claro? Mais fácil pra eu mesma digerir. Eu não acredito em nada do que você diz. Leia isso no meio de tanta coisa que não é pra você. Leia e vai entender. Pq a semente da dúvida já foi plantada e foi você mesmo quem o fez. Plantou e deixou que crescesse. Até regou, deu sol e deu sombra quando precisou. E ela cresceu. Não quero entender nada, muita coisa aqui nem é pra você, nesse texto aqui mesmo. Não sei nem como foi que comecei isso aqui. Só a partir de alguma linha, a ligação coração-cabeça-dedos acabou de sintonizar com você. Então é isso. Não entendo música, não entendo música, nem luz, nem defino amor, se você quer saber. Sei de todas as minhas sensações, sei de tudo que senti, o que não sei é o que vem por aí. Tudo é tão errático quanto a gente faz. Se tudo for feito com um propósito, ou talvez nem propósito seja a palavra certa, digamos que com um único objetivo. Ainda não sei se se encaixa aqui. Mas enfim, se tudo for feito com o único objetivo de tocar alguém. Tocar de um jeito que era o teu, ainda. Aquele jeito que me mostrou ser. Acho que prefiro aquele jeito. Mesmo que não seja esse o seu jeito de verdade. Não quero estrutura de poesia pra falar em desabafo. Não quero que nada do que eu sinta seja ou tenha mágoa. Ou dúvida. Que saia de mim! Tem muita coisa pior do que a dúvida, mas ela é judiadora, poxa vida. Não quero ser poética ao dizer que você não é quem eu pensei. Mas que vai continuar sendo, pois eu sei fantasiar. Fantasiar. E não viver uma fantasia. Viver à base disso, não! Então que continue com essa luz, que não tem como ser fantasia. Você se veste nela, é a sua vestimenta, sua cápsula, é de luz que você é envolto. Que essa luz nunca se apague, como falhou pra mim. A porta está entreaberta, mesmo que nela não entre mais luz. Só isso que se dirige a você. Cabe entender ou não. Mas sei que vai. Não ligo de ser sincera, não agora, pense o que quiser, pq eu penso o que eu quero e isso é inconstante e me faz incapaz de impedir. Que vontade de apagar isso tudo, dá. Mas engulo e vai pro lado de dentro.

Não mais ou menos


Queimando alguma coisa aqui. Daquelas sensações que quando me vêm, eu paro e tento sentir mais. Mesmo que ruim, mesmo que acompanhada de um mal estar, de uma tontura, sabe? Pq eu não sei. Olha, eu não sei mais o que falar e nem quero mais. Não quero muita coisa. Quero menos. Quero mais ou menos. NÃO!