Vem, que eu quero te mostrar a minha janela, onde eu me deito embaixo e sinto os pingos d'água quando chove. No rosto. Arrepio. Pele com frio. Quero a tua mão e te conduzir ao meu quintal. Quero sentir o meu novo eu ao teu lado. Veja minha cortina com rosas brancas de seda. Passe o rosto nelas, é como nuvem. Por que demora? Há tempos que eu te espero mesmo sem saber. Quero apenas que você chegue. Chegue cheirando a cerveja, eu finjo não sentir. Você tem meia hora. Definitivamente, você tem meia hora. Não. Não, você tem mais sim. Tem a vida inteira. Eu fecho os olhos, levanto a cabeça e deslizo meu rosto pelas rosas-brancas-de-seda-da-minha-cortina e parece que eu estou no céu. Chegue mesmo de mau humor, eu finjo não ligar. A vida inteira. Me sento debaixo do pé de laranjeira com meu vestido florido e meu chapéu noir. Lembra? Tudo bem noir. Você gosta? Chegue. Essa noite não passa, parece que se pôs na janela e ri de mim. Me deito por entre o verde e sinto seu cheiro. Meu coração dispara, mas eu o ponho rédeas e o faço trotar normalmente. Feito um cavalo manso. São só as rosas da cortina, elas cheiram a você. Nuvens. Céu. Eu tenho o total controle sobre mim. Como se assim fosse. Quero ouvir o rangir do teu sapato estampado pisando nas pedras até chegar a porta. Cante um samba, dance uma ciranda e vista pedrarias. Eu visto saudade. Passou um vento na minha roseira da cortina. A cama se encheu de flor. Chegue. Chegue, pois tudo que eu faço agora é te chamar. Nada mais sou do que te chamar. A vida inteira.
Larissa Fontes