quinta-feira, 31 de julho de 2008

Nós

Quando eu saia da aula, ele sempre estava lá. Com aquele óculos grande e espelhado. Eu o via do outro lado da rua e era como se o tempo parasse. Nós saíamos de mãos dadas, não parecia haver mais nada no mundo inteiro, só eu e ele. Cada palavra que saía da sua boca, pra mim era sagrada. Eu o olhava com uma ânsia de não perder nenhum movimento seu. O nosso tempo, que quando eu o via parava, quando estávamos juntos, corria, voava. Ele tinha um ar de querer me ensinar muitas coisas, como se tivesse nas mãos a minha felicidade, como se indo embora, me mostrasse toda a dor.

Larissa Fontes

terça-feira, 29 de julho de 2008

Anotações sobre um amor urbano

Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só esta vontade quase simples de estender o braço para tocar você, faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nesta janela, já dissemos tudo que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação impressão ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e, com a ponta dos meus dedos, tocar você, natural que seja assim: o toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora.

Caio Fernando Abreu

domingo, 27 de julho de 2008

Bobagem

Queria poder entrar no teu pensamento,
pra saber como é que você pensa em mim.
Qual o jeito que você chama o meu nome,
se sente o mesmo frio na barriga que eu.
Poderia te perguntar, sim.
Mas mesmo que você descrevesse com todos os detalhes,
eu não conseguiria satisfazer essa vontade.
Queria sentir o que você sente,
saber do que você sabe.
Queria que você soubesse o quanto é lindo
mas não poderia,
você é você, não pode se ver,
não do jeito que eu vejo,
não pode sentir essas coisas por você,
não pode receber as tuas palavras,
não pode sentir essa vontade quase que incontrolável de escrever,
de pôr pra fora o que eu sinto
toda vez que você chega escondido,
quase que adivinhando o que precisa dizer.
Não pode saber que mesmo que não dissesse nada
e só me olhasse com os teus olhos sendo apertados
pelo seu sorriso,
eu poderia sentir tudo que você tem aí dentro.
Não sabe que são raros os que conhecem o meu lado de dentro
e o você o conheceu desde sempre, desde o começo
porque pra você eu consegui ser toda eu.



Larissa Fontes

Imaginação minha

Queria acordar cedo. Me arrumar com cuidado de não fazer barulho pra não te acordar, porque você trabalhou até tarde. Demorar mais do que o normal, porque não conseguir parar de te olhar dormir, parecendo um menino, menino meu, que eu teria que cuidar. Deixar um bilhete no bolso da calça que eu sei que você vai vestir pra sair. Dar um beijo com a marca de batom na tua testa, pra quando você se olhar no espelho ver e sorrir daquele jeito só seu. Meu. Meu sorriso. Ir no caminho pensando na felicidade que eu teria, e aquela espera gostosa de você ligar. Chegar em casa a noite e assim que entrar em casa, sentir o cheiro daquela panqueca que só você sabe fazer. Entrar na cozinha e ver você de avental, jogando a panqueca pra cima, virando-a. Sorrio. Como estou sorrindo agora, só de imaginar isso tudo.

Larissa Fontes

sábado, 26 de julho de 2008

O cantador

Dormia tranquilamente. Despertou com uma música distante. Não se levantou com a agitação de sempre, sorriu pra si mesma e andou seguindo a melodia. Quando seus olhos encontraram os do cantador e seu coração se abriu pra sensações jamais sentidas, fechou os olhos.
Ele cantava com toda a sua alma, isso dava pra saber só de vê-lo cantar. Cantar o fazia bem e um bem maior ainda, porque dessa vez, cantava pra ela.
Ela desceu as escadas, chegando mais perto. Ele a envolveu num abraço e assim dançaram no silêncio da noite. Deram-se as mãos e andaram pelas ruas só sentindo a companhia um do outro. As palavras se tornaram desnecessárias naquele momento, as batidas dos corações acelerados traduziam qualquer coisa.
Andaram até o dia querer amanhecer. Enquanto a lua dava lugar ao sol, eles se olhavam e só conseguiam sorrir. O dia chegou num piscar de olhos e, então, tiveram que voltar a realidade. Mas a realidade era uma só: os dois se amavam, se amavam com um amor cheio de fantasia. Um amor lindo.

