quinta-feira, 16 de outubro de 2008

53 passos


Tem um hotel na esquina da minha casa. Às vezes eu fico lá e venho andando. São 53 passos até minha casa. Eu olho pra o monte de janela que tem lá e imagino que você chegou e está alí. Olho pra uma do canto direito e te vejo. Vejo uma sombra, mas sei que é você. Eu paro em frente à árvore cortada e olho pra cima. Você sumiu da janela. Algo me faz olhar pra trás e você está ali, parado na esquina. Eu não sei nem se consigo sorrir, e no seu rosto, existe uma expressão que eu não consigo desvendar. Vou andando na sua direção com a maior cara de boba que eu consigo fazer. Agora a gente está se olhando bem de pertinho. Não vejo mais ninguém na rua. Não estranharia se aquela música começasse a tocar.


- O que você veio fazer aqui? - Foi a única coisa que saiu da minha boca.

Você me abraça e me aperta. – Isso!

Ficamos um bom tempo assim, e o mundo parecia tão calmo. Nada de mal poderia acontecer em lugar nenhum. Até que nos deu um estalo, você me pegou pela mão e fomos andando em direção a praia. Acho que a ficha ainda não tinha caído, porque não falamos nada até chegar. Só calados, de mãos dadas, sentindo um ao outro. Chegamos e nos sentamos na areia. Ainda ficamos um pouco sem saber o que falar, mas depois de um beijo, tudo fluiu. Parecia que você sempre estivera ali, era como se você nunca tivesse saído do meu lado. Eu te contava do meu dia, do meu teatro, das minhas artes. Você me falava do teu instrumento, do teu trabalho. Sorríamos o tempo inteiro, o sorriso só dava lugar às gargalhadas.

A lua sabia que você ia chegar. Se arrumou toda pra te receber, estava cheia, grande e alta e as estrelas a faziam companhia. Fazia uma luz linda no mar, tudo se refletia nele. Tudo estava enfeitado. Nos deitamos na areia pra ver as Três Marias e ficamos algum tempo calados. Agora foi você quem quebrou o silêncio.

- O problema de se ver a magia da vida nas coisas é sempre precisar delas pra se orientar.

- Como, lindo?

- Não é nada demais. Só te falei isso. Deu vontade!

Falamos sobre os poemas, os poetas, as palavras, os sentimentos, os nossos sonhos, o amor. Quando você falava, eu ficava te ouvindo calada e atenta, com sede de ouvir cada palavra, com ânsia de saber o que você pensava sobre determinado assunto e ficava impressionada com a sua facilidade em transpor o sentimentos em palavras. Te ouvia feito um aprendiz ouve o mestre. E te ouviria sempre, todos os dias, todas as horas, incansavelmente e exageradamente.

As estrelas, que nos deitamos para admirar, agora davam lugar ao sol, que a nós, já adormecidos na areia branca da praia, veio acordar.

Foi assim que você veio me ver.

Tudo isso durante 53 passos, da esquina até a minha casa. Na minha cabeça. Escutando Seu Jorge no mp4. Eu posso realmente te enxergar no escuro.

Larissa Fontes

Um comentário:

Anônimo disse...

:( cd suas palavras de Julieta?