Eu sempre achei a minha vida parada. Via as novelas na televisão e fiquei muitas vezes me imaginando naqueles casos. Mas só ficava imaginando mesmo, nada de desejar realmente, por não acreditar mesmo. Acho que com o tempo, fui perdendo a esperança. Triste isso não é? Mas acontece na vida, isso não é novela não.
Vinha pra cá, costumava vir sempre na mesma hora, lá pelas dez horas da noite. Deitava em cima desse carro e ficava olhando o céu. Me acalmava, sabe? Nem ligava que era perigoso, esquisito. Nunca acontecia nada. Quando dava essa hora, me batia uma solidãozinha, um aperto aqui dentro e eu saía. Nesse tempinho que eu passava sozinha, era bom. Eu ficava pensando, pensando. Eu sorria, até! Imaginava mil situações, sonhava acordada. Era o único momento de amor que eu tinha nos meus dias vazios. Pelo menos do que eu imaginava que fosse amor.
Até que você apareceu. Era um dia normal, no qual em seu decorrer, eu só ansiava realmente pelo meu momentinho. Chegou a hora, e eu fui caminhar. O céu estava bonito, a noite estava bem escura e as estrelas cintilavam, dava pra sentir o brilho. Como sempre, ninguém na rua, só o vigia do banco central, sentado em sua cadeira, com o pescoço torto, já dormindo. O silêncio era tanto, que só ouvia meus próprios passos, pisando nas pedrinhas do calçamento. Era uma caminhada considerável até o meu lugar, mas eu não me incomodava, tinha muito pensamento pra pensar ainda. Não tinha pressa. Ia passando pela pracinha, olhando pro alto, entretida com as estrelas, quando ouvi uma respiração. Num susto, olhei pros lados. Vi você. Sentado num banquinho, parecia distraído. Parei, olhei você por uns instantes, até gravar seu rosto na cabeça e continuei meu caminho.
Quando me deitei no carro, e me dei aos meus devaneios, o que antes eram corpos sem rostos (ou os rostos dos atores da novela), agora eram o seu rosto. Me surpreendi comigo mesma.
Passaram-se alguns dias e mais ou menos uns quatro dias depois daquele, quando cheguei aqui, vi uma pessoa sentada. Era você. Pensei em ir embora, mas pensei “esse lugar é meu, não posso ir assim”. Criei coragem, vim e me sentei do seu lado. Primeiro não falamos nada, ficamos só olhando pra frente. De vez em quando eu arriscava uma olhada pro lado, mas quando você olhava, eu ficava com vergonha e voltava a olhar pra frente.
Sem saber o que fazer, me deitei. Você me imitou. E falou. E falamos até perder a noção da hora.
Sem combinar, nos encontrávamos sempre. E o tempo foi passando. No meio de uma conversa normal, um beijo. Inesperado. Enquanto eu falava, olhando o céu e totalmente entregue, você me beijou. Fiquei perdida, sem saber o que fazer, nem o que pensar. Já estava apaixonada por você, sem saber o que era. Desde o primeiro dia em que só te vi. Mesmo sem trocar uma palavra sequer.
Hoje, com você aqui do meu lado, eu consigo ser diferente. Sentir tudo. Consigo sentir tudo. Como as coisas devem ser. E fico tentando entender o que se passa na sua cabeça. Eu, antes uma mulher vazia, carente de sentimentos que nem sabia nomear, me vejo agora refém dos mais belos encantamentos que nunca pensei existirem. O tempo me maltratou, mas me fez entender que saber esperar é uma das mais importantes lições que podemos levar dessa vida. Porque o que era meu, iria chegar na hora certa. No tempo que tivesse de ser.
Quando você chega e eu sinto esse seu perfume, é como se eu fosse uma panela e dentro de mim tivessem pipocas estourando. Eu sorrio só de pensar!
Larissa Fontes
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