sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Uma noite de cara-enfiada-no-travesseiro


Ei, espera! Eu ainda tenho muito o que te falar. Aparentemente eu sou assim, meio "caradepoucosamigos", mas na verdade o que eu sinto só eu sei. Não falo pra ninguém porque eu tenho medo, cara. Sei que você não entende, nem garanto que saia daqui entendendo melhor alguma coisa. Mas agora eu preciso falar, não se levanta daí, por favor. Pede outra cerveja, tenta engolir sem pressa de me ver pelas costas. Eu sei que ela pode esquentar, mas não vamos pensar apenas nas coisas práticas e banais. Te chamei aqui nem sei porquê, já está me dando aquela coisa na cabeça, aquela coisa que quando me dá eu não consigo ornanizar nada, então saem essas coisas desesperadas, provavelmente incompreensíveis que eu tô falando. Me desculpa, cara, mas não se levanta, não sai pela porta desse bar, eu não sei se aguento outra cena assim, fica sentado, não precisa nem olhar pra mim se não quiser, mas me escuta. Você pode ficar calado também, pode fingir que não tá escutando, mas deixa que eu continue.
Como foi que a gente deixou chegar nesse ponto? Eu tô aqui, bebendo feito uma louca, tentando me explicar por coisas que eu nem sei, por coisas que não aconteceram só por minha culpa. No dia em que você foi embora, eu fiquei te esperando voltar pela porta que você mesmo deixou aberta, porque eu nem mesmo me dei ao trabalho de tirar a cara enfiada no travesseiro e ir fechá-la, de tomar coragem pra andar pela casa até a porta e ver que estava tudo no lugar, menos você.
Não queria levantar daquela cama, pra ver se dormia, se esquecia que eu poderia ter feito isso na hora, ter te pedido pra ficar, trancado a porta e jogado a chave pela janela, ter te amarrado até que eu soubesse o que fazer, o que dizer. Queria esquecer que eu só enfiei a cara nesse maldito travesseiro pra não te ver indo embora. Gritei pro travesseiro pra não ouvir você batendo a porta, o carro saindo.
Não queria ter que abrir os olhos e ver que os teus sapatos estavam ainda debaixo da cama porque você saiu com tanto desespero que nem se calçou. Não queria ver a toalha molhada que você deixou na ponta da cama. Não queria não ver teu carro na garagem na hora do almoço. Não queria ver que já estava na metade da manhã e você não tinha me ligado do trabalho pra dizer que não me acordou porque eu estava paracendo um anjo e dizer que agora estava tudo bem, que tinha sido só mais uma das milhões de discussões idiotas e normais. Não queria entrar na cozinha e não ver a tua chícara suja de café em cima da pia e que a nossa plantinha na sala estava seca. Não queria ver a minha cara inchada pela alcançada quase falta de lágrimas, resultado de uma noite inteira de cara-enfiada-no-travesseiro.
Não queria, não queria nada disso. Mas levantei e até tentei não perceber isso tudo. Tentei até ver um filme. Mas depois de um "Eu não vou embora por que eu prefiro estar aqui, brigando com você do que estar fazendo amor com qualquer outra pessoa" do filhadaputa do garoto de programa que se apaixona pela cliente e de mais duas intermináveis horas naquele apartamento que tinha se tornado além de enorme, totalmente vazio, escuro e frio, não consegui mais. Peguei o carro e sai dirigindo. E bebendo. No começo não sabia onde ir e nem o que fazer. Mas eu precisava te ver e eu sabia que ia te encontrar aqui. Queria só te ver, só passar e ver como estava a sua cara depois de tudo, mas aí eu te vi aqui sentado sozinho, quase cheguei a ver lágrimas nos teus olhos e eu tive que vir aqui, foi quase involuntáriamente. E ainda é involuntáriamente que essas coisas estão saindo de mim..

Larissa Fontes

Um comentário:

Daniel e Nayanna Amaral disse...

Lah...tá lindo! Amei! Vc botou pocando nesse!!! escreve mt bem! adorei amiga! continue assim. uhuuhu
te amoOoOOoO
minha irmã, mãe, anja, prima, amiga, tia, vó. ahuahuaa amiga multiutilidades kkkkkkkkkk ^^.

=**