Larissa Fontes

Saxofone

Ele vivia só, morava numa casinha pequena e cheia de paz. Seus dias eram iguais e ao mesmo tempo diferentes, podia viver inúmeros personagens. O teatro era sua única alegria, mas ele se contentava , era feliz, embora lhe faltasse alguma coisa. Quando a noite chegava, em casa, sozinho, pegava seu saxofone e tocava pra lua. Essa sim, sabia de todos seus segredos mais profundos. Era nele que punha todas as suas angústias e sentimentos. Seu confidente era um instrumento mudo de palavras. A lua já conhecia suas doces canções, ele precisava cantar alguém, cantar o amor e não mais a solidão.

Larissa Fontes

Na varanda

Ele estava olhando a rua. À essa hora da noite era bem tranquila, quase não havia movimento de carros, só um velho senhor que trabalhava como vigia do prédio da frente. Passavam vários sentimentos soltos, mas todos eles o levavam a um só: ela.
Ela estava distante, mas de vez enquando ele chegava a sentir a sua presença, vindo por trás dele e o envolvendo em seus braços, tão pequenos que não conseguiam sequer tocar-se ao abraçá-lo. Ela costumava fazer isso.
Ele sempre fazia a mesma coisa: certa hora da noite ele sentia que precisava daquela sensação, então ia pra varanda e enquanto observava o vigia, a rua parada, ela vinha pra ele.

Larissa Fontes

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sensações

Era uma cantiga triste, mas ao mesmo tempo acolhedora. A luz do candeeiro ameaçava apagar com vento. Eles não ouviam, nem viam nada ao redor. Só existiam eles. Os corações se encontravam num abraço entre suspiros. Sentiam uma coisa nova, jamais experimentada. Um estremecimento, chegava até perto do medo. Medo daquele momento ir embora, escapar pelos dedos e simplesmente acabar. O próximo instante é imprevisível. As sensações mudavam, sempre para o desconhecido. Não sentiam mais seus pés no chão. Sabiam que não podiam sair daquele abraço. Os cheiros se misturavam e formavam um novo, que exalava sentimento. As mãos queimavam, quase fincavam a unha um no outro, para que não escapasse. Um turbilhão de emoções, todas diferentes, mas era como um labirinto. Não consegue se situar, mas no fim, vai dar no amor.

Larissa Fontes

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mania de você



Meu bem, você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor, de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras
A gente faz amor por telepatia
No chão, no mar, na lua, na melodia
Mania de você, de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras.

Nada melhor do que não fazer nada,
Só pra deitar e rolar com você.

Rita Lee

Pe. Fábio

Se você não consegue lidar com os limites dos outros, é porque você não consegue lidar com os seus limites. A rejeição é um processo de ver-se.
Toda vez que eu quero buscar no outro o que me falta, eu o torno um objeto. Eu posso até admirar no outro o que eu não tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer do outro uma representação daquilo que me falta. Isso não é amor, isso é coisa de criança.
O anonimato é um perigo para nós. É sempre bom que estejamos com pessoas que saibam quem somos nós e que decisões nós tomamos na vida. É sempre bom estarmos em um lugar que nos proteja.
Amar alguém é viver o exercício constante, de não querer fazer do outro o que a gente gostaria que ele fosse. A experiência de amar e ser amado é acima de tudo a experiência do respeito.
Como está a nossa capacidade de amar? Uma coisa é amar por necessidade e outra é amar por valor. Amar por necessidade é querer sempre que o outro seja o que você quer. Amar por valor é amar o outro como ele é, quando ele não tem mais nada a oferecer, quando ele é um inútil e por isso você o ama tanto. Na hora que forem embora as suas utilidade, você vai saberá o quanto é amado.
Tudo vai ser perdido, só espero que você não se perca. Enquanto você não se perder de si mesmo você será amado, pois o que você é significa muito mais do que você faz.

Pe. Fábio de Melo

terça-feira, 22 de julho de 2008

E enfim abracei o sol... dormindo

Sonhei com você. Eu caminhava com alguém, te procurando. Quando abri a porta por fora, você estava abrindo a porta por dentro. Quando instantaneamente nos percebemos, rimos e eu não conseguia te encarar. Vermelha e calada. Entramos na sala e mesmo um do lado do outro, não paramos de nos olhar. As mãos estavam entrelaçadas.
Por algum motivo, você teve que sair da sala. De repente o cenário mudou todo. Tinha muita gente, eu te procurava angustiada com os olhos e não o via. Vi de longe o teu chapéu. Corri pra te encontrar, mas não encontrei.
Depois de muito tempo, você apareceu todo vestido de branco e com uma flor na mão. A gente se abraçou forte. E ficamos abraçados. E eu acordei nesse abraço.

