segunda-feira, 2 de março de 2009

Lenços coloridos - Parte I


Caravanas. Lenços voando, roupas coloridas. Mulheres e homens a dançar em volta de fogueiras. Eu olhava toda aquela gente maravilhada. Não era a primeira vez que me escondia entre todas aquelas carroças e ficava ali estática, deslumbrada com as cores que voavam com o balanço daquelas mulheres que dançavam tão envolventes. Os homens eram todos fortes, a maioria tinha cabelos longos, presos em rabos de cavalos na nuca e também dançavam.

Um rapaz moreno, sempre me chamava atenção. Acompanhava uma senhora na dança, aparentemente sua mãe. Batia palmas ritmadas, com os braços posicionados ao lado da cabeça, rosto reto, olhar fixo num ponto qualquer, nariz empinado e toda a graça do mundo naqueles movimentos.

Aquele povo tinha fama de agressivo, por isso era preciso cuidado, o que era difícil pra mim, já que ficava totalmente submersa naquele jogo de ritmos e passos cadenciados e se tornava uma tarefa árdua me preocupar em não ser vista. Eram poucas as vezes que eu podia me deliciar com aquilo tudo. Era a segunda vez que estavam aqui na minha cidade. Coisa rara essa, de armar acampamento num mesmo lugar mais de uma vez, ma mais tarde soube que o chefe do bando tinha negócios aqui.

Quando a dança parou, tive a impressão de que o rapaz moreno dirigiu o olhar pra mim. Fiquei assustada com o que podia acontecer. O que eu iria dizer? O que estava fazendo ali escondida atrás de todas as carroças? Corri, sem pensar em nada, nem olhar pra trás. Acho que só lembrei de respirar quando cheguei em casa. Meu coração pulava. Mas não pude esquecer a hipótese daquele olhar no meu.

Fiquei dois dias com medo de voltar lá e com mais medo ainda de voltar e não encontrá-los mais. O medo de voltar e eles não estarem mais, me venceu e eu fui.

Larissa Fontes

5 comentários:

gabriel disse...

Atmosfera única; sensibilidade nas sensações e expressões das personagens e tudo que vibra vivo ao redor, chegando até nós, que lemos, com uma rapidez leve e intensa. Alguns elementozinhos típicos da sua frota de bons escritos.
Quatro beijos meus!

Salve Jorge disse...

Entre lenços
Todos propensos
A dançar
Faz pensar
Se não é melhor se jogar
Se deixar
Naqueles festejos tão densos
Tão imensos
Que uma vez vistos
Irão nos habitar...

Luminosidade. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luminosidade. disse...

você foi. foi e encontrou nos braços do inconfundível rapaz, com incertezas de destinos, a certeza de um amor indestrutível. mesmo que inconcebível.

essa é a continuação que eu imagino!

e, sim, que venham os infinitos carnavais!

:*

Vitor Andrade disse...

e? a curiosidade surgiu! hehe
estou entre titãs [02]


vini pra vc:

'dentro da eternidade, e a cada instante.'