Larissa Fontes

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Dedicatória

"Eu fui tocado pela sua presença desde a primeira vez que a vi. (...) Você, foi capaz de arrancar o que havia de mais profundo em mim, sentimentos que raramente compartilhei com alguém. Isso foi ótimo - e continua sendo. (...) Mesmo com você distante, sua presença me acompanhava por ruas, praças e cafés. (...) Então eu lhe pedi em casamento. A partir deste dia, você começou a ferir-me. (...) Você então se tornava a criatura mais doce do mundo, e eu pensava comigo mesmo: "Esta é a Mary que eu amo." Entretanto, antes mesmo que aquele encontro acabasse, algo de brutal tornava a sair de sua boca. Nada do que eu pudesse dizer ou fazer era capaz de impedi-lo; a agressão vinha, e quase me matava. Eu voltava pra casa, e refletia: "Se eu aceito o sol, o calor, e o arco-íris, preciso aceitar também o trovão, a tempestade, e o raio." (...) Eu precisava me proteger, e passei a dizer a mim mesmo: "Qualquer relação mais íntima com esta mulher é impossível." Claro que a estratégia não funcionou, nem mesmo quando eu lhe disse o que acontecia comigo. Mas a partir daquele dia, você nunca mais me feriu.
Tudo que estou contando é apenas para que saiba como vi os nossos primeiros anos juntos. As coisas mais profundas jamais mudaram; a identificação que tive, o reconhecimento, a paixão do primeiro encontro - tudo isso continua igual, e assim continuará para sempre. Eu a amarei por toda a eternidade, como já a amava muito antes de vê-la pela primeira vez, e chamo isto de Destino.
Nada pode nos afastar; nem eu, nem você podemos mudar esta relação. Eu quero que você se lembre pelo resto dos seus dias, que você é a pessoa mais importante do meu mundo. Que, mesmo que você se casasse sete vezes, com sete homens diferentes, tudo continuaria igual em meu coração.

E hoje, também entendo que o nosso casamento era impossível. Ele teria destruído ambos. Nossa vida em comum terminou sendo guiada de uma maneira diferente, e por isso fomos salvos. Você me ajudou a descobrir a mim mesmo, e o meu trabalho. Eu penso que fiz o mesmo com você, e agradeço aos Céus por estarmos juntos."

Kahlil Gibran

Meu Deus


Um homem bonito assim, o que quer de mim? O que ele fará comigo? Um homem bonito, que planos? O que Deus lhe deu? E o que ele fará com os seus braços de amansar desejos, boca de beijo, corpo de tocar? Meu coração muito tonto quer sair de mim. Olhos flechando meus zelos, bem que meu corpo já me mostrava tentação das mais safadas, sem dor nem penar.
Meu Deus, Ave Maria! Se ele não é um dos seus, ninguém mais seria.. Braços de arrancar desejos, olhos de gato, sabor de hortelã..
Meu Deus, Ave Maria!

Vanessa da Mata

Sol

Tô vendo tanta gente na minha frente e eu fico pensando: está todo mundo tão ao meu alcance. Às vezes é só esticar o braço, estender a mão. Você não. Por mais que eu sinta que existem palavras, elas agora não me vêm do seu jeito, do jeito que serviria pra falar de você, pra você. Hoje, olhando as pessoas, essas mesmas todas ao meu alcance, pensei que as pessoas dão a lua de presente pras outras. Eu não quero a lua, eu deixo para esses amantes que a desejam. Eu quero o sol.

Larissa Fontes

Vem

E se ele chegasse agora e batesse na porta, com aquele sorriso lindo que apertava os olhos, do jeito que ela mais gostava? Uma vez ele perguntou o que ela mais gostava nele e ela respondeu que era o sorriso, porque apertava os olhos e faziam eles brilharem também. Parecia um menino. Mas na verdade, gostava de tudo nele. O sorriso era apenas o que mais fazia o coração pular, sentia uma coisa parecida com alegria que enchia o peito. Se ele chegasse, o que ela faria? Correria e o abraçaria forte, com medo de que ele fosse embora de novo? Só de pensar nessa possibilidade, ficava nervosa. Não sabia com o que ficava nervosa, como fato de ele ir embora de novo, ou só de pensar nele parado na sua porta.

Larissa Fontes

"Entre por essa porta agora e diga que me adora, você tem meia hora pra mudar a minha vida.." (Adriana Calcanhoto)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Raro

Ele veio e só por vir, tinha que ser ele.
Encantamento, pureza, só coisas raras
Isso era ele..
Me perguntei o que poderia querer
Mas existem coisas que é melhor não saber,
O jeito é viver tudo isso.
Começa a me vir sensações,
Invadir certos sentimentos que pareciam dormir
E pensar se ele realmente existe
Raro.
Mas eu sei que existe
Vejo, sinto, sei.
Com quantas coisas mais ele vai me encantar?
Prefiro pagar pra ver.
O jeito realmente é viver tudo isso.

Larissa Fontes

Pétala

O seu amor
reluz que nem riqueza,
asa do meu destino;
Clareza do tino,
pétala;
De estrela caindo
bem devagar..
Ó meu amor,
viver é todo sacrifício feito em seu nome.
Quanto mais desejo um beijo seu,
muito mais eu vejo gosto em viver.

Por ser exato,
o amor não cabe em si;
Por ser encantado,
o amor revela-se;
Por ser amor,
invade e fim.

Djavan


Não sei se ao postar essa música eu consigo fazer com que essas palavras sejam sentidas, sentidas no seu sentido real e puro, no amor que esse cara descreve! Falar um palavrão pode até quebrar o clima, mas essa música, puta que pariiiiiiiiiiiiuuuuu! Invade e FIM!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A primeira vista

Andava sozinho, caminhava sem saber pra onde ir. Ela apareceu. Já estava confuso naquela noite, mil coisas passavam pela cabeça, sem que pudesse administrar, ou sequer perceber meus pensamentos. Ela me olhou fixo e a primeira coisa que me veio, foi que ela tentava me seduzir. Seria coisa da minha cabeça? Não havia uma pessoa sequer na rua. Me perguntei de onde ela tinha vindo e o que estava querendo me dizer com aquele olhar. Ela era diferente do que eu estava acostumado. Muito diferente. Eu estava apaixonado. Como podia estar apaixonado assim? Por uma mulher que não conhecia, não sabia nada sobre ela. Simplesmente nunca a tinha visto antes. Amor a primeira vista. Isso realmente existe? Ela só apareceu e eu me apaixono assim? Quem era ela?
Nos olhamos por mais um tempo. Ela era linda. Eu estava encantado. Não conseguia parar de olhá-la. Estava paralisado.
Depois recomecei a andar. Ela também. Nos cruzamos e continuamos nossos caminhos. O meu, ainda sem destino.

Larissa Fontes

quarta-feira, 2 de julho de 2008

À beira do mar aberto

e te imagino então parado sozinho sobre a faixa interminável de areia, o vento que bate em teu rosto, as mãos com os dedos roxos de frio enfiadas até o fundo dos bolsos, o vento e novamente o vento que bate em teu rosto, esse mesmo que me olha agora, raramente, teu olho bate em mim e logo se desvia, como se em minhas pupilas houvesse uma faca, uma pedra, um gume, teu rosto mais nu que sempre, à beira-mar, com esse vento a bater e a revolver teus cabelos e pensamentos, e eu sem saber o que me revolve agora quando teu olho outra vez escorrega para fora e longe do meu, entre tua testa larga de onde às vezes costumas afastar os cabelos com ambas as mãos, numa mistura de preguiça e sensualidade expostas, e ,quando teu olho se afasta assim, não sei para onde, talvez para esse mesmo lugar onde te encontravas ontem, à beira do mar aberto, onde não penetro, como não te penetro agora, mas é quando a pedra ou faca no fundo do meu olho afasta o teu é que te olho detalhado, e nunca saberás quanto e como já conheço cada milímetro da tua pele, esses vincos cada vez mais fundos circundando as sobrancelhas que se erguem súbitas para depois diluírem-se em pêlos cada vez mais ralos, até a região onde os raspas quase sempre mal, e conheço também esses tocos de pelos duros e secretos, escondidos sob teu lábio inferior, levemente partido ao meio, e tão dissimulado te espio que nunca me percebes assim, te devassando como se através de cada fiapo, de cada poro, pudesse chegar a esse mais de dentro que me escondes sutil, obstinado, através de histórias como essa, do mar, das velhas tias, das iniciações, dos exílios, das prisões, das cicatrizes, e em tudo que me contas pensando, suponho, que é teu jeito de dar-se a mim..

Caio Fernando Abreu